A eliminação do Brasil para a Croácia nos pênaltis na Copa do Mundo de 2022 mostrou que para conquistar o sonhado hexacampeonato, a Seleção Brasileira precisa revisitar sua história e lembrar valores sagrados dos últimos cinco títulos mundiais

Foto: Em 1958, com apenas 17 anos, Pelé dribla suecos e marca para o primeiro título brasileiro em Copa do Mundo. Foto: Fotbolls-VM 1958 Sverige Finalen Sverige-Brasilien 2-5

Por Mizpá Mariano Barros

A história do futebol no Brasil vai muito além de técnica, estratégia e tática de jogo. O jeitinho brasileiro aparece dentro das quatro linhas no drible e na espontaneidade.

Isso porque a capoeira e o samba foram grandes aliados na implementação do esporte no Brasil. A ginga foi adaptada e atletas transformaram dança em jogadas para se livrarem dos marcadores.

Segundo Vitor Canale, “o futebol é um jogo insinuante, de dribles, sortilégios e surpresas, onde a chegada ao gol se dá, não pelos meios já instituídos, mas por inovações genuinamente nacionais, um saber brasileiro.”

Porém, cada vez mais, vemos uma padronização no futebol e o Brasil está deixando a qualidade que conquistou o mundo cinco vezes. Durante a Copa, a Canarinho teve uma taxa de dribles de 6.4 por partida, inferior a França que apresenta um percentual de 8.7.

A falta da “arte do engano”, mencionada pelo jogador Felipe Luis em um programa de TV, marcou um setor ofensivo brasileiro estático com carência de criatividade e jogadas ensaiadas. E sem um aproveitamento nas finalizações, o Brasil deixou a desejar em mais uma copa como favorito.

Garrincha brilha e Seleção desponta conquistando o bicampeonato em 1962. Foto: Lance

A trajetória brasileira pela fase de grupo já mostrava isso. Contra Sérvia e Suíça, que possuem características e uma escola similares a Croácia, o Brasil já tinha sofrido para marcar gols e brilhar em campo. Só que quando não poderia mais falhar, a seleção não conseguiu se adaptar ao jogo croata, que lutava por apenas uma bola. E conseguiu.

A Croácia jogou da mesma forma. Marcação no meio-campo, contra-ataque rápido com a habilidade de Modric, Perisic e Kovacic. Habituada a jogos longos desde 2018 e calejada com prorrogação, a seleção europeia só esperava o tempo passar para apresentar a frieza dos pênaltis e a maestria do goleiro Livakovic.

Rivellino defendendo a Seleção contra a Itália na final da Copa de 70 na Cidade do México no tricampeonato brasileiro. Foto: Getty Images

Com um grande número de bons atacantes na convocação, estava claro que as defesas adversárias iriam se fechar e a marcação seria uma barreira que nossos atletas deveriam driblar. Isso aconteceu durante a Copa, os gols marcados pelo Brasil foram construídos e o último de Neymar mostrou que habilidade, criatividade e ginga não faltam para o ataque brasileiro.

Mas, os quatro minutos que destruíram o sonho do hexa deixaram explícito outras características que faltaram no jogo verde e amarelo: a manha e a retranca.

Algo comum no futebol nacional, o regulamento embaixo do braço, os chutes para fora, embasar as jogadas e segurar a bola na defesa nunca foram tão desejados pelo torcedor brasileiro, principalmente com o Tite.

O técnico que conquistou há dez anos o Mundial de Clubes com o Corinthians no 1 a 0 contra o Chelsea, em um esquema “retranqueiro”, pecou na defesa nos últimos minutos de jogo.

Romário dribla goleiro sueco Ravelli na Copa de 1994. Foto: Getty

A convocação de Daniel Alves e de nove atacantes nunca foram tão questionadas, já que o técnico teve que improvisar na defesa, sem um substituto para Alex Telles, um Alex Sandro ainda contundido e um defensor já amarelado. Dentro de campo, jogadores mantêm o jogo ofensivo e uma tentativa falha do Brasil garante à Croácia viva na Copa com um contra-ataque rápido e um chute Petkovic, que com desvio, tirou Alisson da jogada.

Denílson deixa quatro jogadores turcos para trás na conquista do Penta. Foto: Getty Images

O final da Canarinho na Copa de 2022 veio nas penalidades máximas e a sexta estrela não irá brilhar por, pelo menos, mais quatro anos.

O que a Argentina fez que o Brasil não conseguiu?

Diferente do Brasil que deixou os croatas jogarem, principalmente no meio-campo, o técnico argentino Lionel Scaloni colocou Enzo Fernández grudado em Luka Modric. Mesmo com mais posse de bola, a Croácia foi engolida pela Argentina com a troca de um atacante, Di Maria, pelo volante Paredes.

O jogo da semifinal entre os hermanos e a Croácia mostrou que drible leva a bola ao gol e é isso o que importa. A mudança tática, a efetividade argentina e o brilho de Messi e Julián Álvarez consagraram La Albiceleste.

Messi baila com bola nos pés e Argentina carimba sua vaga na final da Copa do Mundo de 2022 contra a França no domingo dia 18 de dezembro de 2022. Foto: Enio Bianchetti/ Photo Press/ Folhapress

O confronto entre Croácia e a surpreendente seleção marroquina pelo terceiro lugar aconteceu ontem (17) no Estádio Internacional Khalifa, ao meio dia no horário de Brasília. A seleção croata garantiu a terceira posição pelo placar de 2 a 1 em um jogo eletrizante. Os europeus saíram na frente e com menos de dois minutos, a seleção africana empatou. O golaço da vitória croata foi de fora da área com Orsic.

Já na disputa pela taça de campeão, a Argentina enfrentou a França neste domingo, às 12 horas, no Estádio Lusail. As duas seleções brigaram pelo tricampeonato. Le Blues não conseguiram nos penaltis contra o time latino-americano e Messi conquista sua medalha de primeiro lugar com a seleção argentina.

Messi e Mbappé disputaram não só a taça, mas também o Craque da Copa, artilharia e possivelmente, a Bola de Ouro. E outra vez, a história é marcada com mais um marco do ET. Messi se iguala a Maradona com uma Copa do Mundo e abre a disputa de ser o maior jogador argentino.

Texto produzido para cobertura colaborativa da NINJA Esporte Clube