Por Patrick Simão do Além da Arena

O futebol masculino brasileiro não se preocupa com as mulheres e não reflete sobre a violência contra a mulher. Em 2023, diversas declarações públicas demonstram isso. Após estrear pela Seleção Brasileira, o lateral-direito Yan Couto afirmou que seu principal ídolo e referência na posição é Daniel Alves, que em janeiro deste ano foi preso por estupro. Poderiam argumentar que ele se referiu ao jogador apenas pelo aspecto do futebol, porém é preocupante citá-lo sem em nenhum momento a declaração titubear ou trazer ressalvas sobre Daniel Alves, que recebeu o adjetivo de ídolo.

Mais tarde, após críticas, Yan Couto pediu desculpas: “Quando me referi ao Daniel Alves como ídolo, foi no sentido do futebol. Errei profundamente ao não especificar e deixar livre para a interpretação de cada um. Quero deixar claro que repudio totalmente qualquer tipo de crime, sobre tudo contra mulheres. Deixo minhas sinceras desculpas a todas que foram ofendidas com o que foi dito”, disse Yan Couto. Porém, a fala do lateral se referindo a Daniel Alves foi mais um caso dentre muitos outros que ignoram as mulheres.

Em abril, o técnico Cuca, condenado por abuso sexual contra uma garota de 13 anos em 1987, foi contratado pelo Corinthians. Neste momento, a crítica não é apenas ao clube paulista, mas a todos os outros 8 times grandes e tradicionais brasileiros que também já o contrataram. A pressão sobre Cuca cresceu nos últimos anos e, dessa vez, os protestos culminaram na sua saída. Porém, o treinador recebeu o apoio dos jogadores através de um abraço, em sua despedida. Além disso, o jogador Roger Guedes o defendeu, dizendo esperar que Cuca prove sua inocência (sendo que foi condenado), culpando o ódio e inclusive condenando as críticas de Ana Thais Matos.

 

Foto: Edu Andrade/Estadão

 

A partir disso, entramos em outro ponto: a rejeição às mulheres no futebol. Vemos este comportamento através de comentários e críticas desproporcionais (e enviesadas) a comentaristas, narradoras e jogadoras, vindas de parte considerável do público. Recentemente, a estreia da Copa do Mundo feminina teve uma enxurrada de comentários misóginos vindas do público, durante a transmissão. Ainda assim, o futebol feminino e as mulheres têm e seguirão tendo uma inserção cada vez maior.

Os exemplos são muitos e também se juntam ao silêncio quanto aos casos de Robinho e Daniel Alves, condenados por estupro. Robinho, inclusive, tira fotos e é chamado de ídolo por muitos jogadores do futebol brasileiro. Além disso, Antony, recentemente denunciado com prints por agressão física e psicológica contra a ex-namorada, foi convocado para a Seleção Brasileira. Apenas após muitas críticas, ele foi desconvocado.

A declaração sobre Daniel Alves ser ídolo é mais um dos muitos exemplos de que praticamente todo o futebol masculino ignora ou não reflete sobre a violência contra a mulher. Declarações como essas são também uma violência simbólica, como já afirmado por muitas mulheres de dentro e fora do futebol.