Motorista, que estava embriagado e não prestou socorro, responde em liberdade e ainda não foi a julgamento

Foto: arquivo pessoal

Por Isabel Côrtes

No dia 8 de novembro de 2020, em uma ciclovia em São Paulo, a cicloativista Marina Harkot, de 28 anos, foi atropelada e morta pelo empresário José Maria da Costa Júnior, de 34 anos. Hoje, dois anos depois, o assassino ainda continua solto e responde em liberdade por homicídio por dolo eventual, quando se assume o risco de matar, e por dirigir sob o efeito de álcool e omissão de socorro.

Relembrando o caso

Marina Harkot era uma socióloga, cicloativista e pesquisadora. Enquanto voltava para casa pela ciclovia da Avenida Paulo VI, em Pinheiros, na Zona Oeste de São Paulo, foi atropelada pelo empresário José Maria da Costa Júnior. Segundo o Ministério Público, o motorista, que fugiu sem prestar socorro à vítima, estava embriagado e dirigia em alta velocidade quando a atingiu. Marina morreu no local.

Como forma de protesto, diversos ciclistas foram às ruas para homenageá-la e para protestar contra a tragédia. Apesar disso, o caso ainda não foi concluído e a justiça demora a agir.

Em abril deste ano, a Justiça de São Paulo decidiu levar José Maria a júri popular, com sete jurados para decidir a sentença. Caso seja condenado, ele pode enfrentar até 30 anos de prisão. Já se passaram 6 meses e o julgamento ainda não foi marcado e o assassino de Marina continua livre.

Pedale por Marina

No último domingo (6), com o objetivo de lembrar e celebrar a ciclista Marina Harkot e de continuar lutando por seus ideais, o projeto “Pedale como Marina” convidou ciclistas a se juntarem para pedalar juntos na Avenida Paulo VI. O evento marca os 2 anos desde a morte da ciclista e busca relembrar o trabalho da pesquisadora sobre questões de mobilidade urbana e segurança.

Em suas publicações, Marina tratava também de questões de gênero e buscava justamente entender o porquê da baixa porcentagem de mulheres ciclistas nas cidades e os desafios e obstáculos que elas enfrentam, que justificam a baixa participação. A “bicicletada” ou “pedalada”, como chamaram, traz em cartazes e camisetas mensagens de homenagem a Marina, mas também questões como a exigência da redução da velocidade nas ruas, segurança dos ciclistas, participação das mulheres nos projetos de planejamento das cidades, entre outros temas que fazem parte do legado deixado pela pesquisadora.

Luta por Justiça

A tragédia que levou a morte de Marina acabou se tornando um exemplo de um dos principais problemas apontados por ela mesma em seu trabalho: a questão da mobilidade urbana em grandes cidades, como São Paulo, e a falta de segurança para os ciclistas, principalmente mulheres.

Segundo o Mapa de Infraestrutura Cicloviária da Companhia de Engenharia de Tráfego, a cidade de São Paulo conta com 699,2 km de vias com tratamento cicloviário permanente, sendo a cidade com mais ciclovias no país. Apesar disso, dados coletados pelo Infosiga mostram que entre 2019 e 2020 ocorreram, aproximadamente, 1 acidente com ciclistas a cada 4 horas.

Esses números reforçam o apelo dos protestos por segurança nas ciclovias das grandes cidades, assim como a fiscalização das autoridades, para que casos como o de Marina não voltem a acontecer. Quanto mais ciclistas nas ruas, mais importante se torna o investimento em infraestruturas em ciclovias e na sinalização adequada.