Foto: Natalia Hare / Midia NINJA

A Polícia Militar do Estado de São Paulo abordou um jovem negro de 16 anos mais de dez vezes na mesma via, em um intervalo de quatro anos, quando o garoto estava a caminho da Escola Politécnica na comunidade Ponta da Praia, no Butantã, zona oeste de SP.

A mãe do rapaz disse se preocupar com a rotina do filho, que também utiliza a via para ir até o trabalho em uma oficina.

“Ele vê um carro de polícia e fica receoso. Ele diz: ‘mãe, quando vejo uma viatura meu coração gela’,” disse a mãe em entrevista ao UOL.

Desde novembro do último ano, a mãe do estudante decidiu acompanhar o filho no trajeto para evitar que ele fosse machucado durante alguma abordagem policial.

“Os policiais viam ele com roupa suja de graxa e achavam que ele fazia desmanche de moto. Ele voltava do trabalho às 18h, mas um dia demorou, e eu fiquei preocupada. Quando chegou, estava com a bicicleta quebrada, entrou em casa mancando e com manchas roxas pelo corpo”, disse a mãe do jovem que havia sido abordado pela PM.

Avenida Escola Politécnica, Zona Oeste de São Paulo, via de abordagem citada nesta matéria. Foto: Arquivo Pessoal

Das dez vezes em que foi abordado, em ao menos cinco o jovem chegou em casa com hematomas na cabeça, nas costas e nos órgãos genitais.

“É o racismo pela cor de pele e pelo lugar em que moramos. Me conscientizei com o tempo”, disse a mãe do adolescente.

Em nota a Secretaria de Segurança Pública de São Paulo afirmou que “os protocolos operacionais da Polícia Militar não levam em consideração esteriótipos raciais, de gênero, classe social, idade ou religião”.

Por que isso importa

  • O Supremo Tribunal Federal julga se provas obtidas em ações deste tipo serão proibidas em processos criminais.
  • A análise está suspensa desde 8 de março e ainda sem data para ser retomada
  • Oito em cada dez pessoas negras já foram abordadas pela polícia, de acordo com o relatório “Por que eu?” do IDDD (Instituto de Defesa do Direito de Defesa) em São Paulo e no Rio de Janeiro em 2022.
  • Entre brancos, somente dois em cada 10 tomaram ‘bacu’, conforme o relatório.
  • Casos como o do jovem desta matéria são citados em discussões sobre abordagens racistas feitas pela polícia
  • A PM nunca encontrou provas que incriminasse o jovem

*Com informações do UOL