Obra faz conexões entre as eleições de 2022, o resultado eleitoral e os desafios para o novo governo Lula

Foto: Ana Pessoa / Mídia NINJA

O processo eleitoral de 2022 foi um dos mais intensos e complicados das últimas décadas no país, em especial no que tange aos abusos de poder, à desinformação e ao desrespeito às regras do jogo democrático. Nesse período, pesquisadores do Observatório das Eleições dedicaram-se a compreender as questões que emergiram e a produzir artigos para que essas reflexões fossem compartilhadas com a sociedade brasileira. A partir desse movimento de pesquisa e análise nasceu o livro ‘Eleições 2022’ e a reconstrução da democracia no Brasil, que a Autêntica Editora lança em fevereiro.

A obra, organizada pelo professor de Ciência Política da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) Leonardo Avritzer e pelas pesquisadoras Eliara Santana e Rachel Callai Bragatto, busca alinhavar, a partir de reflexões abrangentes e transdisciplinares, uma conexão entre as eleições de 2022, o resultado eleitoral e a governabilidade nos próximos quatro anos, a partir da perspectiva dos desafios para a reconstrução democrática.

Dividido em quatro partes, o livro apresenta ao leitor uma visão ampla e multifacetada do processo eleitoral e dos desafios vindouros. As análises de pesquisadores das mais diversas áreas debruçam-se sobre temas que vão do meio ambiente à configuração do Legislativo, passando por questões de raça e gênero, redes e desinformação, justiça e opinião pública, governos estaduais e atores coletivos.

Imagem: Divulgação

Na primeira parte, “Erosão democrática e processo eleitoral”, fica evidenciada a forte continuidade entre o processo de degradação da democracia, a polarização política e as eleições. O início desse processo envolveu uma enorme desigualdade no que diz respeito às condições de competitividade e a um tensionamento que impediu que os atores sociais e políticos avaliassem as diferentes propostas. A disputa política de 2022 deu-se em um campo semidemocrático construído pelo bolsonarismo. As pesquisas eleitorais refletiram sobre esse aspecto e sobre o uso da máquina pública pelo governo Bolsonaro.

A segunda parte, “Redes sociais e o ecossistema de desinformação”, trata do cenário obscuro da disputa nas redes sociais. É descrito o ecossistema de desinformação fomentado pelo bolsonarismo, assim como analisado o modelo de funcionamento das plataformas de comunicação. São apresentados também resultados do mapeamento das diferentes campanhas e suas estratégias digitais, analisando as dificuldades de Bolsonaro repetir a performance de 2018 e a mudança assertiva na campanha de Lula, que ocupou importantes espaços nas redes.

Na terceira parte do livro, “Democracia em dois turnos”, os artigos abordam duas questões que irão definir a representação política nos próximos anos no Brasil. Em primeiro lugar, o resultado das eleições na Câmara e no Senado revelou que a direita tornou-se majoritária, ainda que tenham sido abertos espaços de negociação em relação à centro-direita. Em segundo, o fato de ainda estarmos muito distantes de um quadro de equilíbrio na representação política no Brasil, se considerarmos a representação das mulheres, da população negra e dos povos indígenas.

A quarta e última parte, “Governabilidade e futuro da democracia”, aborda o desafio que será a governabilidade para Lula e aponta para os diferentes jogos políticos possíveis no Congresso Nacional. Ao mesmo tempo, mostra que o bolsonarismo tem algum futuro como oposição, mas que ele ainda é incerto, especialmente no campo da organização do sistema político. Por fim, propõe-se uma reflexão sobre o futuro da democracia no Brasil. Nesse sentido, os autores mostram que ela depende da estabilização da governabilidade a partir de uma ampla coalizão, cujo elemento central tem de ser a adesão à própria democracia e a oposição à forma como o bolsonarismo atuou em relação às instituições democráticas nesses últimos quatro anos.

O Observatório das Eleições, cujo trabalho deu origem ao livro, é uma iniciativa do Instituto da Democracia e da Democratização da Comunicação (INCT/IDDC) e existe desde 2018, produzindo análises sobre as questões centrais envolvidas nos processos eleitorais. Em 2020, foram publicados cerca de 130 artigos com, aproximadamente, 500 mil visualizações. Nas eleições de 2022, contou com um amplo leque de parceiros que envolveu 14 veículos de imprensa. Cerca de 80 autores, de mais de 50 instituições, escreveram para o Observatório, cobrindo todas as regiões do país. Ao total, foram publicados mais de 180 artigos entre os meses de agosto e outubro de 2022.

O lançamento do livro acontecerá nesta terça (14), na Circulare Livros, em Brasília.