Equipe da ministra Nísia Trindade culpa a gestão Jair Bolsonaro (PL) pelo acúmulo de exames com validade curta

O então ministro da Saúde, Edaurdo Pazuello, e o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL). Foto: reprodução/redes sociais

Cerca de 1,2 milhão de testes para detecção da Covid-19 venceram em março de 2023 no estoque do Ministério da Saúde. Avaliados em R$ 42,7 milhões, os produtos são do tipo RT-PCR e também servem para o diagnóstico do VSR (vírus sincicial respiratório) e da influenza A e B.

A equipe da ministra Nísia Trindade afirma que não teve acesso aos dados sobre os estoques durante a transição de governo. O caso foi revelado pela Folha de São Paulo nessa segunda-feira (27).

“Ao assumir, a atual gestão da pasta se deparou com os quantitativos em estoque sem tempo hábil para distribuição e uso, ou sem demanda nos estados”, afirma o ministério da Saúde em nota.

Parte dos lotes perdeu a validade no último dia 9, enquanto o resto venceu em 13 de março. A dificuldade de testagem foi uma das características da pandemia no Brasil.

Técnicos do ministério fizeram diversos alertas de que faltava planejamento nas compras de exames durante a gestão anterior. A Saúde chegou a estocar quase 7 milhões de testes com validade curta no final de 2020.

Para evitar desgaste, a gestão Bolsonaro tentou enviar os exames prestes a vencer ao Haiti e para hospitais filantrópicos. A Saúde ainda entregou 1,1 milhão de unidades para a USP (Universidade de São Paulo) poucos dias antes do fim da validade.

Integrantes do atual governo dizem que era inviável mandar em poucas semanas os testes aos estados, neste cenário de baixa demanda e de política frágil de testagem.

Ex-presidente da Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) e vice-presidente da Abrasco (Associação Brasileira de Saúde Coletiva), o médico Claudio Maierovitch afirma que o governo Bolsonaro não estimulou a testagem.

“As pessoas tinham muita dificuldade para conseguir fazer teste, o que acho que foi intencional, o Ministério da Saúde e o governo tentaram ao máximo evitar que os números viessem à tona”, disse em entrevista para a Folha de São Paulo.

Para o médico, o ministério perdeu a capacidade de planejamento e a nova gestão assumiu a pasta diante de uma “tela escura”.

“Não havia um sistema adequado de gestão de estoques, de distribuição, de monitoramento.”

Durante toda a pandemia, o ministério enviou cerca de de 32,5 milhões de testes do tipo RT-PCR ao SUS. Considerado “padrão ouro” para o diagnóstico, esse exame é feito em laboratório com amostras coletadas dos pacientes. O resultado é liberado em cerca de 72 horas após a testagem.

Outros modelos, como testes rápidos de antígeno, são processados no próprio local da coleta e confirmam a contaminação em poucos minutos. A demanda pelos exames RT-PCR caiu nos últimos meses.

No período mais duro da pandemia, em março de 2021, o SUS chegou a realizar 2,4 milhões de exames em um mês. Desde agosto de 2022, a maior procura foi registrada em dezembro, quando foram feitos cerca de 150 mil exames.

Em nota, a Saúde disse considerar “inadmissível” o desperdício de produtos do SUS. “A perda de insumos demonstra o descaso da gestão anterior. Ainda durante a transição, foram feitos diversos pedidos de informação sobre o estoque e validade de insumos, todos eles negados”, afirma a pasta.

Questionada sobre manter o sigilo do estoque atual de insumos válidos, a Saúde disse que “reconhece a importância da transparência de informações de interesse público”.

*Com informações da Folha