Com cinco seleções no Catar 2022, o continente africano derruba uma marca histórica vinda do banco de reservas

Técnico de Sénégal Aliou Cissé. AFP – KENZO TRIBOUILLARD

Por Diego Arruda

A Copa do Mundo do Catar iniciou neste domingo (20), com Catar e Equador. Ao todo, 32 seleções (pela última vez nesse formato) disputam o principal torneio de futebol, com duração prevista de um mês. 

A organização da Copa do Mundo Catar 2022 já recebeu e recebe ainda mais, à medida que se aproxima o início do campeonato, críticas pela falta de inclusão e agressões aos direitos humanos, como no caso da proibição de manifestações em apoio aos direitos LGBTQIAP+.

Entretanto, rompendo esse padrão negativo, um destaque importante para essa edição do torneio mundial vem das seleções africanas. É a representatividade preta. Além de ser a primeira vez que as seleções serão treinadas apenas por técnicos do continente, essa também será a edição onde treinadores pretos serão maioria no comando das equipes.

Primeiro, vale saber quem são as equipes e os treinadores do terceiro maior continente do globo. São elas: Senegal (grupo A), Tunísia (grupo D), Marrocos (grupo F), Camarões (grupo G) e Gana (grupo H). Confira os nomes que comandam cada equipe: 

Senegal – Aliou Cissé (Senegal)

Tunísia – Jalel Kadri (Tunísia)

Marrocos – Walid Regragui (Marrocos/França)

Camarões – Rigobert Song (Camarões)

Gana – Otto Addo (Gana/Alemanha)

Como apresentado acima, cada país optou por pratas da casa. Camarões, Senegal e Gana são nações da África Subsaariana, recorte do continente abaixo do deserto do Saara, que corresponde a 75% do território  e todos possuem maioria de população preta. Justamente onde tivemos essa representatividade. Já a contraparte dessa divisão, é a África Mediterrânea, onde a maioria da população é de origem árabe. Marrocos e Tunísia compõem parte desse território.

Foto: Jean Catuffe/ Getty Images

Otto Addo e a escolha por Gana

O ex-atleta nasceu na Alemanha, em Hamburgo, mas com dupla cidadania. Com a opção de escolher o país, Addo optou por Gana, mesmo trilhando sua carreira futebolística apenas em times alemães. Como atleta, jogou a Copa de 2006, curiosamente, na Alemanha. Jogou duas partidas, participando da campanha que levou seu time até as oitavas de finais, quando foram eliminados pelo Brasil. 

Domínio europeu em plena Copa da África

Catar 2022 será a 22ª edição da Copa. Somada a próxima, que já tem a América do Norte como sede, ao todo, foram 23 escolhas de países sedes, onde apenas uma foi realizada na África. A Copa do Mundo de 2010, disputada na África do Sul. 

Por ser sede, o continente tinha direito a uma vaga extra. Seis seleções da região disputaram o torneio. Contudo, apenas a Argélia era comandada por um técnico do continente, o argelino Rabah Saadane. As anfitriãs foram dirigidas pelo brasileiro Carlos Alberto Parreira. As demais seleções, Nigéria, Camarões, Gana e Costa do Marfim, foram comandadas por europeus.

Como foi a última Copa?

Na Rússia, em 2018, o ex-jogador Aliou Cissé, que atuou como atleta por muitos anos na seleção, foi o nome escolhido como técnico de Senegal. No cargo desde 2015 e que permanece atualmente, foi o único preto. Além da seleção senegalesa, apenas a Tunísia apostou em um treinador não estrangeiro, comandada por Nabil Maâloul. O Egito, de volta às Copas depois de 32 anos, apostou no argentino Egito – Héctor Cúper. Nigéria e Marrocos foram os europeus. O alemão Gernot Rohr comandou as Águias, enquanto o francês Hervé Renard, conduziu os Leões. 

O ídolo Aliou Cissé

Como citado acima, Cissé chega a segunda Copa à frente de Senegal. Desde 2015 no cargo, o técnico levou sua seleção ao inédito título da Copa das Nações Africanas, maior torneio do continente. A conquista, em fevereiro de 2022, foi em cima da dura seleção do Egito, que mais tarde, foi a última adversária pela vaga no Catar. Em novo duelo, os Leões de Teranga levaram a melhor novamente. 

O pioneirismo marroquino

Equipes africanas estrearam  na Copa em 1934, segunda edição do torneio, com o Egito. Depois disso, um longo hiato afastou as equipes do continente. Foram 36 anos sem representantes, até que na Copa de 1970, o Marrocos disputou o torneio, segundo a primeira seleção a ter um técnico do continente: Abdellah Settati.

O primeiro treinador preto só viria em 1994, também com a seleção marroquina. O saudoso Abdellah Blinda, nascido no próprio Marrocos, quebrou esse tabu.

Abdellah Blinda. Foto: Reprodução / Datercenter

Texto produzido em cobertura colaborativa da NINJA Esporte Clube

Pela 1ª vez, seleções africanas terão apenas técnicos africanos na Copa do Mundo

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