Estilista Claudete Alphonsus denunciou o racismo que afetava o seu filho Mathew

Mathew, de 5 anos, recebe o carinho da mãe Claudete. Foto: Divulgação

Por Mauro Utida

Em setembro, a Mídia NINJA divulgou o vídeo da estilista Claudete Alphonsus que denunciava o racismo que afetava o seu filho Mathew, de cinco anos. Triste, ele perguntava para a mãe se um dia iria ficar branco porque era comparado a “cocô” por colegas da escola.

O vídeo foi divulgado pela mãe em suas redes como um desabafo para mostrar como ela precisava preparar o seu filho todos os dias para sair de casa e ensinar a ele que a cor dele é linda e “não é feio por ser marrom”.

Claudete e sua família receberam centenas de mensagens de apoio, muitas de mulheres que enfrentavam o mesmo problema diariamente com os seus filhos. Inclusive, essa corrente de apoio acabou virando uma rede de assistência entre estas mães para que o racismo seja combatido nas escolas. “É preciso combater o racismo em todas as estruturas, inclusive no âmbito escolar”, declarou a mãe que é estilista de moda.

 

 

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Durante o período que o vídeo foi divulgado, Claudete e o seu filho não receberam o apoio devido da escola e, além disso, a família tomou conhecimento de outros casos de pais que teriam passado pelo mesmo problema com seus filhos nesta instituição. “Foi então que tomamos a decisão de tirar o Mathew desta escola e encontrar outra”, diz a mãe.

Segundo a advogada Joyce Melo, que tem dado respaldo para Claudete nesta situação, a mãe tentou apresentar amigavelmente uma proposta para combater o racismo dentro da instituição de ensino, o pedido foi analisado pelo setor administrativo, mas não foi levado adiante. “O que aparenta é que eles estavam mais preocupados com a imagem da escola do que em resolver o problema em si”, diz.

A mãe então começou um intenso processo para encontrar uma instituição de ensino que tivesse a diversidade como política institucional da escola. “A maioria das escolas confundem o que é cultural e o que é diversidade. Elas acabam introduzindo a capoeira e o dia da consciência negra achando que são políticas inclusivas, mas isso é cultural. A diversidade é uma questão de base para que os pequenos aprendam a viver em sociedade com toda diversidade entre raças”, explicou.

Quebrando ciclos

Quando criança, Claudete também passou pelo mesmo problema que o seu filho Mathew, tanto que acabou abandonando a escola cedo por causa da perseguição que sofria pela sua cor e seu cabelo. “Naquela época a gente não conversava sobre essas coisas dentro de casa e não tive o apoio necessário para enfrentar o racismo. Hoje, eu tento ajudar os meus filhos a enfrentarem melhor essa situação”, informa.

Mathew é o caçula com cinco anos, mas Claudete também tem outros filhos de 24 anos, 16 e uma menina de 8, que também estudava nesta mesma escola. Os mais velhos estudaram em escola pública e tiveram menos problema, pois 90% dos alunos eram negros. Já Mathew e a irmã estudam em escola particular. Porém, todos eles, inclusive a mãe, já passaram por terapia especializada em questão racial.

No caso de Mathew, a mãe diz que as ofensas racistas o afetam mais do que outros irmãos. Inclusive, o garoto faz parte do grupo de crianças que estão crescendo na pandemiada covid-19. No período mais grave de restrição social, Claudete e os filhos menores foram morar na Nigéria, onde a família do marido dela mora. A família voltou no final de 2021 e as crianças foram matriculadas nesta escola em Campo Limpo, zona sul de São Paulo.

“Mathew estranhou bastante quando voltamos e dizia que não havia crianças marrom pra brincar com ele, como ele estava acostumado na Nigéria”, revela a mãe.

Claudete sabe que não tem como garantir ao seu filho que o racismo vai parar de acontecer porque é um problema social histórico que não foi resolvido, mas ela sabe que há muitos caminhos a serem abertos.

“Eu digo sempre aos meus filhos que o racismo vai acontecer contra eles e eles vão precisar aprender a lidar com isso porque essa questão diz mais sobre o outro do que sobre eles”, afirma Claudete.

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