Bahia, Maranhão e Pará representam 61,15% do total de pessoas quilombolas recenseadas até 29 de agosto

Mobilização quilombola no Congresso Nacional para resistir à ameaça na demarcação de terras quilombolas. Foto: Mídia NINJA

Pela primeira vez em 150 anos o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) está realizando o recenseamento da população quilombola como grupo étnico populacional. Nos primeiros 29 dias de coleta de dados o IBGE conseguiu recensear 386.750 pessoas que se autodeclaram quilombolas. O Censo iniciou no dia 1º de agosto e se estende até 31 de outubro.

Para o coordenador executivo da CONAQ, Antônio Crioulo, o resultado é positivo. “Uma conquista muito importante que visibiliza as comunidades quilombolas, mas, precisamos intensificar o processo de mobilização para não deixar nenhum quilombola fora do Censo”, pondera.

Até o momento os Estados com maior número de pessoas quilombolas contadas são Bahia com 116.437 quilombolas, Maranhão com 77.683 e Pará com 42.439. Esses números correspondem a 61,15% do número total apresentado no primeiro balanço parcial do Censo Demográfico 2022, apresentado pelo IBGE no último dia 30 de agosto.

A consolidação do Censo Demográfico em localidades quilombolas se deu a partir da demanda da CONAQ junto ao Estado Brasileiro por meio do IBGE com a mediação do Fundo de Populações da Nações Unidas (UNFPA/Brasil), atendendo aos critérios da Consulta Prévia, Livre e Informada da Convenção 169 da OIT.

Em 2019, o IBGE mapeou 5.972 localidades quilombolas em 1.674 municípios de 24 Estados. Nessas localidades as pessoas terão a oportunidade de responder ao questionário completo sobre o quesito quilombola. Nas outras áreas, ao receber o recenseador, as pessoas quilombolas podem informar o nome da sua comunidade de origem.

Se você tem dúvidas sobre o processo de recenseamento acesse a live em que a CONAQ e o IBGE trazem explicações que ampliam o entendimento sobre o Censo Demográfico em localidades quilombolas:

Campanha ‘Responda para ter respeito’

Com o objetivo de reafirmar a importância do Censo para as estratégias de enfrentamento do racismo e estabelecimento de políticas públicas adequadas à superação da desigualdade étnico/racial no país, a Coalizão Negra por Direitos lançou neste mês de setembro de 2022, a Campanha “Responda para ter respeito”.

O grupo lembra que nesse ano de 2022 o IBGE realiza o 13º Censo, sob condições precárias: cortes orçamentários drásticos, exclusão de perguntas importantes e precarização das condições de trabalho do IBGE. A Coalizão convoca a sociedade para esta campanha. “Sem respeito não há dignidade, justiça racial e democracia”, informa.

Por isso, o grupo reforma a importância da Campanha “Responda para ter respeito”. “Responder de forma correta e consciente ao Censo 2022 é participar da luta por respeito, dignidade, cidadania, direitos da população. É construir uma sociedade livre do racismo, discriminação, violência racial e das práticas sexistas e LGBTQIA-fóbicas”, informa.

 

 

Essa não é a primeira vez que as organizações do movimento negro vêm a público expressar a importância dos recenseamentos para o cumprimento desses objetivos. No Censo de 1991, o movimento negro lançou a exitosa Campanha “Não deixe a sua cor passar em branco – Responda com bom C/Senso”.

Àquela época era imperioso sensibilizar as pessoas de origem africana a declarar a sua cor/raça a partir do seu referencial étnico/racial. No Censo anterior, em 1980, apenas 44,7% da população brasileira se autodeclarou como “preta” ou “parda” – opções disponíveis para a classificação de cor/raça nas pesquisas do IBGE.

Hoje, 56% da população brasileira se autodeclara como “preta” e “parda” – e portanto, negra. Essa mudança na forma de declaração do pertencimento étnico/racial da população brasileira não é fruto daquela Campanha exclusivamente, mas demonstra o quanto a população negra passou a reconhecer essa característica étnico/racial como importante à sua identidade, cidadania e à história de negros e negras na formação da sociedade brasileira.

A Coalizão afirma que atualmente o reconhecimento sobre o caráter estratégico de se obter indicadores sociais e econômicos desagregados por cor/raça da população e, em especial, da população negra, é maior. “Essa tem sido a uma das formas mais exemplares de demonstrar as desigualdades existentes entre brancos e negros no país, seja qual for o gênero, idade, naturalidade, escolaridade, posição no mercado de trabalho, entre outras características”, informa em uma carta manifesto da campanha.

Para a Coalizão Negra, essa é uma forma de construir uma sociedade que garanta o direito das comunidades quilombolas às suas terras ancestrais; que assegure o direito de crença das adeptas e adeptos de religiões de matriz africana; que esteja verdadeiramente comprometida em aprimorar às políticas de educação, moradia, saúde, trabalho e emprego, acesso ao saneamento básico, assistência social, entre outras esferas de realização da dignidade humana.

“Responder corretamente ao Censo 2022 significa lutar por políticas públicas e políticas de ação afirmativa para a população negra brasileira e demonstrar nosso empenho em ter uma sociedade antirracista”, declara o movimento.

“O Censo Demográfico é a mais importante pesquisa sobre a população brasileira, por sua amplitude, temas investigados e influência que os seus resultados têm sobre a definição de políticas públicas e compreensão da sociedade”.