“Não é justo que grandes poluidores sejam intocáveis”, criticou jovem ativista de Uganda

A jovem ativista Leah Numugerwa, de Uganda, discursou na abertura da COP (Kiara Worth/UN Climate Change)

Apelidada de “COP da implementação”, a 27ª Cúpula do Clima, pela primeira vez, inclui o financiamento para perdas e danos na agenda oficial do evento. As negociações já começaram. O secretário-executivo da convenção-quadro da ONU para mudança climática, Simon Stiel destacou a necessidade de debater o tema.

“A questão das perdas e danos precisa ser propriamente abordada, e o tempo chegou para o fazermos. Os países, especialmente os mais vulneráveis e menos desenvolvidos, precisam receber o apoio necessário para atingir suas metas climáticas. Dinheiro é a questão crítica para lidar com a magnitude da crise”, disse em coletiva de imprensa.

Na cerimônia de abertura, nesta segunda-feira (7), o financiamento climático também deu a tônica aos discursos. O secretário-geral da ONU, António Guterres pediu aos governos que tributem lucros inesperados causados pela pandemia de empresas de combustíveis fósseis e redirecionem o dinheiro para pessoas que lutam com o aumento dos preços de alimentos e energia, assim como para países que sofrem perdas e danos causados pela crise climática.

Guterres adicionou que “impactos mortais das mudanças climáticas estão aqui e agora”. Para ele, “perdas e danos não podem mais ser varridos para debaixo do tapete”.

Segundo o secretário-geral, este acerto “é um imperativo moral e uma questão fundamental de solidariedade internacional e justiça climática”. Ele seguiu afirmando que países que “menos contribuem para a crise climática estão colhendo o turbilhão semeado por outros”.

Para o secretário-geral, obter resultados concretos sobre perdas e danos é um “teste decisivo” do compromisso dos governos com o sucesso da COP27.

O chefe da ONU também fez um apelo ao progresso na adaptação e na construção de resiliência às futuras perturbações climáticas, observando que três bilhões e meio de pessoas vivem em países altamente vulneráveis aos impactos climáticos.

Isso significaria que os países cumpririam a promessa feita na COP26, de investir US$ 40 bilhões em apoio à adaptação até 2025.

“Precisamos de um roteiro sobre como isso será entregue. E devemos reconhecer que este é apenas um primeiro passo. As necessidades de adaptação devem crescer para mais de US$ 300 bilhões por ano até 2030”, alertou.

Guterres também destacou a necessidade de instituições financeiras e bancos internacionais mudarem seu modelo de negócios e fazerem sua parte.

Mas especialistas destacam que o clima dos países desenvolvidos – sobre o tema do financiamento climático – é de desconfiança, pois é antiga a promessa de disponibilizar US$ 100 bilhões por ano de financiamento climático aos países em desenvolvimento. Afinal, isso deveria ter ocorrido até 2020.

Ainda há um longo caminho a ser percorrido, pois afinal, o tema só foi incluído na pauta. Muitos países certamente, resistirão a um acordo dessa envergadura, adiando mais uma vez as resoluções.

Futuro

Na série de discursos que incluiu fala de abertura do líder egípcio Abdel Fattah El-Sisi e do presidente dos Emirados Árabes Unidos (próximo a sediar a COP), Mohammed bin Zayed Al Nahyan, além do ambientalista e ex-vice-presidente dos EUA Al Gore, teve destaque a fala da jovem ativista Leah Numugerwa, de Uganda.

Ela disse que frente à emergência climática, a juventude se mobiliza para defender o futuro. Ela também criticou a resistência dos líderes mundiais em se desvencilharem dos poluentes combustíveis fósseis.

“Nós adolescentes, temos que pensar como adultos porque vocês não pensam. Não é justo que grandes poluidores sejam intocáveis… Temos que encarar a realidade, o mundo está em colapso por causa dos combustíveis fósseis”.

“Três Brasis”

O governo montou um estande que abriga organizações setoriais nacionais, como a Confederação Nacional da Indústria e a Confederação da Agricultura e Pecuária.

O foco ali é divulgar o potencial energético brasileiro enquanto que o mais esperado do Brasil é impedir o avanço do desmatamento, principalmente, na Amazônia.

Ao lado do estande do governo está o estande do Consórcio da Amazônia Legal, criado pelos governadores, com objetivo de contornar a inoperância do governo federal e assim, buscar verbas internacionais sem estar atrelado ao desgoverno.

A sociedade civil também tem estande próximo. Mais uma vez o Brazil Climate Action Hub se faz presente no evento para levar a versão independente dos fatos. E assim, na COP27, nitidamente, há “três brasis” representados.

A COP27 segue até o dia 18 de novembro, em Sharm El-Sheikh.