Empresários e agentes políticos podem ser financiadores de atos golpistas, aponta MPF

Hang entre Dalçoquio e Crestani, empresários que apoiam atos antidemocráticos. Foto: Reprodução

Pelo menos 12 empresários e agentes públicos de Santa Catarina, entre eles um vereador, foram identificados por financiar e organizar os bloqueios ilegais em rodovias federais e estaduais durante atos antidemocráticos contra o resultado das eleições de outubro. A informação é do Ministério Público, que não divulgou os nomes dos investigados.

Os dados e informações constam em relatório sigiloso do Ministério Público de Santa Catarina que foi entregue na terça-feira (8) ao presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), ministro Alexandre de Moraes.

A Agência Pública apurou que Luciano Hang, um dos mais fiéis aliados de Jair Bolsonaro (PL) nos últimos quatro anos, e outros empresários catarinenses, como Emílio Dalçoquio, que ficou conhecido por incentivar a greve de caminhoneiros em 2018, tiveram ativa participação nas manifestações golpistas que acontecem no estado desde o dia 30 de outubro. Um documento da Polícia Rodoviária Federal (PRF) ao qual a reportagem teve acesso com exclusividade, aponta que caminhões a serviço da Havan foram enviados para bloqueios.

Hang e Dalçoquio participavam de um grupo de WhatsApp de empresários bolsonaristas em que foi defendido um golpe de estado caso Lula ganhasse a eleição. O episódio foi revelado pelo colunista Guilherme Amado, do Metrópoles, em agosto. Os dois também são aliados do governador eleito com o apoio do presidente, Jorginho Mello (PL-SC), e tiveram papel importante na campanha de Jair Bolsonaro em Santa Catarina – Luciano Hang doou R$ 1,02 milhão a Bolsonaro. O presidente teve 69,27% dos votos no estado.

Também próximo de Dalçoquio e Hang, o dono do grupo Luke – que dentre outras atividades, fornece peças e acessórios para caminhões – Luiz Henrique Crestani, fez questão de publicizar o apoio às manifestações contra a democracia. Ele postou nos stories do Instagram no dia primeiro, que os veículos de sua empresa estavam nos bloqueios: “Nossos caminhões da @lukelogistica estão parados em Palma Sola”, escreveu. Crestani também divulgou fotos suas nos atos. Procurado, ele disse que não tem interesse em se manifestar à Pública.

Organização criminosa

Em entrevista à rádio CBN nesta quarta-feira (9), o chefe do Ministério Público de Santa Catarina, Fernando Comin, explicou como a estrutura funcionava. Segundo ele, o grupo ofereceu estrutura de alimentação, logística e banheiros químicos, que possibilitam os bloqueios ilegais.

“O que se identificou foi a existência de uma organização, atuando nos bastidores, incentivando lideranças comunitárias, de movimentos dos caminhoneiros em geral, pessoas comuns do povo, a irem a frente, a incitarem esses atos”, declarou Comin.

Santa Catarina chegou a ter quase 70 atos de bloqueios simultâneos em rodovias de todo o estado. Desde segunda-feira (7), não há nenhuma estrada fechada.

O volume de empresas e agentes políticos citados são apenas de Santa Catarina. Apesar disso, na reunião com Alexandre de Moraes foram entregues relatórios que apontam a atuação nos protestos.

“Nomes não podem ser ditos, para não atrapalhar as investigações. O que eu posso apontar, mais de 12 empresários e lideranças foram identificados até agora, um cruzamento de dados, mas a atividade dessas pessoas nas redes sociais, nos bastidores, nos movimentos, quem estava arrecadando, quem financiou a estruturação dessas bases, quem incitou a prática de violência contra a polícia”, completou Comin.

O promotor não detalhou o total de organizadores identificados em todo o país. A investigação busca ainda descobrir de onde partiram as ordens para as ações coordenadas.

“Não podemos confirmar que a origem é Santa Catarina, há ramificações aqui em Santa Catarina, nós apresentamos um relatório de inteligência, portanto, sigiloso, apontando algumas lideranças que foram identificadas, inclusive empresariais, vereadores, agentes políticos. Claro que isso está sendo objeto de uma investigação mais detalhada”, reiterou.

Reunião em Brasília

O procurador-geral de Justiça de São Paulo, Mario Sarrubbo, que também esteve reunido com Moraes, declarou após o encontro a preocupação das autoridades agora é identificar o “fluxo financeiro” dos bloqueios. O Supremo Tribunal Federal (STF) já está rastreando suspeitos.

Em Santa Catarina, o MPSC deu 24 horas para a Polícia Militar detalhar as ações tomadas para desobstruir vias urbanas ocupadas por atos antidemocráticos.

Em paralelo, a PRF tirou das ruas catarinenses dois policiais flagrados em vídeo dizendo que não iriam multar bolsonaristas por bloqueios.

Preocupação em SC

Durante o encontro com o ministro, Comin reforçou a preocupação em relação a presença de idosos e crianças como escudos humanos nos bloqueios. Uma investigação do órgão já busca identificar os pais ou responsáveis dos menores.

O MPSC também relatou os atos de violência praticados contra as forças de segurança. Na segunda-feira (7), dois policiais rodoviários federais ficaram feridos após serem agredidos por manifestantes. Um homem que foi preso em flagrante vai responder por tentativa de homicídio.

“Esse movimento antidemocrático, porque não são pacíficos, impedem o direito de ir e vir e atentam contra a Democracia”, disse o órgão estadual em nota.

Com informações do G1 e Agência Pública

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