Depois de ter sido apropriada pelos “patriotas” bolsonaristas, os estudantes brasileiros pretendem resgatar este simbolismo que passou a ser associada ao obscurantismo, ao golpismo e ao conservadorismo

Estudantes com o rosto de verde e amarelo no Largo São Francisco. Foto: Mídia NINJA

Por Mauro Utida

A “amarelinha” e os caras pintadas voltaram a fazer parte das manifestações pela democracia no ato histórico desta quinta-feira, dia 11, na leitura da “Carta às brasileiras e aos brasileiros em defesa do Estado Democrático de Direito”, que aconteceu nesta quinta-feira (11), no Largo São Francisco, Centro de São Paulo.

Depois de ter sido apropriada pelos “patriotas” bolsonaristas, os estudantes brasileiros pretendem resgatar este simbolismo que passou a ser associada ao obscurantismo, ao golpismo e ao conservadorismo. A iniciativa é da União Nacional dos Estudantes (UNE) que tem mobilizado a atual geração a pintar os rostos de verde e amarelo, assim como nas manifestações que culminou no impeachment de Fernando Color, em 1992. Desta vez, a iniciativa é para derrubar Jair Bolsonaro.

Há 30 anos atrás, os estudantes entraram em cena e derrubaram Collor. Naquela época o presidente da UNE era Lindbergh Farias (PT) que usou as redes sociais para incentivar os estudantes a voltarem às ruas neste ícone dia 11 de agosto, como naquela época. “Eu tenho um imenso orgulho de ter sido a cara e a voz dos cara pintadas”, disse.

A estudante Caroline Bigi, 17 anos, foi ao ato com a camisa da seleção e com o rosto pintado de verde e amarelo e declarou que é injusto relacionar a bandeira e as cores do Brasil ao Bolsonaro, por isto ela acha importante este movimento para resignificar este simbolismo. “Este movimento é de antes do Bolsonaro e temos que lutar pelos nosso país e não por este cara que esta no poder no Brasil”, declarou ao lado da amiga Bianca Martins dos Santos, que também estava com a “amarelinha”.

Caroline Bigi e Bianca Martins dos Santos com a “amarelinha”. Foto: Mídia NINJA

Ryan Alexander, de 16 anos, disse que estava no ato de rosto pintado para relembrar a manifestação de 30 anos atrás  para lutar pelo Brasil e pelos direitos dos estudantes que estão em risco no governo Bolsonaro. “Queremos um país vivo novamente, por isso estou aqui para reelembrar os caras pintadas que há 30 anos estavam neste mesmo lugar lutando pela democracia. E 30 anos depois estamos aqui com os trabalhadores para pintar o rosto de verde e amarelo para lutar pelo Brasil novamente”, afirmou.

Defesa da democracia

A presidente da UNE, Bruna Brelaz, discursou no Salão Nobre e declarou que o povo brasileiro não aguenta mais golpistas e que não há mais espaço para o autoritarismo no Brasil. Ela lembrou que a UNE lutou contra a ditadura militar e redemocratização do país e que os estudantes é a atual geração que se orgulha em defender o legado de milhares de brasileiros e brasileiras que lutaram para que ter o direito ao voto.

“Esse é um momento emocionante de muita luta, mas também a certeza que a sociedade se une para garantir que a democracia prevaleça. O povo brasileiro jogará na lata de lixo da história aqueles que flertaram com o obscurantismo do passado”, afirmou.

Ato histórico

O dia 11 de agosto voltou a ser símbolo de luta pela defesa da democracia brasileira, eleições livres e contra o retrocesso no mesmo Largo São Francisco, no Centro de São Paulo, onde há 45 anos a Faculdade de Direito da USP (Universidade de São Paulo) leu a primeira “Carta às brasileiras e aos brasileiros em defesa do Estado Democrático de Direito”, na época contra a ditadura militar e pela redemocratização do país.

Neste ano, o ato reuniu cerca de 7 mil pessoas, segundo a organização. Dentro da Faculdade de Direito da USP, aproximadamente duas mil pessoas, entre juristas, estudantes, empresários, políticos, religiosos, artistas, ativistas e personalidades públicas, lotaram o salão nobre e o Pátio das Arcadas para acompanhar a leitura da carta. Do lado de fora, no Largo São Francisco, onde foi instalado um telão, mais de cinco mil, entre estudantes e integrantes de movimentos sociais, além da socidade civil, assistiram o momento. O presidente Jair Bolsonaro (PL) foi rechaçado dentro e fora do ato.

A leitura no salão nobre ficou a cargo de José Carlos Dias, ex-ministro da Justiça e orador da Carta aos Brasileiros de 1977. Já no Pátio das Arcadas, os professoras da USP, Eunice Aparecida de Jesus Prudente, Maria Paula Dallari Bucci e Ana Bechara, junto ao o advogado Flávio Bierrenbach, leram o documento que já possui quase um milhão de assinaturas. Também teve participação especial a presidenta do centro acadêmico 11 de Agosto, Manuela Moraes.