(Mídia Ninja)

 

Com cobertura colaborativa ATL 2022

 

Uma performance de cores, de cenas anunciando um Brasil que não é mais o mesmo! O som dos maracás, as músicas em multi idiomas… Corpos expostos ao limite, ao perigo, aos riscos daqueles que não enxergam a origem de seu país e tentam calar vozes que nos chegam de tempos imemoriais.

Não fosse um protesto visceral, bem poderia ser uma ópera popular, com figurinos autênticos, coreografia única, merecedora dos grandes palcos. Indígenas com os corpos cobertos de lama e sangue cinematográfico, marcharam até o Ministério das Minas e Energia.

No ato chamado “Ouro de sangue: Marcha contra o garimpo que mata e desmata”, realizado nesta segunda-feira (11), representantes de várias comitivas carregaram peças que simbolizavam barras de ouro, protestando contra o aumento de atividades de garimpo ilegal em territórios indígenas. A mobilização fez parte do Acampamento Terra Livre (ATL) 2022, que segue ativo na capital federal até o dia 14 de abril.

Uma das principais lutas pautadas pelos indígenas nesta edição do ATL é o Projeto de Lei (PL) 191/2020, que libera a mineração, instalação de hidrelétricas, exploração de petróleo e gás e a agricultura em larga escala dentro das terras dos povos originários. 

De que lado você está?

Em frente ao ministério, coberta de lama e segurando uma placa escrita “Blackrock, which side are you on? [Blackrock, de que lado você está?]”, Alessandra Munduruku, liderança do Médio Tapajós/PA, protestou: “Blackrock financia a nossa morte!”. A Blackrock é uma empresa estadunidense de investimentos global e foi, recentemente, denunciada por financiar atividades de garimpo em territórios indígenas. 

Presente também no ato, Kretã Kaingang, coordenador executivo da Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (APIB) – Sul, reforçou a importância de lutar pelas futuras gerações.

“Precisamos lembrar que o garimpo não é só ouro, não é só prata. O garimpo é também o gás, o petróleo e a mineração. E o incentivo dessas produções [de petróleo, gás e minério] dificulta ainda mais a demarcação de nossas terras, além de contaminar rios e aquíferos. Nós sofremos muito, as gerações futuras sofrem também. Por isso, é muito importante lutarmos hoje para garantir o futuro das gerações que virão depois de nós”, afirmou Kretã.

PL 191/2020

O acampamento ocorre no momento em que o Congresso Nacional e o governo federal pretendem apreciar projetos que violam os direitos dos povos indígenas, como o próprio PL 191/2020.

Aproveitando a guerra na Europa, entre Rússia e Ucrânia, Bolsonaro pediu urgência à Câmara Federal para aprovar o projeto. O pedido foi feito sob o argumento de “diminuir a dependência do Brasil de fertilizantes”. Apesar de ser de 2020, o texto segue engavetado no Congresso Nacional.

A proposição foi encaminhada, no dia 6 de fevereiro de 2020, pelo então ministro da Justiça, Sérgio Moro, e por Bento Albuquerque, do Ministério de Minas e Energia. Na época, a Câmara Federal era presidida por Rodrigo Maia. Após intensa mobilização dos povos indígenas e aliados, Maia decidiu não colocar a matéria em pauta. Agora, com Arthur Lira (PP-AL) no cargo, o projeto voltou a ganhar repercussão. No entanto, a tramitação do projeto segue paralisada na Casa. 

Durante o ATL 2022, indígenas, parlamentares e instituições parceiras da causa indígena, junto com a Frente Parlamentar Mista em Defesa dos Direitos dos Povos Indígenas (FPMDDPI), realizaram o lançamento da Carta Aberta contra o Projeto de Lei (PL) 191/2020, posicionando-se contrários à aprovação do projeto de lei.