A luta LGBTQIA+ só será completa quando pautar raça, classe, gênero e anticapitalismo. É impossível romper com essa opressão de outra forma. É preciso entender a luta de classes unificada!

Foto: Mídia NINJA

Por Alisson Messias

É necessário compreender que LGBT’s também fazem parte da estrutura capitalista, desse modelo produtivo desigual que se molda a partir do patriarcado cisheteronormativo. A comunidade LGBTQIA+ também é parte da classe trabalhadora, ou seja, são trabalhadores e é nessa estrutura que esse grupo se encontra a margem e sujeitos a diversas violências.

No campo do trabalho, diversas pessoas LGBT têm dificuldades de se inserirem no mercado formal somente por serem quem são. O (cis)tema heteronormativo funciona como um filtro que contempla uma parcela de LGBT´s desde que se aproximem do ideal societário neoliberal, qual seja, branco, cisgênero e hétero. Quando se trata de pessoas trans/travestis o sistema sequer as enxergam, muitas destas recorrem a trabalhos precários ou às ruas, uma vez que, desde a infância, na educação por exemplo, a população T é expulsa das escolas, expulsão essa que é propositalmente chamada de evasão escolar, para mascarar a realidade transfóbica das próprias instituições de educação, que as afastam com seu movimento violento, dificultando a inserção futura no mercado de trabalho.

A política de educação no geral é uma experiência para a população LGBTQIA+ de sofrimento e muitas vezes traumatizante, pois são nesses espaços e em uma fase complexa da vida que a comunidade enfrenta diversas violências, sejam elas físicas, psicológicas ou institucionais, o que vão haver rebatimentos futuros para esse públicos nos diversos campos da vida.

A luta de classes, deve incontestavelmente abarcar a luta LGBTQIA+, é impossível falarmos em anticapitalismo sem pautar a imensa opressão sofrida por essa comunidade, do mesmo modo que a luta LGBTQIA+ deve estar alinhada a luta anticapitalista, uma vez que ela se sustenta a partir das diversas opressões, sendo a lgbtfobia, uma delas.

Desse modo é primordial a comunidade LGBTQIA+ refletir sobre o impacto do capitalismo na vida dos sujeitos inseridos nesse grupo, uma vez que o sistema capitalista tenta se apropriar das pautas que contesta a sua estrutura e com isso faz com que muitas pessoas reproduzam opressões em face de uma conquista.

Exemplo disso, é quando falamos do mês do orgulho sem compreender que no histórico das lutas populares, pessoas trans/travestis não foram consideradas e suas pautas invisibilizadas, apesar de sempre estarem na linha de frente, seja fora do país como Marsha P. Jhonson e Silvya Rivera ou aqui no Brasil com a importância de Chica Manicongo. Jaqueline Gomes de Jesus no artigo “A transgeneridade toma a palavra” evidencia a importância de Xica Manicongo para a luta no Brasil:

“Xica Manicongo é a mensagem que nos chega do passado e ensina: sigam em frente, transvestigêneres! Pois o terreno fértil será para as vozes trans – transformadas em palavras”.

Outro fator essencial para compreendermos essa luta unificada é que o capitalismo se beneficia da opressão que as LGBT´s vivenciam, na medida em que esses corpos dissidentes, para o capital, em tese, não corroboram para a reprodução social burguesa, uma vez que esse processo se mantém ativo pela cisheteronormatividade e o que foge disso é considerado fora de uma suposta normalidade.

Conforme citado acima, o sistema pela via do consumo e por uma falsa representatividade tenta se apropriar das lutas e “acolhe” parte desse público ao passo que oprime o restante da classe trabalhadora. Quem nunca viu uma empresa levantar a bandeira LGBTQIA+ no mês do orgulho, mas não ter nenhuma destas em seu quadro de funcionários? qual a cor das pessoas que estão nos cargos mais precários (muitas vezes terceirizados) dessas empresas? Ou ainda, mantém um funcionário LGBTQIA+ numa posição de poder enquanto assedia o restante dos funcionários? Não há topo enquanto existir um dos nossos na base e um dos nossos aqui é toda a classe trabalhadora, pois não há ganho numa LGBTQIA+ chefiando uma empresa, enquanto uma mulher negra é explorada nesse mesmo espaço.

Discutir orgulho LGBTQIA+ não é possível sem apontar também raça e gênero, porque quem mais são afetadas são as LGBT’s pretas, haja vista que estamos no país do racismo estrutural e que ainda reproduz o mito da democracia racial.

Pensar no orgulho LGBTQIA+ é vislumbrar um novo horizonte, é refletir sobre essa organização social que beneficia somente um pequeno grupo enquanto o restante da população se encontra na miséria, é pensar enquanto classe social e qual o papel desta para a superação da desigualdade e é sobre um novo modelo de sociabilidade onde LGBT´s e todas as outras pessoas não tenham sua liberdade cerceada!

Portanto falar em orgulho, é discutir, raça, classe e gênero! Não apenas (é também, mas não só) afetos e amores.

Alisson Messias é marxista, especialista em Direitos Humanos, graduado em Direito e profissional da Segurança Pública e comunicador de esquerda no instagram @inquietocotidiano.