Com 10 indicados a Melhor filme, vamos comentar cada um e especular quem deve levar o prêmio para casa

Estatueta do Oscar. Imagem: Divulgação

Por Bryan Barros*

Maestro

A cinebiografia do famoso maestro estadunidense Leonard Bernstein (Bradley Cooper) que foca na relação com sua esposa, a atriz Felicia Montealegre (Carey Mulligan). O filme está disponível na Netflix.

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Na minha opinião, o mais fraco da lista. Tecnicamente ele é bom, a trilha sonora, a fotografia, a edição, a maquiagem principalmente, a direção, etc. Mas talvez essa busca pela perfeição nos mínimos detalhes acaba deixando o filme sem alma. A atuação de Bradley Cooper como Leonard Bernstein é boa, mas em alguns momentos parece muito forçada, como se ele quisesse gritar o tempo todo: “Vejam como eu sou um ótimo ator”. Pra mim, a coisa com mais alma no filme é a Carey Mulligan, e que alma, que espectáculo de atuação. Porém, terei que concordar com o que muita gente anda dizendo, que o filme claramente é uma plataforma pro Bradley conseguir um Oscar, e isso deixa o filme muito vazio.

Indicado também a: Melhor Fotografia; Melhor Som; Melhor Maquiagem e Penteados; Melhor Roteiro Original; Melhor Atriz; Melhor Ator. Sinceramente? Se levar um prêmio já tá muito bom pra esse filme.

Zona de Interesse

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Eu realmente não queria falar sobre a sinopse desse filme, acredito que minha experiência seria muito melhor se eu fosse assistir sem saber nada sobre ‘Zona de Interesse’, essa é a minha dica. Durante a Segunda Guerra Mundial, o comandante de Auschwitz, Rudolf Höss, e sua esposa, Hedwig, se esforçam para construir uma vida feliz e pacata para sua família em uma casa vizinha ao campo de concentração. Em cartaz em alguns cinemas.

Eu queria ter gostado do filme muito mais do que eu realmente gostei. Não me entendam mal, o filme é muito bom, mas eu soube tanto da premissa que eu não me impressionei muito. Mesmo assim, toda a crítica que ele aborda é muito bem trabalhada aos poucos e em cada detalhe, principalmente o som (e não a imagem). Todo o trabalho que esse filme tem com o som é meticulosamente trabalhado e muito bem colocado. A única crítica que eu teria é que o filme fica o tempo todo nessa mesma abordagem, nos primeiros momentos é algo angustiante, mas depois fica “e ai?”, mas talvez essa seja justamente a sua abordagem. Vemos tanto as pessoas do filme se acostumando com as barbáries cometidas ao lado que nós mesmos nos acomodamos, até o filme lembrar a gente o que de verdade foi aquilo ali, mesmo sem ao menos mostrar uma morte sequer, ou apelar visualmente. 

O melhor conceito que define esse filme é a ‘Banalidade do mal’, que foi desenvolvido pela filósofa e teórica política Hannah Arendt, quando o mal, a desgraça se torna tão normalizada, tão banal, que ela não faz mais efeito em nós. ‘Zona de Interesse’ pode parecer muito extremo, como pode uma família viver ao lado de um campo de concentração? Mas não deixa de acontecer. Quantos condomínios de luxo existem ao lado de favelas em situações vulneráveis, quantas vezes nós não passamos pela rua e “vemos” pessoas em situações de rua e agimos como se fossem invisíveis? A verdade é que existem inúmeras zonas de interesse por aí, mas só nos preocupamos quando afeta o nosso próprio interesse.

Também foi indicado a: Melhor Diretor; Melhor Roteiro Adaptado; Melhor Som. Fortes chances de ganhar melhor som e quase certeza que leva mesmo.

Vidas Passadas

Dois amigos de infância, Na Young (Greta Lee) e Hae Sung (Teo Yoo), que são profundamente conectados e apegados e acabam se separando com a mudança de Na Young para outro continente. Porém, décadas depois, eles se reencontram e refletem sobre o passado, amor, destino e escolhas. Em cartaz em alguns cinemas.

Definitivamente o filme mais bonito da lista. Uma história de amor que não costumamos ver em muitos filmes, mas que acontece muito na vida real. Acho que todo mundo já viveu um amor que por motivos maiores não conseguiu ficar junto e esse aqui aborda perfeitamente essa situação meio merda e desconfortante, mas não com um gosto amargo, e sim como algo que acontece e precisamos aceitar. O amor é muito mais que conexão e uma história bonita, tem muitas variações e diferentes formas dele se expressar em outras pessoas. Um excelente filme e eu recomendaria ele para todos, porque de todas as questões que o filme aborda e trabalha, alguma vai ser direcionada para você.

Também indicado a Melhor Roteiro Original, mas infelizmente não deverá levar nenhuma estatueta para casa. Contudo, já é um grande prêmio ser indicado em duas categorias no primeiro longa-metragem de Celine Song, diretora e roteirista do filme.

Assassinos da Lua das Flores

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Inspirado no best-seller de David Grann que foi também baseado em uma história real, conta sobre os misteriosos assassinatos no povo indígena Osage na década de 1920, uma terra rica em petróleo. Esse caso foi investigado pelo FBI, que tinha acabado de ser criado na época. Disponível no Apple Tv+ ou para alugar no Prime Vídeo e outras plataformas.

Um filme bom com uma interessante e ótima história, mas talvez grande demais, com 3 horas e 26 minutos. O filme visualmente é muito bonito e sua história muito interessante, nem parece que realmente aconteceu, mas acaba sendo muito denso, tem muitos diálogos e ele demora um certo tempo para desenvolver, com partes meio “desnecessárias”. Não me cativou muito, mas reconheço que é um bom filme e muito representativo, com indígenas Osages trabalhando na produção e curadoria da obra. Boa parte do filme é falado em sua língua. Ótimas atuações também, destaque para Robert De Niro, que está bem em qualquer papel, e para Lily Gladstone, a estrela desse filme.

Também indicado a: Melhor Diretor; Melhor Atriz (Lily Gladstone); Melhor Ator Coadjuvante (Robert De Niro); Melhor Canção Original (‘Wahzhazhe’); Melhor Trilha Original; Melhor Design de Figurino; Melhor Design de produção; Melhor Edição; Melhor Fotografia. Acredito que tenha chance de levar algum prêmio, mas os concorrentes também estão muito fortes.

Barbie

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Quando a boneca Barbie começa a ter pensamentos estranhos e sua aparência começa a mudar, ela parte para o mundo real junto com Ken para encontrar uma solução e voltar a ser perfeita. Disponível no Max e para alugar no Prime Video.

O maior fenômeno cinematográfico e a maior bilheteria de 2023, com mais de 1 bilhão de dólares ao redor do mundo. Barbie definitivamente foi uma experiência tanto na vida real, quanto no filme. Uma sátira muito ácida e sarcástica muito gostosa de assistir e ainda com partes muito emocionantes, de se questionar o seu lugar no mundo e na vida, com uma mensagem muito mais ligada para as mulheres, mas não deixa de ser um filme que fala com todos. Uma trilha sonora incrivelmente boa, até na música que era para ser a mais idiota (I’m Just Ken) e um roteiro muito certeiro.

Também foi indicado a: Melhor Ator Coadjuvante (Ryan Gosling); Melhor Atriz Coadjuvante (America Ferrera); Melhor Roteiro Adaptado; Melhor Canção Original duas vezes, para ‘I’m Just Ken’ e ‘What Was I Made For?’; Melhor Design de Figurino; Melhor Design de Produção. Muito provável de levar melhor canção e melhor figurino.

American Fiction

Foto: Claire Folger/Divulgação

Monk (Jeffrey Wright) é um escritor negro brilhante, mas seus livros não são populares, já que ele se recusa a retratar negros de forma estereotipada em seu trabalho. Ele então é pressionado por seu editor a criar uma obra comercial e escreve uma história carregada de preconceitos como piada. Disponível no Prime Video.

Um filme muito gostoso de se assistir com uma sátira genialmente engraçada e verdadeira, em alguns pontos até nojenta, porque você lembra que o mundo é realmente assim, tudo em função do dinheiro, nunca pela causa. Acho que vão ter pessoas que não vão entender muito bem a mensagem, já que retrata aqui nuances que só pessoas pretas vão entender de fato. Uma dramédia muito boa que reflete sobre racismo.

Também indicado à: Melhor Ator (Jeffrey Wright); Melhor Ator Coadjuvante (Sterling K Brown); Melhor Roteiro Adaptado; Melhor Trilha Original. Acredito que não levará nenhum prêmio, infelizmente.

Anatomia de Uma Queda

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Sandra (Sandra Hüller), uma escritora alemã, e Samuel (Samuel Theis), seu marido francês, vivem juntos com seu filho (Milo Machado Graner) em uma pequena cidade nos Alpes, até Samuel ser encontrado morto e virar de cabeça para baixo a vida de mãe e filho. Em cartaz em alguns cinemas.

Que filmão! Apesar de ter muitos diálogos, ele te prende do início ao fim. Permaneceu na minha memória e eu sempre me pego pensando em algum aspecto do filme. Pra mim, uma das melhores coisas é como ele deixa para nós a interpretação e julgamento dos fatos apresentados, não caindo para lado algum, se tem algum julgamento aqui é o que nós fazemos, apesar do final. Um filme muito complexo, com muitas camadas e nuances, sobre relacionamento, profissão, ambição, amor, família, etc. Destaque para a absurda atuação da Sandra Hüller. Apenas assistam e tirem suas próprias conclusões.

Também foi indicado a: Melhor Direção (Justine Triet); Melhor Atriz (Sandra Hüller); Melhor Roteiro Original; Melhor Edição. Sandra é uma fortíssima candidata para levar Melhor Atriz. Vou terminar com a frase que Isabela Boscov termina seu vídeo: “A gente deveria não procurar certezas, mas aprender a conviver com a dúvida onde ela tende a persistir”.

Pobres Criaturas

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Após um cientista excêntrico, Dr. Godwin Baxter (Willem Dafoe), trazer uma jovem de volta à vida, Bella Baxter (Emma Stone), a vemos se desenvolvendo e descobrindo seus reais desejos. Em cartaz em alguns cinemas.

Esse aqui é doideira tanto no sentido literal, quanto no sentido bom da palavra. Um filme muitíssimo bom e muito divertido, não convencional pela sua estrutura e arte, mas é o que justamente torna o filme especial. Apesar do seu tema principal, ‘como um homem, apesar das intenções, sempre tenta controlar uma mulher’, trata também sobre diversos temas: relacionamentos abusivos, existencialismo, niilismo, sexo como um tabu, etc. Muito divertido e muito lindo, com um estilo de arte muito único em todos os seus cenários. Um filme que você tem que sentir e viver a experiência de assisti-lo.

Também foi indicado a: Melhor Diretor (Yorgos Lanthimos); Melhor Atriz (Emma Stone); Melhor Ator Coadjuvante (Mark Ruffalo); Melhor Roteiro Adaptado; Melhor Trilha Original; Melhor Design de Figurino; Melhor Maquiagem e Penteados; Melhor Design de Produção; Melhor Edição; Melhor Fotografia. O segundo filme com mais indicações na premiação, com 11 no total, perdendo apenas para ‘Oppenheimer’.

Os Rejeitados

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Um aluno (Dominic Sessa) acaba tendo que passar as férias de fim de ano na escola, ao lado de um professor rabugento e amargurado (Paul Giamatti) e uma governanta (Da’Vine Joy Randolph) que acabou de enfrentar uma das piores dores que alguém poderia passar. Em cartaz em alguns cinemas.

O filme dessa lista que mais me surpreendeu, porque eu não dava nada para ele, e meu segundo favorito também. E olha, que filme gostoso de assistir, extremamente divertido e dramático na medida certa, ri e me emocionei no filme, um daqueles que você coloca para ver para se divertir numa tarde, mesmo já tendo visto. Com certeza se tornou um dos meus favoritos natalinos. A forma que ele aborda aqui a rejeição e o abandono como uma forma de ligar outros personagens é muito singela. Principalmente com a perfeita sinergia do trio principal, que estão todos muito, muito bem. Definitivamente um que eu recomendaria para todo mundo, apesar de reconhecer que talvez eu tenha gostado muito mais do que outras pessoas vão gostar.

Também foi indicado a: Melhor Ator (Paul Giamatti); Melhor Atriz Coadjuvante (Da’Vine Joy Randolph); Melhor Roteiro Original; Melhor Edição. Queria muito que a Da’Vine levasse esse, mas talvez o filme vá sem uma estatueta.

Oppenheimer

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A cinebiografia do famoso físico J. Robert Oppenheimer e como ele desenvolveu junto com uma equipe de cientistas durante o projeto Manhattan a criação da bomba atômica. Disponível para alugar no Prime Vídeo e outras plataformas.

E finalmente, mas definitivamente não menos importante, o meu favorito da lista e de 2023: Oppenheimer. Outro grande fenômeno cinematográfico que teve uma “rivalidade” com Barbie por causa do seu lançamento no mesmo dia. Toda a experiência dessa rivalidade foi muito divertida de acompanhar e principalmente muito saudável para o cinema. 

Um filme muitíssimo bom, denso, pesado, dramático, eletrizante, etc. Por mais que tenha 3 horas de duração, em nenhum momento eu senti essa hora passar. Fiquei imerso do início ao fim. Na minha opinião, ele nunca diminui o nível. Por mais que passe o grande clímax e ele se torne outra coisa, continua muito forte apesar dessa mudança. Possui muitos diálogos e muitos detalhes, é um filme de puro diálogo basicamente, se não prestar atenção você vai acabar se perdendo, mas tudo nele me prendia tanto que ele nunca me deixava sair. Muito lindo, muito técnico, muito profundo, uma fotografia linda, uma trilha sonora melhor ainda e atuações impecáveis. Inclusive eu não tenho palavras para descrever a atuação de Cillian Murphy. Brilhante, simplesmente brilhante, destaque também para a Emily Blunt que vive a esposa do Oppenheimer, e Matt Damon, que eu não dava absolutamente nada, mas deu um show também. E sem esquecer do cara que roubou a cena: Robert Downey Jr. Que atuação linda, linda, linda, esse cara é muito brabo.

Este foi o filme com mais indicações, 13 no total, com: Melhor Diretor (Christopher Nolan); Melhor Ator (Cillian Murphy); Melhor Atriz Coadjuvante (Emily Blunt); Melhor Ator Coadjuvante (Robert Downey Jr.); Melhor Roteiro Adaptado; Melhor Trilha Sonora Original; Melhor Design de Figurino; Melhor Maquiagem e Penteados; Melhor Design de Produção; Melhor Som; Melhor Edição; Melhor Fotografia. Com certeza vai levar muitos prêmios, acredito que seja unânime Melhor Ator para Cillian e Melhor Filme.

De todos, ‘Oppenheimer’ levou todas as categorias principais dos prêmios dos sindicatos de classes de Hollywood: o ‘Sindicato dos Produtores da América’, ‘Sindicato dos Diretores da América’ e o ‘Sindicato dos Atores’, além de levar os principais prêmios do Bafta, tornando-se o grande favorito para ganhar o Oscar de Melhor Filme de 2024.

*Texto produzido em cobertura colaborativa da Cine NINJA – Especial Oscar 2024