Criado pela fotógrafa Hevelin Costa, o projeto resultará em uma exposição coletiva em janeiro de 2024

O Laboratório FotoNem é realizado no Centro Municipal de Artes Hélio Oiticica no RJ (Foto: FotoNem | Hevelin Costa)


Por Rod Gomes

Com o objetivo de reescrever as histórias de pessoas que foram relegadas a um lugar de sofrimento e exclusão, o projeto FotoNem contribui para o desenvolvimento da arte, linguagem, da comunicação, das relações sociais e do empreendedorismo cultural das comunidades LGBTQIAPN+ no Rio de Janeiro. Criado e dirigido pela fotógrafa Hevelin Costa, desde junho deste ano o projeto fotográfico ocupa o Centro Municipal de Artes Hélio Oiticica nas tardes de quarta para o curso livre que atende cerca de 30 pessoas LGBTQIAPN+ em situação de vulnerabilidade.

“Quando a CasaNem surgiu eu entendi a importância de ter formação em fotografia pra comunidade LGBTQAPN+ porque você via muito fotógrafo ‘cishétero’ indo fotografar as pessoas que viviam ali na casa. As pessoas participavam do projeto mas a gente não sabia pra onde iam essas fotos, não tinha um contrato”, contou Hevelin, em entrevista ao podcast Papo Reto, da Rádio Roquette-Pinto. Com esta percepção, Hevelin viu uma oportunidade de capacitação, possibilitando a geração de renda, autonomia financeira e narrativa destas pessoas que em sua maioria fazem parte das comunidades trans e travestis em situação de vulnerabilidade.

Entre aulas expositivas que abordam conceitos fundamentais da fotografia, discussões em torno da fotografia e gênero, fotografia-expressão, arte e política na fotografia através da performance, o projeto que conta com o apoio do Centro Municipal de Artes Hélio Oiticica, também possui em sua programação um sarau aberto ao público e visitas externas a museus e monumentos históricos do Rio de Janeiro.

“Foi muito interessante observar a turma olhando pra esses espaços como de possibilidades de criação de imagem. A gente foi pesquisando tanto o aspecto de composição de imagem, tanto como que se organiza pra fotografar, esses aspectos técnicos, quanto o que significa fotografar na rua”, contou Íra Barillo, professore do projeto, após uma visita externa que percorreu espaços históricos do centro da cidade.

Contemplado pelo edital do Programa de Fomento Carioca (FOCA) de 2022, promovido pela Secretaria Municipal de Cultura do Rio de Janeiro, o projeto garante a permanência de suas pessoas estudantes com uma bolsa de apoio, assim como um auxílio para as passagens e alimentação no local. No entanto, Hevelin conta que seu quadro de docentes pertencentes as comunidades LGBTQIAPN+, e em sua maior parte trans, é de suma importância para que a turma se sinta à vontade em estar presente nas aulas.

A presença de pessoas das comunidades na posição de docência pôde ser percebida logo no início das aulas em 7 de junho. Ministrada pela atriz, escritora, performer e mulher trans, Maria Lucas, a aula inaugural abordou técnicas de relaxamento e composições de imagens corporais individuais e coletivas.

Para Vanessa Musch, que marca sua presença digital através do perfil Lente de Pobre, ter sido convidada como docente do FotoNem foi algo “extremamente importante e necessário” por possibilitar o protagonismo de pessoas LGBTQIAPN+ em situação de vulnerabilidade, mudando a lente de posição e deixando-as expressarem seus próprios sentimentos e criatividades.

“Eu acho que politicamente, trabalhar a construção da imagem nesse cenário de potências e com um saber muito característico deles, acrescenta muito pra sociedade”, disse a ativista visual Vanessa Musch.

Este protagonismo também se destaca para o ator e arte educador Anderson Barreto que, no curso, evidencia às pessoas participantes a importância das narrativas na fotografia. Anderson, que também é contador de histórias, explica que a prática traz consigo muitas perspectivas e possibilidades dentro da fotografia. “Tem um ditado popular que diz que ‘uma imagem vale mais do que mil palavras’. Eu não sei se eu concordo exatamente com isso, mas eu acho que ela vale tanto quanto as palavras. Então, aqui no meu encontro a gente vai aliar as palavras, as histórias e a imagem”, afirma.

Os trabalhos resultantes dos encontros no Laboratório FotoNem visam a criação de um repertório que integrará uma exposição coletiva, com imagens produzidas pela turma.

Em entrevista ao Planeta FODA, Hevelin destaca que a seleção das obras acontecerá de maneira colaborativa, já que “a curadoria faz parte do processo de aprendizagem da turma”. A exposição está prevista para ser realizada em janeiro de 2024 no Centro Municipal de Artes Hélio Oiticica, localizado no centro do Rio de Janeiro.

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