A Seleção Brasileira de Futebol Feminino perdeu a partida das oitavadas de final da Copa do Mundo de Futebol Feminino ontem, contra a França, no jogo sediado no país. Wendie Renard, de 28 anos, uma das melhores jogadoras da seleção francesa, teve uma atuação presente, protagonizando inclusive uma falta dura contra a brasileira Debinha. Ao chamar a atenção dos torcedores brasileiros, recebeu o que há de pior das nossas terras: uma série de comentários racistas.

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A filosofa Djamila Ribeiro, fez uma publicação sobre: “Uma atleta excelente, mas que vira piada. Por isso tenho zero tolerância com “humoristas” que fazem isso. Só a gente sabe como é ser alvo desse tipo de comentário. Quantas mulheres negras se violentam para atender a imposição de padrão estético? Quantas feridas causadas no couro cabeludo, na auto estima? Quantas violências no cotidiano escolar?”

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Quantas de nós já fomos Wendie Renard? A zagueira da França Wendie Renard foi vítima de piadas racistas por conta dos seus cabelos. Ela tem 28 anos, já venceu 11 campeonatos franceses, 4 Champions League, recebe o terceiro maior salário do futebol feminino, mas foi reduzida "à preta do cabelo duro e feio". Uma atleta excelente, mas que vira piada. Por isso tenho zero tolerância com "humoristas" que fazem isso. Só a gente sabe como é ser alvo desse tipo de comentário. Quantas mulheres negras se violentam para atender a imposição de padrão estético? Quantas feridas causadas no couro cabeludo, na auto estima? Quantas violências no cotidiano escolar? Desde "não vou dançar com a neguinha do cabelo duro" a "por que você não alisa seu cabelo?" Só a gente sabe. Só as mulheres dos cabelos crespos, que não fazem cachos, sabem. Só as dos "cabelos sem definição", sabem. Por que Wendie deve atender a um padrão, mesmo aquele estabelecido dentro da comunidade, como se não fôssemos diversas? Por que você se incomoda com o modo pelo qual a jogadora se apresenta? O que isso interfere na sua vida? "Ah mas eu acho feio". Problema seu e de seus gostos condicionados. Até quando vamos reduzir mulheres, sobretudo negras, às suas aparências? Sugiro leitura de "Racismo Recreativo", de @ajmoreirabh. Wendie Renard tem nome e sobrenome, parafraseando Lélia Gonzalez, para que o racista não coloque o nome que quiser.

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Maíra Azevedo, conhecida como Tia Má, também comentou o caso: “Isso não me assusta, nem me surpreende…eu ouvia “nega do cabelo duro, que não gosta de pentear”…e via as pessoas rindo de mim…isso estimulou que eu, por muito tempo, me odiasse e odiasse meu cabelo! Não tem graça, é perverso e é cruel! A tentativa de ridicularizar é maior do que a vontade de se informar!”

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Eu me vejo em @wendie_renard e me reconheço! Cabelo ruim, duro, pixaim, bombril… Qual a novidade de rir dos cabelos das mulheres negras?? Isso não me assusta, nem me surpreende…eu ouvia “nega do cabelo duro, que não gosta de pentear”…e via as pessoas rindo de mim…isso estimulou que eu, por muito tempo, me odiasse e odiasse meu cabelo! Não tem graça, é perverso e é cruel! A tentativa de ridicularizar é maior do que a vontade de se informar! Wendie é a terceira maior jogadora do mundo, está entre as mais bem pagas…mas idiotas querem apenas rir do seu cabelo e esquecem da própria ignorância! #preta #pretos #mulheresnegras #amor #vidasnegrasimportam #wendie #copadomundofeminina

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Windie é a terceira melhor jogadora do mundo e deve enfrentar comentários como estes, não só vindos de brasileiros o tempo todo. Outra prova que para mulheres negras, não importa o quanto você tenha sucesso no que faz, o racismo nunca tira férias.