Historicamente comandadas por técnicos europeus, as seleções africanas têm cada vez mais optado por opções caseiras

Foto: Charly Triballeau/Getty Images

Por Victoria Amaro

O desenvolvimento da escola africana de futebol se dá muito por conta dos investimentos da federação na realização de cursos locais. Logo que, antes os técnicos precisavam buscar a Europa ou a América do Sul para terem acesso ao conhecimento. Luís Fernando Filho (@luisfernanfilho), do canal África Mamba (@africamambabr), comentou o avanço em entrevista ao Observatório do Racismo.

“O desenvolvimento dos técnicos africanos tem muito a ver com o programa de capacitação oferecida pela confederação africana de futebol, que tem ampliado esses tipos de curso. Sempre teve déficit de capacitação nesse sentido, quando comparamos com o que é oferecido na Europa e até mesmo na América do Sul”, disse Luís.

Expoente em 2018, Aliou Cissé declarou não gostar de carregar o fardo de ser o único técnico negro e pediu mais reconhecimento para os treinadores africanos. “Temos uma nova geração (de técnicos) que está trabalhando, dando seu máximo. Não somos apenas ex-jogadores, mas também somos ótimos taticamente e temos o direito de estar entre os melhores treinadores do mundo”.

O clamor do senegalês deu resultado e na edição seguinte da Copa Africana de Nações, em 2019, o número de treinadores locais subiu de 4 de 16, em 2017, para 11 de 24. A tendência seguiu e na edição de 2022 os treinadores africanos foram maioria, com 15 em 24.

“Há uma consciência de que os treinadores locais podem ter um desempenho tão bom ou até melhor do que os europeus”, declarou Mansour Loum, jornalista da Sport News Africa.

Por conta disso, Cissé hoje é o nome mais badalado do continente. O ex-jogador foi capitão de Senegal na campanha histórica da Copa de 2002, quando alcançaram as quartas de final, e assumiu o comando da seleção em 2015, após passagens pelas categorias de base do país. Dessa forma, Aliou contou com a ajuda de craques como Sadio Mané, Koulibaly e Edouard Méndy para chegar nas últimas duas finais da Copa Africana de Nações. Apesar de saírem derrotados da primeira, em 2019, a equipe retornou em 2022 e conquistou seu primeiro título da competição.

Além do senegalês, outro nome que chama atenção é Walid Regragui, de Marrocos. O treinador ganhou notoriedade após conquistar o Campeonato Marroquino com o pequeno FUS Rabat, feito inédito na história do clube e improvável na época. Um ano antes, na temporada 14/15, ele já havia conquistado o título da Copa do Marrocos.

Em 2020, após seis anos na equipe, Regragui foi para o Al-Duhail, do Catar, onde foi campeão nacional na única temporada que disputou. Logo em seguida ele retornou para o Marrocos, onde dominou o futebol africano com o Wydad Casablanca ao vencer novamente o título marroquino e a Champions League Africana. Com isso, ele foi o primeiro nome da lista para assumir a seleção do país após a demissão de Vahid Halilhodzic.

Ao contrário das demais seleções, a Tunísia tem uma tradição de contar com treinadores locais em Copas do Mundo. Logo, dessa vez não será diferente e Jalel Kadri estará comandando a equipe. Jalel fazia parte da comissão técnica da seleção desde 2021 e assumiu o cargo após a demissão de Mondher Kebaier, que foi demitido por conta da campanha ruim na Copa Africana de Nações. O treinador estava invicto até o amistoso contra a Seleção Brasileira, em setembro.

O penúltimo nome da lista é Otto Ado, treinador da seleção de Gana, que recebeu o convite para assumir interinamente a equipe na disputa do mata-mata contra a Nigéria apenas. Contudo, surpreendentemente ele venceu e conseguiu se classificar para a Copa do Mundo e ganhou mais tempo no cargo. Por isso, sua sequência após a competição é uma dúvida.

Fechando a lista com um nome que estará no grupo do Brasil, Rigobert Song, de Camarões. Capitão lendário da seleção, Song é o jogador que mais atuou pela equipe e assumiu o cargo após a Copa Africana de Nações, em que o país disputava em casa e terminou na terceira colocação. Contudo, o desempenho da equipe caiu bruscamente após a competição e deverão chegar para Copa do Mundo em baixa.

Além disso, recentemente a primeira turma de Licença Pro da Confederação Africana concluiu sua formação, mostrando a evolução do continente na formação de sua própria escola de futebol.