Mesmo com os maiores jogadores da história da seleção brasileira sendo negros, ela sempre foi comandada por brancos

Foto: Getty Images / 2014

Por André Borghi

A seleção brasileira de futebol nunca disputou uma Copa do Mundo com treinador negro. Sendo a única seleção do mundo a disputar todas as edições, desde a criação do torneio, em 1930, a maior campeã mundial, com 5 títulos (1958, 1962, 1970, 1994 e 2002), sempre foi comandada por brancos no campeonato de nível mundial.

De acordo com o site de notícias Alma Preta, até 2018 a seleção brasileira masculina de futebol já havia atuado 907 vezes ao longo da história, incluindo partidas oficiais e amistosos. Dessas partidas, em apenas seis jogos, o comandante da equipe era uma pessoa negra. Nenhuma delas durante a Copa do Mundo.

Em contrapartida, a maioria dos maiores jogadores que fizeram história com a amarelinha são negros: Pelé, Ronaldinho Gaúcho, Ronaldo, Rivaldo, Romário, entre outros. Além disso, a Confederação Brasileira de Futebol (CBF), fundada em 1914 como CBD, foi presidida pela primeira vez por um homem negro após mais de 100 anos de sua fundação, pelo atual presidente, Ednaldo Rodrigues, que assumiu o cargo de maneira interina, após o presidente eleito Rogério Caboclo se envolver em um escândalo de acusações de assédio. 

A ausência de pessoas negras nos cargos de comando no futebol não acontece apenas na seleção brasileira. Dos 20 técnicos que encerraram a série A do Campeonato Brasileiro de futebol em 2022 no comando, apenas 2 não são brancos: Jair Ventura, do Goiás, e Orlando Ribeiro, técnico interino do Santos.

O técnico da seleção brasileira Tite, em coletiva de imprensa, em outubro de 2021 foi questionado sobre sua visão a respeito do assunto e declarou: “há sim um preconceito estrutural (…) Devemos lutar contra sim, pois há um preconceito em relação ao técnico negro”. Na mesma ocasião, o auxiliar César Sampaio afirmou: “Durante muito tempo, nós, negros, fomos cerceados em alguns direitos. Em todos os segmentos. A globalização trouxe à tona com alguns absurdos. Me sinto muito feliz de ocupar este espaço e capaz de estar aqui. Falo para a classe negra em geral que eles possam lutar. Sou um defensor de que esse espaço aqui não tenha cor, mas que todo capaz possa ocupar.”

 O doutor em Ciências Sociais pela PUC-SP, Igor Moreira, afirma em sua tese de doutorado “Racismo no futebol brasileiro: a ótica do jogador negro”, que o “racismo científico” é determinante na transição do jogador para fora do campo no fim da carreira, pois enxergam que o negro é apto para jogar futebol e praticar exercícios físicos, mas o modo de pensar e a especialidade do futebol fica sob domínio do homem branco.

Isso também explica o fato de que boa parte dos técnicos negros que tentam alcançar cargos de treinadores dos times principais de clubes de grande expressão, são limitados ao cargo de auxiliares técnicos e treinadores das categorias de base, e também a escassez de técnicos negros no comando da seleção brasileira em copas do mundo e outros torneios.

Texto produzido em cobertura colaborativa da NINJA Esporte Clube