A categoria tem se mobilizado em redes sociais para uma greve nacional a partir do dia 1º de setembro por melhores condições de trabalho

Recenseador na região central do Rio. Foto: Tânia Rêgo/Agência Brasil

Por Mauro Utida

Questões como a remuneração atrasada e inadequada, o corte de 75% das verbas de divulgação do censo e o número insuficiente de servidores – resultando em suporte inadequado ao pessoal temporário -, são apenas alguns dos problemas relatados pelos recenseadores contratados temporariamente pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) para a coleta do Censo Demográfico 2022. A categoria tem se mobilizado em redes sociais para uma greve nacional a partir do dia 1º de setembro por melhores condições de trabalho.

O IBGE chegou a divulgar um pedido público de desculpas aos recenseadores, em postagem em suas redes sociais na última terça-feira (23). Na publicação, o instituto reconhece o atraso do pagamento da ajuda de treinamento e de locomoção, e também a demora na liberação do pagamento do trabalho de coleta.

“Agradecemos o empenho e a dedicação de todos os Recenseadores com o #Censo2022 e pedimos desculpas pela demora na liberação do pagamento do trabalho de coleta e transtornos causados pelo atraso do pagamento da ajuda de treinamento e de locomoção. Em breve, informaremos sobre mudanças e ajustes nos processos de pagamento”, diz o texto da postagem do perfil oficial do IBGE no Twitter, Facebook e Instagram.

O IBGE informou que foram contratados cerca de 160 mil recenseadores e, atualmente, mais 10 mil estão em treinamento. Os recenseadores estão em campo desde 1º de agosto coletando informações para o Censo Demográfico em todos os cerca de 75 milhões de lares brasileiros, nos 5.570 municípios do País. Esse trabalho começou com um déficit estimado de 15 mil entrevistadores, que o IBGE ainda tentava recrutar para alcançar o número ideal de 183 mil funcionários temporários.

Na semana passada, o IBGE informou ter efetuado 6.550 rescisões de contratos de trabalhadores temporários recrutados para o Censo Demográfico 2022. As desistências dos trabalhadores ocorreram em meio ao atraso de pagamentos, mas também relatos de agressões e hostilidade contra os recenseadores por parte de moradores que deveriam prestar informações para o levantamento censitário. O órgão informou que as rescisões representavam 4,7% do total de contratados, “número dentro do previsto” e “sem risco para a operação”.

Quanto a possíveis impactos das dificuldades na coleta sobre o cronograma do Censo, o IBGE afirma que o período corrente da operação de campo é de 1º de agosto a 31 de outubro. “O Instituto não especula sobre prorrogação”, declarou.

O sindicato nacional dos servidores do IBGE (ASSIBGE) informou que não tem qualquer participação na mobilização dos recenseadores, mas entende que se tratam de pautas legítimas, que refletem problemas que há muito já apontados pela organização sindical. “A ASSIBGE espera que se possa chegar a uma solução rápida, justa para com o recenseadores e sem prejuízos a operação censitária”, informou.

Atraso por corte de verbas

Realizado a cada dez anos, o Censo Demográfico visita todos os domicílios brasileiros. A operação deveria ter ocorrido em 2020, mas foi adiada em decorrência da pandemia. A falta de destinação de verbas pelo governo de Jair Bolsonaro também foi um obstáculo. Em 2021, o orçamento não apresentou os recursos necessários para a condução do Censo, que acabou cancelado novamente, mas desta vez sob uma determinação do Supremo Tribunal Federal (STF) de que ocorresse em 2022.

A operação censitária foi orçada inicialmente pela equipe técnica do IBGE em mais de R$ 3 bilhões para ir a campo em 2020. Em meio a pressões do governo pela redução no orçamento, os questionários originais foram enxugados, e a verba encolheu para R$ 2,3 bilhões. No ano de 2021, o valor de apenas R$ 53 milhões no orçamento sancionado pelo presidente Jair Bolsonaro inviabilizava até os preparativos. Mais tarde, após a decisão do STF, o IBGE conseguiu assegurar uma complementação orçamentária para os trabalhos preparatórios em 2021 e a verba para a coleta em 2022.

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