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Enfrentando em nível nacional um dos cenários mais extremos de violação de direitos constitucionais e ainda, com pautas específicas a seus territórios, indígenas organizados focam no fortalecimento de bases regionais. É o caso dos povos do Amazonas que nesta quarta-feira (13) anunciaram no Acampamento Terra Livre (ATL), a “Retomada Coletiva do Movimento Indígena” no estado.

Representando o grupo, Marcivana Sateré-Mawé, conta que é no ATL que a organização se consolida. “Essa é uma composição para que nossas demandas sejam ouvidas, tanto no contexto dos territórios e de nossa região, quanto na organização nacional”. A oficialização ocorre em uma grande assembleia prestes a acontecer em Manaus (AM). Ela representará indígenas aldeados, ou não, e ainda, migrantes do território. No caso, os Warao, grupo indígena venezuelano refugiado no Brasil, que se estabeleceu no Amazonas.

Juntos se mobilizam contra ameaças diversas. “Como o Amazonas é rico na questão de recursos naturais, temos sofrido com as invasões de garimpeiros e madeireiros, por exemplo. Nossas lideranças também têm sido alvo de massacres, como a do Rio Abacaxis, que segue impune”.

Segundo a liderança Sateré-Mawé, a pandemia foi uma virada de chave que impulsionou a articulação.

“Enfrentamos violações muito grandes de nossos direitos, como a falta de acesso à saúde e a insegurança alimentar. Também ficamos impossibilitados de fazer nossos rituais. Não dava mais para ficarmos calados”.

Ao lado de outras lideranças, Marcivana atua pelo fortalecimento da rede (Mídia Ninja)

Ela também reclama da falta de atenção do governo estadual, que mesmo procurado pelos indígenas, não responde aos apelos e tampouco se dispõe a dialogar.

Marcivana ressalta que quanto a isso, acompanham o alinhamento com outros povos que terão representantes nestas eleições. “O estado do Amazonas ainda invisibiliza a presença indígena. Estamos nas cidades, fazendo faculdade, construindo a economia e não somos levados em consideração nas questões políticas”.

Ela reforça que as mulheres indígenas têm sido essenciais no processo de consolidação coletiva. “A gente provocou essa movimentação. E tudo tem acontecido muito rápido. Começamos com a Marcha das Mulheres, em março. Desde então, refletimos sobre as ações possíveis de trocas, para que a gente possa fortalecer a articulação em nível estadual”. Depois da marcha veio um encontro com 600 lideranças, nos dias 30 e 31 de março, onde foi elaborado o documento apresentado na 18ª edição do ATL.

“Queremos que este documento seja integrado ao documento final do ATL. A gente quer o Amazonas no documento final. Que a vontade indígena do Amazonas chega às instâncias federais”.

A articulação que se apresenta no ATL representa oficialmente os povos do Amazonas. Unidas estão a Coordenação dos Povos Indígenas de Manaus e Entorno (Copime) – da qual Marcivana faz parte -, o Fórum de Educação Escolar e Saúde Indígena, Makira-Êta Rede de Mulheres Indígenas do Estado do Amazonas, Movimento dos Estudantes Indígenas, Associação das Mulheres Sateré-Mawé (Amism), Associação dos Í25ndios Kokama residentes em Manaus e a Associação das Mulheres Indígenas do Alto Rio Negro.