Justin Fashanu sempre conviveu com o preconceito e o estigma: negro e filho de pais guianeses e nigerianos

Foto: reprodução/The Sun

Por Patrick Simão

Em toda a história do futebol, poucos jogadores do futebol masculino assumiram ser LGBTs. Estes jogadores: ou não continuaram suas carreiras por muito tempo ou tornaram a sexualidade pública somente após a aposentadoria. Esta regularidade demonstra um ambiente de muita dificuldade para a aceitação e naturalização da homossexualidade no futebol, seja no vestiário ou com as torcidas.

Conheça a história do primeiro futebolista homem que afirmou publicamente ser gay.

Justin Fashanu sempre conviveu com o preconceito e o estigma: negro e filho de pais guianeses e nigerianos, viveu na Inglaterra desde sua infância até o seu auge nos anos 80. Justin teve uma infância bastante dificil: foi abandonado e viveu em um orfanato até ser adotado. Era no futebol que ele tinha chance de mudar de vida. Fashanu era bastante talentoso e aos 19 anos foi descoberto pelo Norwich, clube pelo qual estreou profissionalmente.

Sua carreira começou promissora: Fashanu fez 35 gols em 90 jogos e era o principal jogador da equipe. Mesmo assim, sofria racismo constante de torcedores do seu clube e de torcedores rivais. Um golaço contra o poderoso Liverpool, em 1980, lhe deu fama mundial. Aos 21 anos foi comprado por 1 milhão de libras (valor altíssimo na época) pelo Nottingham Forest, atual bicampeão da Champions League.

Porém, quando tudo indicava que sua grande carreira despontaria ainda mais, o jogador não conseguiu manter o bom desempenho que se esperava no Nottingham. Fashanu começou a ter sua sexualidade publicamente especulada após ser visto em boates gays, fato que fez o jogador ser afastado pelo treinador Brian Clough. Além disso, o racismo que seguia constante.

A partir de então, Fashanu foi emprestado e não ficava muito tempo em uma mesma equipe: peregrinou por diversos clubes menores da Inglaterra, Estados Unidos e Canadá. Fashanu teve problemas financeiros e nunca conseguiu recuperar o futebol dos tempos de Norwich.

O jogador chegou a entrar para a igreja e negava constantemente sua homossexualidade. Além disso, tudo o que se falava sobre Fashanu era especulação (o que não mudava a homofobia que sofria). Até que em 1990, afirmou publicamente que era gay, em entrevista à revista The Sun:

A perseguição sobre Fashanu aumentou, inclusive sofrendo homofobia de seu próprio irmão, o também jogador John Fashanu. Justin acumulou curtas passagens por mais clubes, totalizando 22 equipes, sem conseguir aceitação e voltar ao seu melhor futebol.

Em 1998, ano seguinte a sua aposentadoria, Fashanu foi acusado de estupro. Ele sempre afirmou que a relação foi consensual e o caso foi posteriormente arquivado por falta de provas. Ainda sim, ele teria problemas com a justiça, pois a homossexualidade era proibida no estado de Maryland, nos Estados Unidos. Após muita pressão sobre o jogador, juntamente com o constante estigma da homofobia e do racismo, Fashanu se suicidou no dia 2 de maio de 1998, aos 37 anos.

“Eu percebi que já havia sido considerado culpado. Não quero mais ser uma vergonha para minha família e meus amigos. Ser gay e uma personalidade é muito difícil, mas não posso reclamar disso. Queria dizer que não agredi sexualmente o jovem. Ele teve sexo consensual comigo e, no dia seguinte, me pediu dinheiro. Quando eu recusei, ele falou ‘espere e você vai ver só’. Se esse é o caso, eu ouço vocês dizerem, por que eu fugi? Bom, a Justiça nem sempre é justa. Senti que não teria um julgamento justo por conta da minha homossexualidade“, disse à época.