O Censo de 2022 será o primeiro a mensurar a população das comunidades quilombolas brasileiras

Recenseador entrevista moradora na região central do RJ para o censo demográfico 2022. Foto: Tânia Rêgo/Agência Brasil

Por Mauro Utida

Teve início nesta segunda-feira (1º) o Censo Demográfico 2022. Trata-se de um elemento central para a compreensão da realidade brasileira, para o desenho de políticas públicas e sociais do país, além de políticas de ações afirmativas. Por isso, movimentos sociais e militantes da sociedade civil pedem a atenção para os negros, indígenas, quilombolas e afro-religiosos que aproveitem o momento para responder corretamente a autodeclaração racial e religiosa, além pedir respeito e colaboração com o trabalhador censitário que deve bater na porta das casas das famílias brasileiras nas próximas semanas.

Esse será o 13º Censo brasileiro, e o 9º organizado pelo IBGE, cada um deles tendo traçado um retrato da população de então. O Censo de 2022 será o primeiro a mensurar a população das comunidades quilombolas brasileiras. Para a historiadora e membro da organização ‘Coalizão Negra por Direitos’, Wania Santana, 60 anos, o mapeamento é uma grande conquista para medidas constitucionais das terras quilombolas. “Os indicadores nacionais com recorte racial são fundamentais para fortalecer políticas de caráter social e econômica”, informou Wania, que lutou nas últimas três décadas para fortalecer a pesquisa com à inclusão das minorias.

Pelo Twitter, a cientista política Nailah Neves também se manifestou para que a população responda corretamente a autodeclaração racial e religiosa. Além dos quilombolas, Nailah pediu atenção aos indígenas não aldeados para também se autoafirmarem. Ela também comentou sobre a importância das respostas sobre espiritualidade e fé. “Por mais que você afro-religioso tenha uma dupla religiosidade, eu lhe peço para priorizar na resposta a sua religião afro, para que conservadores e governantes conservadores parem de usar discurso que não irão nos garantir direitos porque vivemos num país cristão”, escreveu.

Mapeamento racial

No final dos anos 90, a população brasileira preta e parda era de 44%. Atualmente, de acordo com a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD), do IBGE, 56,7% da população brasileira se autodeclara preta e parda.

Para Wania Santava, o aumento está relacionado com as pessoas pardas que passaram a se declarar preta ao invés de branca. Ela diz que esta autoafirmação de ser negro é maior entre jovens com menos de 40 anos de idade. “É um fenômeno demográfico que temos a expectativa que cresça ainda mais com esta nova pesquisa”, declarou. Mas alertou: “É provável que a expectativa de vida dos brasileiros deve ter sido impactada pela pandemia de Covid-19, incluindo a população negra também”.

A Coalizão Negra por Direitos deve lançar na próxima semana a campanha para engajar a sociedade responder corretamente a autodeclaração racial e religiosa. O trabalho deve incluir quatro frentes, inclusive para acessar e engajar as comunidades quilombolas.

Precarização do IBGE

A operação censitária atual se dá em um contexto de drástico corte orçamentário, corte político de quesitos do questionário e precarização do IBGE pelo governo de Jair Bolsonaro (PL), que atrasou em dois anos a pesquisa.

O Sindicato Nacional do IBGE (ASSIBGE) denunciou as dificuldades visíveis já antes mesmo do início do recenseamento, como a baixa procura e alta desistência dos cargos temporários, a instabilidade dos sistemas de informática e a divulgação muito aquém da necessária.

“É nosso dever alertar a sociedade, como o sindicato tem feito desde 2019, que essa situação traz riscos ao recenseamento – em que pese o empenho do quadro funcional do IBGE em levar a cabo o melhor censo possível”, informou.

O Sindicato também criticou as reivindicações que não foram atendidas para ampliar o escopo temático, como a quantificação da população em situação de rua e a captação de informações relativas à identidade de gênero e à orientação sexual. “São lacunas na produção estatística nacional, que precisarão ser sanadas no futuro, em um contexto de planejamento rigoroso, autonomia técnica do IBGE e diálogo com os movimentos sociais de cada temática”, informou.

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