A violência física e verbal está presente desde sempre no futebol.

Por Gabriela Nascimento

O Brasil tem o título de “País do Futebol”, onde as pessoas param as suas vidas para acompanhar os campeonatos e além disso, elas evidenciam a sua paixão pela modalidade. É nítido essa paixão, em época de Copa do Mundo onde as ruas são enfeitadas e todos já tinham se programado para acompanhar o tão esperado momento onde todos iam torcer juntos pela seleção brasileira. 

Com o passar dos anos, essa paixão coletiva pela modalidade foi se tornando algo doentio, onde cada um tinha a sua ideologia e não havia espaço para pensamentos distintos. Além disto, as torcidas nos estádios influenciam bastante esse clima tenso entre os torcedores, e essas mesmas torcidas são como “filtros” que podem tanto ajudar o time a vencer, como também pode gerar desconfortos quando o time perde ou comete algo que possa ser visto como ruim para o time, como faltas, cartões etc.

As emoções positivas e negativas podem interferir na concentração, resistência e aumentar a sensação de fadiga. As emoções conseguem impactar tanto os jogadores quanto os torcedores. Durante a competição os hormônios ficam na flor da pele, e todos os sinais podem interferir negativamente para o surgimento de possíveis desentendimentos entre ambas partes. 

Em entrevista ao Jornalismo Júnior, o Cardiologista do esporte, Dr. Gustavo Ida, afirmou que ”As emoções negativas são mais comuns, intensas e prolongadas, enquanto as positivas elas também são intensas, mas são menos comuns e mais efêmeras”. Com base no que foi abordado até aqui, sabemos a importância dos torcedores e o quanto eles podem causar coisas boas e ruins.

No Brasil

Recentemente, a jovem Gabriela Anelli, de apenas 23 anos de idade, foi atingida por estilhaços de vidro durante um conflito entre Flamenguistas e Palmeirenses. Outro episódio de violência ocorreu com o jovem Lucas Gabriel Rosendo, de 21 anos, que foi espancado até a morte por participantes de torcidas organizadas do Sport.

Neste ano, torcedores fizeram atos de destruição como depredação, tumulto e correria próximo aos estádios, como aconteceu no Recife durante o campeonato Brasileiro da Série D, entre Santa Cruz e Campinense.

O Prof. Dr. da Faculdade de Educação Física da Universidade Estadual de Campinas (FEF-Unicamp), Felipe Tavares Paes Lopes, fez uma análise sobre a motivação para as brigas ligadas ao futebol. Em entrevista para o “trivela”, ele afirmou que  Não que seja uma prática legal, mas é vista como uma prática digna de apoio pelo conjunto de uma forma geral. Se pegar comentários em redes sociais, muitas pessoas responsabilizam as torcidas organizadas por falta de cobrança a jogadores. Quem critica em um dia está apoiando em outro. A violência no futebol é simplesmente legítima dentro desse universo”, afirmou Felipe.

Copa do Brasil

No último domingo (24), ocorreu a final da Copa do Brasil que reuniu milhares de torcedores para assistir o jogo do São Paulo contra o Flamengo que aconteceu no Estádio do Morumbi, na Zona Sul de São Paulo. Após o fim da competição e com o resultado favorável para o tricolor paulista, no lado de fora do estádio as torcidas estavam comemorando e a partir disso gerou uma agitação de ambos torcedores dos clubes.

Segundo relatos do SporTV, a polícia precisou intervir e dispersou alguns grupos de organizadas que estavam amontoados em frente aos ônibus das delegações, além disso o canal de TV fechada, registrou imagens de um grupo de policiais dando golpes de cassetetes em torcedores do São Paulo. Posteriormente, segundo a Secretaria da Segurança Pública (SSP), o torcedor do São Paulo, Rafael Garcia, de 32 anos, foi encontrado com um corte na cabeça em uma via próxima ao Morumbi, o qual foi socorrido e levado ao Pronto Socorro Campo Limpo, mas não resistiu. O caso segue em processo de  investigação pelo Departamento de Homicídios e de Proteção à Pessoa (DHPP).

Repercussões

O  Ministério Público do Rio de Janeiro (MPRJ) já realizou diversas solicitações para o afastamento das organizadas nos estádios, essa medida iria diminuir evitar ou até mesmo as confusões que são provocadas por eles. Segundo a coluna Panorama Esportivo, do jornal O Globo, no dia 26 de agosto (26/08/2023), um membro da torcida “Força Flu” arremessou uma pedra contra o ônibus em que a delegação do Botafogo estava, e nesse ocorrido, o atacante Carlos Alberto foi atingido pelos estilhaços mas o ferimento não foi  grave. Após esse caso o Batalhão Especial de Policiamento em Estádios (BEPE) fez um relatório e enviou para 4ª Promotoria de Justiça de Tutela Coletiva e Defesa do Consumidor e do Contribuinte, que fez um pedido ao MPRJ. 

“De todo o explanado, fica patente o desvirtuamento da finalidade da agremiação esportiva, uma vez que a prática de atos de violência transforma o espetáculo desportivo em declarada guerra de gangues em busca de dominação subsocial e imposição de sua suposta força no mundo esportivo”, esse é um trecho do pedido enviado ao MP.

A falta de uma punição severa fica evidente após tantos casos de violência no esporte, isso mostra o quanto é necessário uma medida rápida e eficaz, que possa resolver  essa situação de forma efetiva. O afastamento é utilizado como punição e é uma das medida mais utilizadas nos casos de violência. Essa medida consiste no afastamento do torcedor, ou seja, ele não conseguirá frequentar os jogos como participante das organizadas ou usando a camisa do seu time. 

Segundo uma pesquisa realizada pelo sociólogo Mauricio Murad, da Universidade Salgado de Oliveira, afirma que 70% dos torcedores deixaram de ir aos estádios para assistir os jogos devido o aumento da violência nesses ambientes, além disso a pesquisa verificou que entre o ano de 2009 até 2019 foram identificados mais de 157 mortes em jogos das séries A, B e C do Campeonato brasileiro de Futebol. A Agência Senado afirmou que em 2023 já foram identificados ao menos oito mortes em conflitos envolvendo torcedores 

Em entrevista para a TV Cultura, o delegado César Antônio Borges Saad, da Delegacia de Repressão aos Delitos de Intolerância Esportiva – (DRADE), do Departamento de Operações Policiais Estratégicas – (DOPE), afirmou que a falta de punição é a principal causa para o aumento e a repetição desses confrontos entre os torcedores. “Uma alteração legislativa seria o caminho para que as autoridades pudessem aplicar com mais rigor as leis pertinentes ao Estatuto do Torcedor e ao Código Penal. O endurecimento das leis, facilitaria uma maior punição a esses torcedores e, consequentemente, os casos de violência diminuíram.”, declara César.