Uma criança de 3 anos teve o resultado positivo para o vírus da paralisia infantil em um comunicado de risco emitido pela Diretoria de Vigilância em Saúde do Pará

Comunicado informa detecção do vírus da poliomielite no estado do Pará. Foto: Reprodução/Twitter @guilhermeboulos

Por Mauro Utida

Uma criança de 3 anos teve o resultado positivo para o vírus da paralisia infantil em um comunicado de risco emitido pela Diretoria de Vigilância em Saúde do Pará nesta quarta-feira (6). A Secretaria de de Saúde do Estado declarou que o caso ainda está sob investigação da paciente de Santo Antônio do Tauá, nordeste do Pará.

Caso confirme o resultado positivo da criança do Pará, este será o primeiro caso de poliomielite no Brasil desde 1989.

O Ministério da Saúde foi notificado hoje e acompanha o caso. Em nota, o órgão do governo federal negou que seja um caso de poliomielite, mas de “Paralisia Flácida Aguda” que está sendo investigada. “De acordo com informações enviadas pela secretaria estadual de saúde, o caso pode estar relacionado a um evento adverso ocasionado por vacinação inadequada”, informou.

A pólio havia sido erradicada no país devido a uma forte campanha de vacinação, que enfraqueceu consideravelmente nos últimos anos. No final de agosto, a Mídia NINJA havia alertado que a baixa taxa de vacinação contra a pólio era uma ameaça para o reaparecimento da doença.

Na ocasião, em cerca de um mês da Campanha Nacional de Vacinação Contra a Poliomielite, apenas 21,6% do público-alvo havia recebido a vacina. Segundo o Ministério da Saúde, a meta é vacinar cerca de 11,5 milhões de crianças, incluindo a atualização da caderneta vacinal de crianças e adolescentes menores de 15 anos, não vacinados ou com esquemas vacinais incompletos.

Até esta quinta, a Campanha aplicou 7,1 milhões de doses do imunizante, cerca de 61%. Em diversos estados do país, a campanha de vacinação contra poliomielite foi prorrogado até o dia 30 de outubro.

No Pará, onde foi confirmado o primeiro caso em 33 anos, o estado imunizou apenas 44,7% das crianças. A região Norte também é a que tem a menor taxa de vacinação contra pólio do país, com 50,57%, seguido pelo Centro-Oeste com 52,69%, Sudeste 57,58%, Nordeste 69,96% e Sul com 72,47%, o mais próximo de atingir o objetivo de 80%.

Cobertura vacinal diminuiu

Para a jornalista Mariana Varella, editora-chefe do Portal Drauzio Varella, entre os motivos para a baixa procura estão a falta de campanhas mais intensas do governo federal e estaduais. Ela também diz que o horário de funcionamento dos postos de saúde dificultam para os pais que trabalham de levar os filhos, além da baixa percepção de risco diante do longo período sem casos da doença.

Outro problema agravante destacado pela filha do médico Drauzio Varella são as fake news sobre insegurança ou ineficácia dos imunizantes que ganharam força durante a pandemia da covid-19, além do próprio surto do novo coronavírus que prejudicou a imunização de diversas outras doenças.

Conforme informações do Ministério da Saúde, a cobertura vacinal da poliomielite vem caindo significativamente. Em 2015, o Brasil vacinou 98,3% do público-alvo, taxa que caiu para 84,2% em 2019, 76,2% em 2020. No ano passado, a cobertura com as três doses iniciais da vacina foi de 69,9%; com as doses de reforço, 59,9%. (Confira a tabela abaixo).

Segundo Mariana Varella, desde 2015, o Brasil enfrenta uma queda na cobertura vacinal de todas as doenças para as quais existem vacinas. Ela lembra que por conta disso, o Brasil perdeu o certificado de erradicação do sarampo, concedido ao país em 2016 pela OMS (Organização Mundial da Saúde), depois de voltar a apresentar casos da doença. Em 2019, no primeiro ano do governo de Jair Bolsonaro, o país perdeu o status, depois de mais de 12 meses de incidência de casos confirmados do mesmo vírus. “Só nos dois primeiros meses de 2022, foram mais de 17 mil casos notificados, o que revela o risco de vivermos uma epidemia do sarampo”, alerta.

“Especialistas vêm alertando para a ameaça de vivermos situação semelhante em relação a outras doenças já controladas, além da poliomielite, também há riscos com a difteria e a rubéola”, alerta Mariana.

Sobre a poliomielite

A poliomielite é uma doença contagiosa causada por um vírus chamado poliovírus que tem três sorotipos (1, 2 e 3) e cuja transmissão se dá por via oral-fecal (contato da boca com fezes contaminadas) ou oral-oral, por meio de gotículas expelidas ao falar, tossir ou espirrar.

Em geral, pode ou não causar paralisia infantil, e costuma atingir crianças menores de 4 anos, embora também possa acometer adultos.

A maior parte das infecções provoca nenhum ou poucos sintomas, semelhantes aos de uma infecção respiratória como a gripe. No entanto, cerca de 1% dos pacientes podem desenvolver a forma paralítica da doença, quando o vírus atinge os neurônios motores e pode deixar sequelas permanentes.

Além disso, a doença pode causar a síndrome pós-pólio, uma desordem neurológica que acomete pessoas infectadas cerca de 15 anos depois de terem sido contaminadas pelo vírus. O quadro não é provocado pela reativação do vírus, mas pelo desgaste proveniente da utilização excessiva dos neurônios motores próximos daqueles destruídos pelo poliovírus.

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