As mães das meninas venezuelanas ainda se negaram a gravar vídeo para a campanha de Bolsonaro

Foto: Reprodução/Twitter Fábio Felix

Por Mauro Utida

A investida da primeira-dama, Michelle Bolsonaro, e a senadora eleita, Damares Alves (Republicanos-DF) para convencer as mães das adolescentes venezuelanas acusadas por Jair Bolsonaro (PL) de estarem “fazendo programa” na periferia de Brasília de que foi apenas um “mal entendido” fracassou.

As mães das meninas se recusaram a gravar um vídeo e ainda pediram uma retratação pública de Bolsonaro por medo da “repercussão das falas” do presidente que afirmou em entrevista a um podcast que “pintou um clima” com as adolescentes, com idade entre 14 e 15 anos.

O encontro de Damares e Michelle com as adolescentes e suas mães aconteceu nesta segunda-feira (17) na casa de um pastor em Brasília e como a pressão dos integrantes da campanha do candidato a reeleição não deu certo, Bolsonaro divulgou um vídeo no dia seguinte ao lado de Michelle e de María Teresa Belandria, representante do autoproclamado presidente venezuelano Juan Guaidó, que não é reconhecida como embaixadora pelo governo de fato da Venezuela, presidida por Nicolás Maduro.

“Se minhas palavras, que, por má-fé, foram tiradas de contexto, foram, de alguma forma, mal entendidas ou provocaram algum constrangimento a nossas irmãs venezuelanas, peço desculpas. Já que meu compromisso sempre foi o de melhor acolher e atender a todos que fogem de ditaduras pelo mundo”, diz Bolsonaro no vídeo.

Proteção às adolescentes

A Comissão de Defesa dos Direitos Humanos da Câmara Legislativa do Distrito Federal (CLDF) acionou, no domingo (16), a Promotoria da Infância e Adolescência do Ministério Público do DF e pediu proteção para as adolescentes venezuelanas que vivem em Brasília e foram citadas pelo presidente Bolsonaro.

A entrevista foi dada na sexta-feira (14) a influenciadores de torcidas de futebol. No momento da declaração, Bolsonaro falava sobre a vinda de venezuelanos ao Brasil e disse que “pintou um clima” quando encontrou as adolescentes “bonitas e bem arrumadas”, em um sábado pela manhã. A fala gerou repercussão nas redes sociais, e Bolsonaro chegou a abrir uma live para se defender das críticas, na madrugada de domingo (16).

A deputada federal Maria do Rosário (PT-RS), que preside a Frente Parlamentar Mista de Promoção e Defesa dos Direitos da Criança e do Adolescente no Congresso Nacional, juntamente com o deputado distrital Fábio Félix (PSOL-SP), protocolou nesta terça-feira (18), no Ministério Público Federal (MPF), um pedido para que o presidente Bolsonaro (PL) seja investigado por prevaricação e atentado contra a infância e juventude no caso das meninas venezuelanas.

No documento apresentado ao MPF, é pedido que sejam tomadas providências para garantir a segurança e o bem-estar das crianças e adolescentes; que também seja investigado se, ao tomar conhecimento de uma suposta situação de exploração sexual de menores, se houve denúncia por parte da Presidência. E, caso não tenha havido denúncia, que Bolsonaro seja investigado por eventual crime de prevaricação.

“Todo pronunciamento de Bolsonaro é sexualidade. Dizer que as meninas se arrumaram no sábado de manhã… se ele [Bolsonaro] avaliou que havia uma situação de exploração sexual, por que não denunciou? O pronunciamento de Bolsonaro é um crime contra a infância brasileira”, disse Rosário.

Repercussão nas redes

Em novo vídeo divulgado nas redes sociais pela socióloga Rosângela Silva, a Janja, esposa de Lula (PT), nesta terça-feira (18), Bolsonaro diz que as adolescentes “chamaram sua atenção” por estarem “bonitinhas” e “tinham tomado banho”, afirmando que eram prostitutas.

– Desci da moto e perguntei posso entrar? Tinha umas 15 meninas nessa faixa etária, 14, 15 anos. Todas muito bem arrumadas, tinham tomado banho, fazendo o cabelo. Venezuelanas [disse enfaticamente]. Estavam se arrumando para quê? Alguém tem ideia? Quer que eu fale? Eu vou falar. Tava fazendo programa. – afirmou.

“Inacreditável que o ‘Presidente’ já tenha exposto essas meninas venezuelanas, anteriormente em outra entrevista. A minha indignação só aumenta. O ‘cidadão de bem’ deveria ter denunciado se houvesse qualquer indício de exploração de menores. É essa proteção das famílias que ele prega?”, tuitou Janja sobre o vídeo.

O ex-presidente Lula (PT) também falou sobre o tema durante entrevista ao Flow Podcast nesta terça e declarou que o comportamento de Bolsonaro é de um “pedófilo”.