A história desses trabalhadores ganha mais um capítulo aterrorizante; a presença de policiais militares atuando como milícias privadas, que ameaçam física e psicologicamente os lavradores, e graves denúncias contra o representante do Ministério Público na região.

Foto: Yndara Vasques

Por Yndara Vasques

Um cenário desolador. Várias histórias de pequenos trabalhadores rurais compartilhadas por meio da dor, tristeza e angustia de terem suas roças, casas de farinha e barracos destruídos. Outros, como o seu José Reis, 70 anos, e Alfredo foram presos e sofreram tortura por parte dos policiais. Esses são sentimentos vivenciados pelos pequenos produtores da Gleba Negra Velha, no município de Luis Domingues, noroeste do Maranhão.

Foto: Yndara Vasques

A história desses trabalhadores ganha mais um capítulo aterrorizante; a presença de policiais militares atuando como milícias privadas, que ameaçam física e psicologicamente os lavradores, e de graves denúncias contra o representante do Ministério Público na região. Irregularidades já formalmente registradas aos órgãos competentes, Secretaria de Segurança Pública e Ministério Público que, por obrigação, deveriam afastar aqueles pagos para garantir a segurança dos cidadãos.

“Os trabalhadores rurais de Luís Domingues exercem coletivamente a posse justa, destinando à terra uma função social, por meio da produção de alimentos que mantém as 50 famílias”, explicou o advogado da Comissão Pastoral da Terra (CPT), Rafael Silva sobre a situação na Gleba Negra Velha.

Isso tem gerado incômodo nos fazendeiros, mediante a chegada de empresas de exploração mineral, interessadas na mesma área de plantio dos lavradores. A partir daí os fazendeiros se utilizam de uma organização criminosa, contratando pistoleiros e até policiais militares que prestam serviço como milícia privada para aterrorizar os pequenos agricultores. “São duas dimensões de conflito; a primeira em relação a discussão da propriedade e da titularidade do imóvel rural na Gleba Negra Velha. Neste aspecto está sendo discutido pela Promotoria Agrária, juntamente com o Iterma , pela suspeita de de tratar de terra pública e ter ocorrido a grilagem da mesma. No plano da posse o que se discute é quem deve ter a garantia da proteção institucional para uso da terra; essa terra deve está nas mãos dos camponeses ou de pistoleiros? É isso que a Justiça vai precisar decidir”, enfatizou o advogado.

Foto: Yndara Vasques

Apesar das denúncias aos órgãos competentes e publicização na mídia, as ameaças continuam. Na semana passada, quando os camponeses retornaram pela primeira vez às roças destruídas acompanhados por uma comitiva com representantes da CPT, da Secretaria de Direitos Humanos e Participação Popular do Estado, duas escoltas da PM, solicitada pela própria Secretaria Estadual de Direitos Humanos, foram destacadas para fazer a segurança dos camponeses e dos técnicos da Secretaria. Contudo dentro de uma das viaturas estava o cabo Bispo com outros quatro policiais. Todos fazem parte do que a CPT denunciou como milícia privada composta por policiais militares.

“Vivemos sob ameaças constantes dos policiais”, desabafou outro agricultor.

O conflito agrário é o causador de tanta violência em mais uma triste estatística registrada para o Maranhão, que coloca o Estado como um dos primeiros no ranking da violência no campo. De 2015 para cá, de acordo com dados da CPT, 18 pessoas foram assassinadas em conflitos no campo, registrados em 76 municípios maranhenses.

As denúncias foram encaminhadas oficialmente, por meio da CPT, a Secretaria de Segurança Pública do estado do Maranhão, ao Ministério Público, por meio da Promotoria Agrária, além da realização de reuniões com os lavradores para definição dos encaminhamentos.

“Mas ainda não vemos nenhuma ação da Secretaria de Segurança Pública em afastar os policiais envolvidos”, desabafou um dos camponeses.