Conheça 7 mulheres que mudaram a história dos seus países

Foto: Equipo audiovisual CF8M

Por Laura Uyeno para Cobertura Colaborativa NINJA People’s Summit

O escritor George Orwell teria dito que “A História é escrita pelos vencedores”. No nosso contexto de continente colonizado ela é escrita pelo branco, europeu e masculino. De outra maneira podemos dizer que nas Américas se aplica o epistemicídio, nas palavras de seu criador, Boaventura de Souza Santos, que seria a “destruição de algumas formas de saber locais, à inferiorização de outros, desperdiçando-se, em nome dos desígnios do colonialismo, a riqueza de perspectivas presente na diversidade cultural e nas multifacetadas visões do mundo por elas protagonizadas”. 

Dessa forma, imagina-se o apagamento das biografias das diversas etnias e principalmente as femininas. Inúmeras foram as incríveis mulheres, que promoveram revoluções na História dos seus países. Conheça 7 delas, que fizeram ou estão fazendo a diferença em seus países. 

1. Sônia Guajajara (Brasil)

Foto: Mídia NINJA

Nascida em 1979 na T.I. Araribóia no Maranhão, filha de pais analfabetos, formou-se em Letras e Enfermagem e é pós-graduada em Educação Especial. Desde 2003 envolvida com o ativismo, foi progressivamente ganhando notoriedade por sua postura combativa e agregadora na criação de um movimento indígena nacional, fazendo denúncias de retirada de direitos dos povos originários dentro e fora do país. Em 2018, compôs chapa à presidência com Guilherme Boulos. Esse mesmo Boulos, quem escreveu o artigo que agraciou Sônia como uma das 100 pessoas pioneiras mais influentes do mundo pela revista Time em maio desse ano. Escreve: “Sônia resistiu e continua a resistir hoje: contra o machismo, como mulher e feminista; contra o massacre dos povos indígenas, como ativista; e contra o neoliberalismo, como socialista. (…) Sônia é uma inspiração, não somente para mim, mas para milhões de brasileiros que sonham com um país que liquida sua dívida com o passado e finalmente dá boas vindas ao futuro”. Esse ano, Sônia se impõe mais um novo grande desafio: pré candidata-se a deputada federal, junto a outras lideranças indígenas, na busca de aldear a política como forma de garantir a manutenção dos direitos dos povos originários do Brasil. 

2. Elvia Carrillo Puerto (México)

Foto: Arquivo familiar

Nascida em Motul, Yucatan em 1878. Lider feminista agraciada com o apelido “A Freira Vermelha de Mayab” por sua luta pelo sufrágio feminino, a emancipação da mulher e seus direitos no México. Em seu discurso temas polêmicos para a época como o controle de natalidade, liberdade sexual, divórcio e contra o que considerava opressão religiosa. 

Em 1910 participou da rebelião de Valladolid que convocou o povo yucateca a lutar contra a tirania de Olegario Molina e o governador de Yucatan, Enrique Muñoz Arístegui. 

Em 1912 organizou a primeira Liga Feminista Campesina em que se discutia a propriedade da terra, a jornada de trabalho de 8 horas, a libertação dos indígenas de trabalhos escravos e controle de natalidade. 

Entre 1915 e 1918, participou da organização e fundação do Partido Socialista Trabalhador de Yucatan, futuro Partido Socialista do Sureste. Em 1918 no Primeiro Congresso Trabalhador de Yucatán, Elvia levantou a “Aceitação da mulher trabalhadora nas Ligas de Resistência”, que foi seu lema de vida: lutar pela liberação feminina por sua atividade social e política nas 51 Ligas de Resistência que organizou. 

Foi eleita deputada em 1923, uma das três primeiras a fazer parte do legislativo, em que na época o direito de voto nem existia para mulheres. Direito esse somente outorgado em 1953. Faleceu em 1968. 

3. Cristina Villarreal Velásquez e Ana Cristina González Vélez (Colômbia) 

Foto: Reprodução Infobae

A médica Ana Cristina González Vélez e a psicóloga Cristina Villarreal Velásquez são ativistas que foram pioneiras do Causa Justa, movimento que busca a liberdade e autonomia reprodutiva de todas as mulheres sobre seus corpos e projetos de vida, reconhecendo a necessidade urgente de eliminar o crime de aborto do Código Penal como um avanço dos direitos das mulheres e uma mudança favorável para a sociedade e a democracia. Em fevereiro desse ano, essa luta chegou à Corte Constitucional resultando na despenalização do aborto abaixo de 24 semanas. 

Na Colômbia o aborto era penalizado com quatro anos e meio de cadeia, ainda que desde 2006 se permitisse por três causas: estupro, má formação do feto ou risco de saúde par a mãe, sem limite de tempo. As ativistas pró-aborto foram agraciadas na categoria pioneiras da revista Time em 2022.

4. Christina Hayworth (Porto Rico)

Foto: Arquivo El Nuevo Dia

Dia 28 de junho de 1969 Christina estava no Stonewall Inn, clube gay de Nova Iorque, quando  eventos trágicos aconteceram após a polícia interromper o funcionamento do clube gerando três dias de protesto, marcando o começo do movimento Gay e Trans nos Estados Unidos. 

Em Porto Rico, fundou em 1990 a “Herencia de Orgullo” hoje Pride Fest, primeira parada Gay do país. Depois com a Coalizão do Orgulho Arco Iris (COA) organizou a Parada Gay, que ocorre todo mês de junho. 

Atuou como jornalista independente, sempre presente em programas de televisão de Porto Rico. No meio político, pressionou autoridades contra discriminação LGBT e pensou políticas públicas para a diversidade. Faleceu em 2021 em Porto Rico.

5. Berta Cáceres (Honduras)

Foto: La Prensa

Nascida em 1971 na etnia Lenca em La Esperanza (Intibucá) em um momento de violência da América Central. Cáceres nasceu em 4 de Março de 1971,1972 ou 1973, no grupo étnico mesoamericano, Lenca, em La Esperanza (Intibucá), em Honduras.[11] Ela cresceu na década de 1970, durante um momento de grande agitação civil e de violência na América Central. 

Ainda ativista estudantil, co-fundou o COPINH (Conselho de Populares e Organizações Indíenas de Honduras) em 1993. Dentre suas lutas se destacaram protestos contra extração ilegal de madeira, contra plantação com trabalhadores escravos e contra a presença de bases militares em território Lenca, a favor do femininismo, da causa indígena e LGBT. 

Em 2006 descobriu que a empresa chinesa Sinohydro, a International Finance Corporation e Desarrollos Energéticos de Honduras (DESA) – que pertence e é administrada por uma das famílias mais poderosas de Honduras, os Atala Zablah – pretendiam construir quatro barragens hidrelétricas no rio Gualcarque, violando um direito internacional de consulta pública ao desenvolver o projeto, preocupando o povo Lenca com relação ao acesso a água, alimento, material médico, comprometendo também o seu modo de vida tradicional. O rio Gualcarque é considerado sagrado pelos Lenca. Junto a seu povo, Berta levou o caso à Comissão Interamericana de Direitos Humanos.

Em 2009, a Comissão Interamericana de Direitos Humanos a incluiu na lista de pessoas ameaçadas durante o golpe de Estado hondurenho de 2009. Honduras é governada pelo Partido Nacional, de extrema direita, de Juan Orlando Hernandéz, partido favorito da oligarquia. 

Em 2013 passou a liderar a COPINH em protestos para impedir as empresas de chegarem à sua terra, quando militares abriram fogo contra manifestantes matando um e ferindo três membros do COPINH. A Sinohydro e a International Finance Corporation abandonaram o projeto, mas a DESA deslocou o local de construção e teve apoio de outros empreendedores. Em 2014, membros do COPINH foram atacados em dois incidentes resultando na morte de dois membros e três feridos gravemente. 

Houve tentativa de processo de Cárceres e outros líderes indígenas por usurpação, coerção e danos contínuos, alegando incitação do povo a causar danos à empresa. A Anistia Internacional interveio alegando que se presos, os ativistas seriam considerados prisioneiros de consciência, gerando pressão nacional e internacional ao governo de Honduras.  

Em 2015, ela recebeu o Prêmio Goldman de Meio Ambiente. No mesmo ano, a Global Witness destacou seu caso como emblemático para riscos de ativistas ambientais em Honduras, país que tinha o maior número de assassinatos de defensores ambientais no mundo. 

Em fevereiro de 2016, a pressão aumenta contra o COPINH quando mais de 100 manifestantes foram detidos durante protesto. 

Em março de 2016 Berta Cáceres foi morta a tiros em sua casa. Provas apresentadas (inclusive registros telefônicos) apontam que assassinos, veteranos do exército de Honduras, agiram sob ordens dos executivos da DESA, mas nenhum dos donos da empresa foram indiciados. 

A filha de Berta, Bertha Zúniga Cáceres, atual coordenadora do COPINH (e que sofreu atentado contra sua vida em 2017) luta até hoje para não silenciarem o processo. Provas apresentadas na corte – incluindo registros telefônicos e conversas de Whatsapp – mostram conclusivamente que esses assassinos, muitos deles veteranos do exército hondurenho, agiram sob as ordens de executivos da Desa. Nenhum dos donos da empresa que aparecem em conversas no aplicativo de troca de mensagens foram indiciados pelo crime.

6. Angela Davis (EUA)

Foto: Choupas Cyrille

Nascida em 1944 em Birmingham, Alabama, no sul dos EUA, a cidade de Angela sofria segregação racial como política oficial, não reconhecendo direitos civis dos negros e separava espaços públicos para negros e brancos. Além disso, conviveu com a ação da Ku Klux Klan, com atos de barbárie como linchamentos, incêndios e explosão de casas e igrejas em bairros negros. 

Ainda adolescente, organizou um grupo de estudos sobre questões raciais que foi perseguido e proibido pela polícia. Aos 19 anos, foi para Massachussets estudar na Universidade de Brandeis. No mesmo ano, um atentado a bomba em igreja frequentada por negros vitimou quatro conhecidas de Angela, fato que marcou sua trajetória e sua luta pelas questões raciais. 

Filiou-se ao SNCC (organização antirracista de Stokely Carmichael) com princípio a resistência pacífica, mesma linha seguida por Martin Luther King. Com o tempo o SNCC acabou e Carmichael e Angela aderiram a uma linha mais radical, filiando-se ao Partido dos Panteras Negras. Luta mais combativa, com aderência inclusive à luta armada contra o racismo. Angela, entretanto, era de uma ala mais pacífica. Na época, também filiou-se ao Partido Comunista dos Estados Unidos. 

Por suas ligações políticas, em 1969, Angela foi demitida da Universidade da Califórnia, onde lecionava filosofia. Em 1970, lutando contra prisão injusta de negros, foi colocada na lista dos dez criminosos mais procurados do FBI por acusação de conspiração, sequestro e homicídio no caso dos Irmãos Soledade. Foi presa em outubro de 1970 e seu julgamento durou dezoito meses, com grande discussão da sociedade sobre prisão injusta de pessoas negras. Angela acabou sendo inocentada e liberada. Depois, tornou-se professora destacada de Filosofia e História em Universidades prestigiadas dos Estados Unidos. Publicou livros, militou pelo fim da Guerra do Vietnã, contra o racismo e pela igualdade de gênero. Candidatou-se à vice-presidência dos Estados Unidos pelo Partido Comunista em 1980 e 1984. 

É crítica do sistema carcerário americano, militando pelo fim do cumprimento de pena em presídios, considerando-se uma abolicionista penal. 

Angela Davis é referência na luta pelos direitos da população negra e das mulheres nos Estados Unidos. Defende a igualdade entre negros e brancos e a igualdade de gênero e também é teórica do feminismo negro.