Marcado pela zagueira Elane, o registro foi encontrado, pela FIFA, após 32 anos da primeira edição do Mundial

Foto: Reprodução/CBF – Brasil na primeira Copa do Mundo Feminina, em 1991

Por Thammy Luciano

A recente eliminação não apaga a história do Brasil em Copas do Mundo. Há 32 anos, a seleção brasileira participou do primeiro mundial feminino e abriu o caminho para as novas gerações. Em julho deste ano, mais uma parte da história do futebol feminino brasileiro foi revelada, o registro do primeiro gol do país na competição, marcado pela zagueira Elane dos Santos, foi divulgado pela FIFA.

Desde 1991, quando aconteceu a primeira edição da Copa do Mundo Feminina, a seleção brasileira participa do mundial. Em solo chinês, o Brasil não fez uma boa campanha. A equipe foi a terceira colocada do Grupo B, ficando atrás de Estados Unidos e Suécia, e foi eliminada na fase de grupos. A única vitória brasileira foi na estreia, quando ganhou de 1 a 0 do Japão. Na partida, foi marcado o primeiro gol brasileiro em uma Copa do Mundo, o “gol perdido”.

Por mais de três décadas, o registro do primeiro gol ficou guardado apenas na memória daqueles que estavam presentes no jogo. Para reproduzir o momento, em 2019, uma patrocinadora da seleção fez a simulação do lance para uma campanha publicitária, porque não encontrou o registro oficial. Em 2023, para a exposição “Rainha de Copas”, do Museu do Futebol, o gol foi representado em uma maquete. Todas as alternativas foram utilizadas para contar a parte perdida da história do futebol feminino brasileiro.

No último dia 20, quase 32 anos depois, o lance foi divulgado pela FIFA em seus canais oficiais. Elane, a autora do gol, nunca tinha visto o vídeo daquele momento histórico e só soube que as imagens foram resgatadas quando recebeu a publicação da amiga e ex-jogadora Leda. Diante do descaso, a ex-zagueira e capitã da seleção lamentou a demora na divulgação das imagens. “É um desrespeito não só comigo, mas com a história do futebol feminino.”, comentou em recente entrevista ao Trivela.

Pioneirismo

O primeiro gol da seleção feminina brasileira em uma Copa do Mundo começou com um escanteio. A bola foi lançada direto para a área adversária e desviada pela goleira japonesa. A sobra na área foi suficiente para a zagueira Elane dominar a bola e chutar ao gol. Houve uma confusão na área, mas o gol já havia sido marcado para o Brasil, garantindo a primeira vitória no mundial.

Foram anos contando a história de um gol sem registros. O vídeo não estava disponível na internet e nunca havia sido compartilhado pela Federação Internacional de Futebol, era como se o lance nunca tivesse existido. “Se o que eles (FIFA) queriam era esconder o gol, então fizeram direitinho.”, disse Elane ao Trivela.

Em declaração à CBF, em julho de 2020, a ex-capitã da seleção contou que demorou para reconhecer o feito histórico. “Na hora a gente fica meio aérea. Tinha época da minha vida em que eu nem lembrava disso. Essa coisa de que eu tinha feito o primeiro gol brasileiro numa Copa do Mundo Feminina passava despercebido”, disse Elane.

Foto: Divulgação/CBF – A ex-zagueira e capitã da seleção foi autora do primeiro gol em no mundial feminino

Uma das pioneiras do futebol feminino brasileiro, Elane dos Santos teve passagens por equipes como Santos, São Paulo, Corinthians e Portuguesa, e defendeu a seleção brasileira entre 1988 e 1999. Vestindo a amarelinha, ela participou de quatro Copas do Mundo, uma Olimpíada e três Sul-Americanos. A ex-zagueira estava na equipe que fez uma excelente campanha e conquistou o terceiro lugar na Copa do Mundo de 1999.

Para conseguir seguir o sonho de ser jogadora, Elane foi babá, doméstica e trabalhou no mesmo clube que treinava. Ela lutou pelo futebol feminino e conquistou espaço em um período em que a modalidade tinha pouco apoio. Após fazer história, em 2001, Elane dos Santos encerrou sua carreira nos gramados.

As pioneiras lutaram pela visibilidade da modalidade esportiva. Ao longo da história, as mulheres foram – e ainda são – silenciadas, e a realidade daquelas que deram o pontapé inicial no futebol feminino brasileiro ainda é marcada por batalhas cotidianas. Aos 55 anos, Elane é motorista de BRT no Rio de Janeiro e não acompanhou os jogos da seleção, por conta do fuso horário e do trabalho. “Eu queria muito ver, mas essa é a situação das pioneiras. Nós temos que trabalhar para nos mantermos. Essa é a minha prioridade hoje.”, revelou ao Trivela.

Texto produzido em cobertura colaborativa da NINJA Esporte Clube