A diferença entre os indicados de Melhor Filme Internacional e Melhor Filme estão cada vez mais tênues e uma mesma produção pode aparecer nas duas listas

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Por Carolina Martins para a cobertura colaborativa  Cine NINJA 

Os amantes de cinema já sabem que não têm hora para dormir neste domingo: a 95ª cerimônia do Oscar está marcada para começar às 20h (horário de Brasília), mas a gente não desliga até a entrega da principal estatueta da noite – a de Melhor Filme.

É essa a categoria de maior prestígio. A premissa é que a Academia de Artes e Ciências Cinematográficas dos Estados Unidos use o prêmio para prestigiar a melhor produção cinematográfica do ano anterior. E chegar à lista de indicados já é uma credencial que eleva, e muito, o alcance do filme.

Mas, outra categoria vem alcançando o mesmo patamar. O entendimento é de que os indicados como Melhor Filme Internacional estão praticamente em pé de igualdade com os do prêmio principal, a diferença é que foram produzidos fora dos Estados Unidos.

As convergências estão tão grandes que está se tornando comum um mesmo filme concorrer nas duas categorias. Neste ano, “Nada de novo no front”, uma produção alemã sobre a Primeira Guerra Mundial, foi indicada como Melhor Filme Internacional e também como Melhor Filme.

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O mesmo ocorreu em 2020, com o sul-coreano “Parasita”, que rompeu a barreira do idioma, foi indicado e ganhou nas duas categorias. Foi a primeira vez que um filme falado totalmente em língua não inglesa levou o prêmio principal.

Se o idioma não é mais uma questão para a Academia, qual é a real diferença entre as duas categorias?

Para o professor de audiovisual e gestor de projetos da AO3, Alex Vidigal, a resposta é simples: mercado. Ele lembra que para um filme produzido fora dos Estados Unidos romper a bolha e chegar à lista de indicados do Oscar é preciso um trabalho grande de distribuição.

“Se o filme tem um estofo, tem uma força pelo diretor ou pelo país onde foi produzido, ele é recebido de outra forma. Mas, tem um peso de distribuição também. Geralmente, o filme que entra como Melhor Filme Internacional já teve aclamação em festivais internacionais, ou já tem uma afeição da mídia independente, o que leva alguma produtora independente dos Estados Unidos a pegar o filme para distribuir no país”, explicou o especialista em entrevista para o Cine NINJA.

“Nada de novo no front”, por exemplo, é uma produção Netflix, o que garante um alcance praticamente global. Ter um filme distribuído por streaming possibilita que ele chegue a muito mais pessoas. “Foi feito um trabalho de distribuição entre os membros da Academia. É um reposicionamento de mercado: uma rede de streaming que consegue emplacar filmes no Oscar por meio de lobby. Para um filme chegar a esse grau de relevância, de ser indicado nas duas categorias, o trabalho de marketing foi muito bem feito”, analisa o professor.

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Elenco de peso

Trabalhar com atrizes e atores conhecidos de Hollywood e que chamem a atenção também é uma estratégia para seduzir a Academia. Nesse sentido, o elenco de “Triângulo da Tristeza” pode ter tido um peso considerável para o diretor sueco Ruben Östlund sair de Internacional para ser indicado como Melhor Filme.

Em 2018, quando a categoria ainda tinha o nome de Melhor Filme Estrangeiro, ele concorreu com o “The Square: A Arte da Discórdia”. Na época, ganhou o prêmio principal de Cannes, mas perdeu o Oscar para o chileno “Uma mulher fantástica”.

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Este ano, venceu Cannes novamente e concorre ao prêmio principal da Academia, graças também à relevância que seu nome ganhou após as indicações anteriores.

Algo parecido aconteceu com “O Parasita”, em 2020. Apesar de ser uma produção majoritariamente sul-coreana, o diretor, Bong Joon Ho, já era conhecido em Hollywood e tinha gravado outros filmes com atores badalados – o que também aproxima a Academia.

Para o professor Alex Vidigal é muito difícil uma produção “sair do nada” e furar todas as bolhas para chegar à lista de indicados do Oscar. Daí a importância, na visão dele, de manter a categoria de Melhor Filme Internacional, por mais que ela se confunda em muitos pontos com a de Melhor Filme. “É uma categoria muito importante para reposicionar no mundo boas produções fora dos Estados Unidos. E para colocar em destaque a cinematografia de outros países fora do eixo. Não seria justo colocar todos na mesma categoria”, finaliza.

Texto produzido em cobertura colaborativa da Cine NINJA – Especial Oscar 2023