Foto: Ricardo Bufolin/CBG

Por Paula Cunha

Escolhas, a vida é feita de escolhas, e uma carreira no esporte também. A prova disso é Rebeca Andrade que, em 2023, participa do seu primeiro Pan. “É surpreendente, porque eu fiz o caminho contrário: primeiro fui aos Jogos Olímpicos, depois a um Mundial e, agora, vou participar dos meus primeiros Jogos Pan-Americanos”, disse Rebeca antes da competição.

Ginástica é um dos esportes que mais gosto de ver. Quem não sonhava em fazer esses movimentos quando era criança? E um dos pontos positivos de assistir Ginástica Artística é que você não precisa entender nada do esporte para saber quando os movimentos deram certo. E para apreciar a beleza e a graça dos atletas.

Rebeca é perfeita até com um desequilíbrio na trave, mesmo assim ficando em primeiro lugar. Adoro ver as meninas saltando, mas a trave é especial porque tem música e coreografia. Elas dançam na trave que tem dez centímetros de largura, quer dizer, mal cabe um pé. Depois da desequilibrada, Rebeca manteve o psicológico e esteve focada para terminar a série. Nem precisou de solo (a ginasta estava se poupando), Rebeca flutua na trave e levou o ouro.

Nesse mesmo dia, Flavia Saraiva se tornou a brasileira a ganhar mais medalhas em Ginástica Artística numa mesma edição dos Jogos Pan-Americanos: cinco medalhas, sendo quatro de prata e uma de bronze. As brasileiras fizeram dobradinha no pódio com o ouro de Rebeca e a prata de Flavinha. Na véspera, Rebeca tinha ganhado o ouro num salto de tirar o fôlego. Eu mal tinha voltado a respirar quando ouvi Laís Souza: “Esse salto foi ainda melhor do que o do Mundial”. Quando Rebeca aterrissa, o chão treme. As ginastas vibram com a vitória umas das outras e a brasileira foi até reverenciada pela americana Jordan Chiles (sua principal oponente naquele momento). Fofas. Rebeca parece tímida, mas abre aquele sorrisão carismático: “Eu fico um pouco sem graça, né?(…) Mas é bem legal ver o quanto torcemos uma pela outra, o quanto elas ficam felizes pelo nosso sucesso e a gente pelo sucesso delas também”.

Nossa musa não esteve no Pan de Toronto 2015 e Lima 2019 muito por conta de lesões. Atletas lidam rotineiramente com a dor porque estão sempre no limite do corpo. A brasileira já pensou até em desistir: “Das três vezes que rompi o ligamento eu falei: Não quero mais essa vida, não é pra mim mãe, vem me buscar. (…) Ela falou que não ia me deixar desistir”. Rebeca termina seu Pan com medalhas em todas as provas disputadas: dois ouros e duas pratas. As brasileiras ficaram em segundo lugar na competição por equipes.

Um movimento muda tudo, mas ganhar o ouro desequilibrando: tem como ser mais maravilhosa? Assim como Biles tropeçou em seu solo no Mundial, Rebeca teve seu momento de mostrar que não parece, mas ainda é humana. Todo mundo só quer saber dela: a grande estrela do Pan e espelho para as meninas que sonham com uma carreira na ginástica. Seus treinos são repletos de fãs à procura de fotos e autógrafos da musa.

Nessa cobertura do Pan, feita no YouTube pela Cazé TV e Time Brasil, ouvi Laís Souza dizer logo no início das competições de Ginástica: “O esporte salva vidas”. Enquanto esse texto é escrito, o Brasil está em quarto lugar no quadro de medalhas dos Jogos Pan-Americanos com 14 de ouro, 24 de prata e 23 de bronze.