Dom Phillips é correspondente do The Guardian e vive no Brasil (Reprodução/Redes Sociais)

 

Depois que foi anunciado o desaparecimento do indigenista Bruno Pereira e o jornalista inglês, Dom Phillips, no Vale do Javari, Terra Indígena ameaçada pela presença de invasores – garimpeiros, madeireiros e pescadores ilegais -, uma onda de mensagens tomou as redes sociais cobrando ação das autoridades: “Onde estão Bruno e Dom?”. Bruno acompanha Dom, jornalista especializado na cobertura do meio ambiente, correspondente do The Guardian e que vive há 15 anos no Brasil.

O indigenista Bruno Araújo Pereira e o jornalista inglês, Dom Phillips, correspondente do The Guardian, desapareceram há mais de 24 horas. Eles saíram às 6h de ontem, da comunidade Ribeirinha São Rafael em direção à cidade de Atalaia do Norte, mas não chegaram lá, como informaram em nota, a coordenação da União dos Povos Indígenas do Vale do Javari (Univaja) e o Observatório dos Direitos Humanos dos Povos Indígenas Isolados e de Recente Contato (OPI).

Nesta tarde, a mulher de Dom, Alessandra Sampaio fez um apelo às autoridades brasileiras: “a noite agora se aproxima e Dom está em algum lugar da floresta esperando por ajuda”. No pedido de ajuda diz que implora para que busquem seu marido e o parceiro de expedição, Bruno Pereira.

“No momento em que faço este apelo, eles já estão desaparecidos há mais de 30 horas no Vale do Javari, uma das regiões mais conflagradas da Amazônia. Na floresta, cada segundo conta, cada segundo pode ser vida ou morte. Sabemos que, depois que anoitece, se torna muito difícil se mover, quase impossível encontrar pessoas desaparecidas. Uma manhã perdida é um dia perdido, um dia perdido é uma noite perdida. Só posso rezar para que Dom e Bruno estejam bem, em algum lugar, impedidos de seguir por algum motivo mecânico, e tudo isso vire apenas mais uma história numa vida repleta delas. Conheço, porém, o momento vivido pela Amazônia e conheço os riscos que Dom sempre denunciou como jornalista. A noite agora se aproxima e Dom está em algum lugar da floresta esperando por ajuda. Como atravessar essa noite sabendo que Dom está desaparecido? Quero dizer a vocês que Dom Phillips, meu marido, ama o Brasil e ama a Amazônia. Ele poderia viver em qualquer lugar do mundo, mas escolheu viver aqui. Quinze anos atrás, Dom deixou seu país, a Inglaterra, para viver no Brasil. Autoridades brasileiras, nossas famílias estão desesperadas. Por favor, respondam à urgência do momento com ações urgentes. Governo do Brasil, onde estão Dom Phillips e Bruno Pereira?”

Dom mora hoje em Salvador (BA). Ele é conhecido por posicionamento crítico à exploração ilegal da Amazônia e já foi alvo de ameaças por parte de madeireiros e garimpeiros ilegais, assim como Bruno, que na semana anterior já havia sido ameaçado.

O editor de Meio Ambiente do The Guardian, Jonathan Watts, também rogou às autoridades. “O jornalista e grande amigo está desaparecido no Vale do Javari, no Amazonas, após ameaças de morte a seu companheiro indigenista, Bruno Pereira, que também está desaparecido. Apelando às autoridades brasileiras para que lancem urgentemente a operação de busca”, disse no Twitter.

Bruno Pereira, companheiro de Dom nesta missão, já foi coordenador regional da Funai ao longo da última década. Ele atuava justamente em Atalaia do Norte, região onde foi visto com Dom pela última vez. Ele é um exímio conhecedor da região, já atuou junto aos povos isolados. Em 2018, por exemplo, se tornou o coordenador-geral de Índios Isolados e de Recém Contatados da Fundação Nacional do Índio (Funai), quando chefiou a maior expedição para contato com índios isolados dos últimos 20 anos. Atualmente estava licenciado do órgão indigenista.

Mas mesmo assim, Bruno segue ativo no combate aos invasores do Vale do Javari, atuando em conjunto com os indígenas. Ele vinha sendo ameaçado por pescadores que atuam ilegalmente retirando diariamente toneladas de peixe pirarucu e tracajá. Junto à Equipe de Vigilância Indígena da Univaja havia realizado uma incursão no Vale do Javari, que teria culminado na apreensão de materiais de caça e pesca, além de dezenas de quilos de peixe e tracajás. Bruno chegou a receber um bilhete de pescadores ilegais o ameaçando e também, uma das principais lideranças indígenas no Brasil, Beto Marubo.

O Ministério da Justiça declarou que já iniciou operação e a Marinha já enviou equipes de buscas.

O jornalista Rubens Valente realça que não há “doação” do governo.