No ranking, Brasil assume a 5ª posição; Combate ao desmatamento deve ser ação prioritária do novo governo

No enfrentamento à crise climática, novo governo terá que focar esforços no combate ao desmatamento (Vinicius Mendonça/Ibama)

 

Por Nicole Grell Macias Dalmiglio, da cobertura colaborativa NINJA na COP27

Em novembro do ano passado (2021), na Convenção das Partes da ONU (COP 26) em Glasgow, na Escócia, os líderes mundiais se reuniram para acordar as próximas ações no combate às mudanças climáticas. O documento de resolução foi aprovado pelos 193 países-membros após algumas suavizações nos termos do acordo, foi o primeiro a prever uma redução gradativa dos subsídios aos combustíveis fósseis e do uso do carvão.

Porém, a expectativa, é que o consumo de carvão só na União Europeia aumente 7% em 2022, além do salto de 15% do ano passado. No entanto, a Europa representa cerca de 5% do consumo global de carvão. Só a China e a Índia juntas consomem o dobro da quantidade de carvão comparado com todo o resto do mundo. A implementação e progresso de ações contra as mudanças climáticas tem sido extremamente vagarosos mesmo com todos os olhares dos governantes de todo o mundo voltados para as crises globais de energia e econômica.

O Programa das Nações Unidas para Meio Ambiente (PNUMA) divulgou em 27 de outubro deste ano o “Relatório Sobre a Lacuna de Emissões 2022: A Janela que se fecha – Crise climática pede rápida transformação da sociedade”. Nele fica constatado que os compromissos atuais dos governos para conter o aumento da temperatura global são inadequados e insuficientes.

De acordo com os dados apresentados no relatório, as atuais políticas climáticas colocam o mundo rumo a um caminho nítido para atingir um aumento médio de temperatura de 2,8ºC ainda neste século.

Em relação ao Brasil, ainda podemos ter alguma esperança devido a alterações importantes no cenário internacional. Uma delas é a vitória de Luiz Inácio Lula da Silva, que pode frear a intensa destruição que a floresta amazônica e outros biomas extremamente importantes para o equilíbrio climático vem sofrendo. A segunda, mas não menos importante, é a nova legislação dos EUA para a redução da inflação considerada como o maior investimento em soluções climáticas da história dos Estados Unidos.

Aqui, trazemos uma análise: dos maiores emissores globais de gases de efeito estufa, quem realmente está contribuindo e quem está ficando para trás na luta contra às mudanças climáticas? 

Brasil é o quinto maior emissor mundial de gases do efeito estufa. Em 2021, dos 36,4 bilhões de toneladas de CO2 liberadas pelo planeta, mais de 2 vieram do território brasileiro. No ranking das nações que mais poluem, o país só fica atrás da China, Estados Unidos, Índia e Rússia.

Brasil: sob nova direção!

O Brasil possui em seu território um dos maiores instrumentos para as ações de combate a crise climática, um enorme bioma amazônico com potencial para absorver uma quantidade gigantesca de carbono. 

No entanto, de acordo com os dados do Sistema de Alerta de Desmatamento (SAD) do Imazon (Instituto do Homem e Meio Ambiente da Amazônia), no período de janeiro de 2022 a agosto do mesmo ano, cerca de 7.943Km² foram derrubados na Amazônia Legal, correspondendo a maior área desmatada nos últimos 15 anos. 

Com a vitória de Lula, o Brasil se mostra ao cenário internacional como pronto para retomar à vanguarda da pauta ambiental e do combate às mudanças climáticas. Em sua participação na cúpula das Organizações das Nações Unidas nesta quarta-feira (16/11/2022), o presidente eleito afirmou que irá propor a realização da Cúpula dos Países Membros do Tratado de Cooperação Amazônica, para o Brasil, a Bolívia, Colômbia, Equador, Guiana, Peru, Suriname e Venezuela possam debater de forma soberana ações para promover o desenvolvimento integrado da região, com inclusão social e responsabilidade climática.

EUA: as tentativas de liderar o combate a crise climática

Segundo o estudo do World Resources Institute (WRI), os Estados Unidos se mantiveram em primeiro lugar no ranking dos maiores emissores de CO2 nos últimos 160 anos, sendo responsáveis pela emissão de aproximadamente 577,578 toneladas de CO2 entre os anos de 1850 e 2016 – em emissões totais o país só foi ultrapassado pela China em 2020 – os dados não englobam na conta as emissões provenientes do uso da terra.

Em contrapartida, a potência estadunidense aprovou esse ano (2022) novas legislações para o enfrentamento das mudanças climáticas. A denominada “Lei de Redução da Inflação” tem o objetivo de reduzir as emissões de gases nocivos em até 40% até 2030, visando tornar a energia verde como o novo padrão para os setores elétrico, industrial e de transporte. O pacote de energia limpa e clima de cerca de 370 bilhões de dólares é o maior investimento climático de toda a história dos EUA, foi aprovado em um momento em que estão sendo vistas ondas de calor intensas acompanhadas de inundações por todo o país. 

O projeto também prevê incentivos fiscais para redução do custo da eletricidade com mais energias renováveis com o objetivo de estimular os consumidores americanos a mudar a eletricidade para abastecer suas casas e meios de transporte. No entanto, em meio ao contexto da crise de energia, o atual presidente estadunidense Joe Biden liberou ao mercado um total de 15 milhões de barris de petróleo das reservas americanas e liberou novos arrendamentos para perfuração de petróleo e gás. Outro fator importante, foi a visita da democrata Nancy Pelosi à Taiwan que fez com que a China encerrasse sua cooperação com os EUA sobre o clima, esse rompimento pode vir a afetar as negociações internacionais sobre a temática de forma intensa.

China: o poluidor que investe em renováveis

A China foi se elevando dentro do ranking dos maiores poluidores do mundo de forma mais recente, com ênfase nos últimos 15 anos. No entanto, em 2019 a China emitiu quase 2.5 vezes mais CO2 que os Estados Unidos, sendo responsável por cerca de 27% das emissões globais nesse ano, e também por metade das queimas mundiais de carvão, e segue relutante em reduzir esse quadro alicerçado pela justificativa da escassez de energia. Em 2020, e de acordo com a Enerdata, os combustíveis fósseis representaram 87% da matriz energética doméstica da China, sendo 60% proveniente do carvão, 20% do petróleo e 7% do gás natural.

Por outro lado, a China também é hoje o maior investidor em energia renovável do planeta, cerca de um quarto dos carros recém-emplacados no país são elétricos. Em maio deste ano, o presidente Xi Jinping se comprometeu em plantar 70 bilhões de árvores até 2030. O país também passou a fomentar o uso das energias renováveis de forma interna, o que intensificou a produção em larga escala desses materiais e barateou o custo de placas solares por todo o mundo.

No decorrer da Assembleia-Geral da ONU em setembro de 2020, a China se comprometeu a neutralizar todas as suas emissões de gases do efeito estufa em um prazo de 40 anos. Já em 2021, os chineses investiram cerca de 276 bilhões de dólares em medidas de transição energética, correspondente a um terço dos investimentos mundiais para esse tipo de solução no mesmo período.

União Europeia: da liderança ao desastre

A União Europeia têm sido um grande exemplo de protagonismo e combate às mudanças climáticas, mas a invasão da Ucrânia pela Rússia e a queda no fornecimento energético para o bloco solapou as iniciativas para conter a crise climática. Em meio aos discursos proferidos na COP26, em 2021, a então chanceler alemã Angela Merkel declarou que “não estamos onde deveríamos estar” ao tratar das iniciativas de combate às mudanças climáticas. 

No entanto, cerca de um ano depois, uma das nações líderes nas iniciativas para reduzir as emissões de carbono globais, a Alemanha se encontra em uma embaraçosa situação de religar suas usinas altamente poluentes de carvão. A primeira a entrar em funcionamento foi a Mehrun, localizada nos arredores de Hanover, que havia sido desativada em dezembro de 2021, mas voltou a funcionar em agosto de 2022. Ao todo são cerca de trinta instalações religadas esse ano.

O Climate Action Tracker classificou as metas climáticas, políticas e financeiras da União Europeia como “insuficientes”, e até o momento o bloco não atualizou a ONU com seus atuais planos de Contribuições Nacionalmente Determinadas. Por outro lado, o Pacto Ecológico Europeu, lançado em dezembro de 2019, possui como eixo central a “Lei Europeia em Matéria de Clima”, responsável por traduzir os compromissos políticos assumidos pela UE quanto ao clima em obrigações legais, com o intuito de reduzir as emissões de carbono com vista a 2030 em 55%. Vamos ver se a pauta climática voltará a ser uma prioridade para o continente ou se a crise energética continuará a roubando a cena na arena internacional.

Índia: um gigante controlado pelo carvão

A Índia foi um dos poucos países que publicaram metas climáticas atualizadas em 2022. O país se comprometeu a reduzir a intensidade de emissões de gases poluentes em 45% até 2030, e que cerca de 50% da energia instalada em seu território seja de origem renovável. 

Em 2021, a Índia estava na quinta posição entre as nações que mais despejam gases que contribuem para o aquecimento global na atmosfera, ficando atrás dos EUA, China, Rússia e Alemanha, segundo o World Resources Institute. Apesar da Índia ter a segunda maior população mundial, as emissões de gases per capita são menores que as de outras grandes potências. Enquanto o país asiático emitiu 1.9 tonelada de CO2 por habitante em 2019, os EUA emitiram cerca de 15.5 toneladas.

Mas o plano da Índia de reabrir 100 minas de carvão – um dos combustíveis fósseis mais poluentes – se concretiza em uma verdadeira barreira para suas ambições dentro da pauta ambiental. De acordo com Nvroz Dubash, do Centro de Políticas Públicas e consultor climático da ONU, as tarifas sobre o carvão contribuem de forma positiva para o financiamento da infraestrutura essencial, ainda não se sabe da onde viria uma compensação para o país com a perda dessa receita.