Foto: Thales Ferreira / Mídia NINJA

Texto Carol Ferraz 

O vão do viaduto Imperatriz Dona Leopoldina, na Avenida João Pessoa se transformou em um ponto de referência cultural junto ao Parque da Redenção em Porto Alegre, mas a ocupação dos espaços públicos gera debate entre moradores e frequentadores.

A Cidade Baixa, bairro boêmio da capital dos gaúchos, há tempos enfrenta controvérsias, seja pelo carnaval, as festas de rua, ou pelo agrupamento popular dos espaços. As ruas da ‘CB’ já tiveram cara de guerra nos últimos meses com a dispersão das festas a céu aberto com bombas de gás lacrimogêneo e uso da força policial. Agora é a vez do Brooklin entrar no debate.

Há cerca de três anos o espaço abaixo do viaduto Imperatriz Dona Leopoldina, na Avenida João Pessoa, recebe skatistas, slams (competição de poesia falada), ensaios de blocos de carnaval, feiras, shows de rock, festas como a Cumbia de Rua, e mais recentemente os sambas da Encruzilhada do Samba às terças feiras. Contudo, os moradores e vizinhos da região não estão contentes com a movimentação. Eles realizaram uma abaixo assinado com cerca de 80 assinaturas contrários as atividades no espaço e entraram com uma ação no Ministério Público.

Como forma de resistência, o movimento encabeçado pelo grupo Encruzilhada do Samba articulado com outros coletivos de promoção cultural no espaço realizaram nesta terça-feira (24) um ato reunindo cerca de mil pessoas que passaram em apoio a realização das atividades no local.

No texto-manifesto pelo Facebook o grupo reclama “Quando chegarem em nós pra conversar [esperamos que isso ocorra, né?] vão saber que tem muita gente usufruindo daquele espaço que antes era estacionamento irregular e agora é o principal espaço cultural da cidade”. Ao som de “Não deixa o samba morrer, não deixa o samba acabar”, os músicos pediam que os apoiadores assinassem a petição em apoio aos eventos no espaço, que até cerca de 22h já reunia mais de 120 assinaturas.

Moradora da cidade baixa desde 1986, a aposentada de 53 anos, Maria Godoy afirma que as movimentações de rua mudaram a cara da região: “isso aqui era um lixo, você não vinha aqui, não atravessava a rua, tinha medo, era uma podridão que fedia a mijo, a galera tenta criar um espaço, uma energia boa, e de repente tão querendo tirar, mas não vai morrer, juntos a gente vai ocupar”, defende. Assim como ela, Leonardo Irazoqui, 34 anos, afirma que a segurança melhorou com a ocupação do espaço: “isso aqui era um lugar ermo, eu chegava a pegar Uber para sair de casa, agora a galera não arrisca a assaltar com tanta gente na rua. Uns dois/três anos atrás eu já fui assaltado umas três vezes e desde que abriu isso aqui não”, ele é morador dos prédios acima do bar Lechiguana que existe há cerca de 3 anos (antes, o bar atendia por 93). Há cerca de um ano tramita no MP um processo contra o espaço. No último março foi realizada uma audiência em que os envolvidos — organizadores dos eventos e moradores — foram chamados para esclarecimentos. O processo segue em investigação.

No evento no Facebook “Em defesa do Brooklin”, muitas manifestações de apoiadores, mas também de moradores contrários como Rafael Del Svaldi, um dos sócios da loja de revistas em quadrinhos Nerdz, vizinha ao espaço, afirma: “Se houvesse um mínimo desse diálogo que vocês tanto dizem, a coisa não teria parado no Ministério Público. Vocês estariam usufruindo do espaço, e nós estaríamos dormindo bem”.

Um dos proprietários do Lechiguana, Márcio Andrei, afirma que o espaço está se adequando: “o bar pelo menos, mas além do bar ocorrem muitos eventos fora. Eles fazem em parceria com o bar, mas também tem a independência deles, daí surgiu a ideia de fazer esse evento e coletar essas assinaturas. Ele conta ainda que sabe das reclamações: “tem alguns vizinhos que reclamam. Os outros vizinhos são super de boa, tem vários que participam, vem falar que gostam, tem pessoas de lugares ao redor que ficam mais tranquilos com a circulação de gente aqui”, define.

 

Foto: Thales Ferreira / Mídia NINJA

Foto: Thales Ferreira / Mídia NINJA

Foto: Thales Ferreira / Mídia NINJA

Foto: Thales Ferreira / Mídia NINJA

Foto: Thales Ferreira / Mídia NINJA

Foto: Thales Ferreira / Mídia NINJA