A Polícia Federal investiga se a Agência Brasileira de Inteligência (Abin) monitorou de forma ilegal um servidor do Instituto Brasileiro de Meio Ambiente e Recursos Naturais Renováveis (IBAMA) que encabeçou operações contra garimpeiros e madeireiros ilegais na Amazônia durante o governo de Jair Bolsonaro.

Em matéria exclusiva, o jornal O Globo revelou que a Abin utilizou um programa secreto chamado FirstMile para monitorar a localização de alvos pré-determinados por meio dos aparelhos celulares.

O servidor que despertou a ira de Bolsonaro

Hugo Ferreira Netto Loss era coordenador de Operações de Fiscalização do Ibama e foi exonerado do cargo em 2020, na metade da gestão Bolsonaro.

Hugo coordenou operações no Pará de combate ao garimpo ilegal que despertaram a ira do então presidente, pois o Ibama após fazer a apreensão do maquinário utilizado pelos garimpeiros para as atividades ilegais, destruía os equipamentos, prática comum nesses tipos de operações e ato que é previsto na lei.

Foto: Washington Costa/ASCOM/ME

“Quem é o cara do Ibama que está fazendo isso no estado lá? Se me derem as informações, eu tenho como…” disse Bolsonaro sem concluir a frase, aos garimpeiros que o abordaram na entrada do Palácio da Alvorada no final de 2019.

Milhares foram monitorados

Ainda segundo o jornal O Globo, a Abin utilizou durante o governo Bolsonaro um sistema secreto com capacidade de monitorar, sem autorização judicial, até 10 mil pessoas por ano, sendo necessário apenas o número de celular da pessoa alvo.

Com o número em mãos, o programa mostrava todos os passos e localizações do proprietário do contato telefônico.

A lista completa das pessoas espionadas irregularmente ainda não é conhecida, mas a PF já identificou indícios de que adversários políticos do ex-presidente foram alvo: Jean Wyllys, ex deputado pelo PSOL; Glenn Greenwald então jornalista investigativo pelo The Intercept e David Miranda, que faleceu em 2022 durante seu mandato como deputado federal pelo PDT.

Foto: Divulgação IBAMA

Em nota o Ibama classificou como “muito grave” que um de seus servidores tenha sido monitorado justamente por fazer uma atividade prevista para seu cargo e afirmou que “Iremos aguardar a finalização das investigações”.