TRE de Mato Grosso classificou como propaganda eleitoral irregular de prefeito de Tapurah que gravou vídeo prometendo sorteio de carro para eleitores da cidade votarem em Bolsonaro

Prefeito de Tapurah (MT) promete rifar carro se Bolsonaro vencer. Foto: Reprodução/Instagram

Por Mauro Utida

Alguns prefeitos bolsonaristas perderam a noção total e partiram para a apelação afim de reeleger Jair Bolsonaro (PL). Ameaçam demitir eleitores de Luiz Inácio Lula da Silva (PT), além de oferecer prêmios caso o candidato da extrema-direita seja reeleito. São casos que acontecem em todas as regiões do país e também envolvem assédio em empresas e dentro de igrejas.

As denúncias aumentaram desde o resultado do primeiro turno das eleições com Lula a frente dos resultados com 48,1% dos votos válidos, cerca de 57 milhões de votos que tornou o petista o candidato à Presidência da República mais votado da história do país. Bolsonaro ficou com 43,4% e levou a disputa para ser decidida no próximo dia 30, no segundo turno.

O prefeito de Tapurah, cidade há 433 km a médio-norte de Cuiabá, Carlos Alberto Capeletti (PSD), divulgou um vídeo afirmando que fará o sorteio de um carro zero quilômetro para estimular os eleitores do município a votarem em Bolsonaro.

Em vídeo, o prefeito afirma que se esforçará para que Tapurah seja o município mato-grossense de maior apoio à campanha do presidente. Para isso, o sorteio será uma forma de estimular o eleitorado a votar no candidato.

Na gravação, além de apontar como funcionará o sorteio, o prefeito cita a força do agronegócio, chama o representante do PT na disputa de “Luladrão”, faz campanha pró-Bolsonaro, relembra a “Ursal” e nega a fome no país em pouco mais de 4 minutos.

“Farei uma rifa de uma picape Strada, zero km, se nós atingirmos o primeiro lugar do estado em percentual em prol do Bolsonaro. Peço a você também, meu amigo produtor, para ampliarmos esse prêmio. Fazer uma grande festa. Chamar o Bolsonaro já que ele disse que a cidade que mais tiver percentual de votos ele vai visitar”, afirma em outro momento do vídeo.

O vídeo foi encaminhado à Justiça Eleitoral pela Procuradoria Regional Eleitoral sob acusação de que o episódio configuraria crime eleitoral e nesta segunda-feira (10) o Tribunal Regional Eleitoral de Mato Grosso declarou que a propaganda é irregular e solicitou a exclusão do vídeo publicado no Instagram e YouTube em até 12 horas, bem como o cancelamento do sorteio do veículo, sob pena de R$ 50 mil.

Procurado, a assessoria do prefeito Carlos Alberto Capeletti informou que ele está de férias e não responderia a reportagem.

Estância (SE)

A maioria das denúncias enviada à Mídia NINJA ocorrem em cidades interioranas, como em Estância, município de Sergipe com cerca de 70 mil habitantes. Neste estado, Bolsonaro foi massacrado e obteve apenas 29,1% dos votos dos sergipanos, contra 63,8% do petista. Empresários realizaram evento para incentivar donos de empresas, padres e pastores a coagirem funcionários e fiéis para apertarem 22.

“Isso está acontecendo em Estância desde o primeiro turno, funcionários estão sendo demitidos porque não votaram em Bolsonaro. Precisamos de ajuda. Nosso estado é pequeno mas massacramos Bolsonaro aqui, agora os “coronéis” estão nos ameaçando”, declarou uma moradora que não quis se identificar.

Cupira (PE)

Na cidade de Cupira, no agreste de Pernambuco com pouco mais de 24 mil habitantes, o prefeito José Maria Leite de Macedo (Democratas) reuniu os professores municipais, na última quinta-feira (6). No vídeo em um salão de festas, Zé Maria reclama dos votos obtidos por Miguel Coelho (União Brasil), candidato ao governo do estado, que não passou para o segundo turno.

Em outro trecho da reunião, compartilhado através de áudios nas redes sociais, Zé Maria critica quem não votou em Bolsonaro. “Espero que vocês não me traiam agora de novo, não me faça passar vergonha outra vez, quem vai pagar o preço é vocês.”

“Ele está revoltado porque o candidato ao governo que ele apoiou Miguel Coelho (União Brasil) teve baixa votação na cidade, incluindo Bolsonaro que também perdeu no município”, diz a fonte que não quis se identificar.

Com a repercussão do caso e as denúncias ao Ministério Público de Trabalho (MPT) e ao Tribunal Regional Eleitoral (TRE) o prefeito divulgou nota afirmando que não era uma reunião entre prefeito e servidores públicos, mas “de um grupo político”.

Três Pontas (MG)

No caso de Três Pontas, cidade do Sul de Minas Gerais, a vitória de Lula no município causou uma movimentação de empresários do agronegócio a políticos que iniciaram uma perseguição criminosa contra os empregados que não votaram em Bolsonaro. Nesta cidade, Lula obteve 50% dos votos válidos contra 40% de Bolsonaro durante o primeiro turno, contrariando a região que votou em peso no candidato da extrema-direita.

O administrador da Santa Casa, Michel Renan Simão Castro, declara em vídeo que o hospital pode fechar se Bolsonaro não ganhar e insinua que, se haver mudança no ambiente político, os atrasos para a instituição receber recursos federais podem voltar a acontecer. “Para que isso não aconteça, temos que tomar um cuidado, que pode as vezes, com a mudança, iniciar novamente estes atrasos, e condenar a Santa Casa à morte. Então, para você que tanto gosta da nossa Santa Casa, repense seu voto…”

O vereador Antonio Carlos De Lima (PSD) está divulgando vídeos em suas redes sociais direcionado aos padres e fazendo afirmações inverídicas. “Tem candidato à presidência da República que é a favor do aborto, da liberação de drogas. E eu pergunto, de que lado a igreja está?”.

A Prefeitura de Três Pontas foi procurada, mas a assessoria não atendeu a reportagem até o fechamento desta matéria.

Demissões em Natal (RN)

Há casos também em que empresas demitiram funcionários por terem votado em Lula no primeiro turno. Uma mulher que trabalhava para um cirurgião plástico em Natal, no Rio Grande do Norte, foi demitida porque estava foi flagrada falando bem de Lula.

Ela estava fora do horário de expediente e foi flagrada pelo cirurgião conversando com os colegas de trabalho na copa. O empresário a chamou em sua sala e disse a ela que “aqui na minha empresa ninguém vai falar de Lula”, ele também gritou frases como “Lula é ladrão” e “quem paga seu salário sou eu”.

Depois do ocorrido, a esposa desse médico (uma blogueira famosa na cidade, negacionista e que já fez vários vídeos contra a vacina) entrou em contato com ela pelo WhatsApp e ainda acrescentou frases como “minha empresa, minhas regras”.

Segundo a irmã desta funcionária que perdeu o emprego por manifestar sua opinião política, o empresário tentou comprar o silêncio da equipe. “No mesmo dia esse dono da empresa ofereceu um almoço em um restaurante caro e ainda deu um presente de R$ 100 reais para uma das funcionárias que presenciou o ocorrido, obviamente na tentativa de silencia-la”, revelou. O caso já foi denunciado na justiça e ainda não teve resolução. A vítima declarou que não quer se identificar, mas divulgou o print da conversa com a esposa do cirurgião e o áudio enviado para a irmã no momento que estava abalada pela demissão.

Como denunciar

O Ministério Público do Trabalho possui um canal de denúncia através do site www.mpt.mp.br para relatar casos de patrões assediando empregados a votarem candidatos. Também é possível fazer a denúncia pelo e-mail Procuradoria Geral do Trabalho [email protected].

O Tribunal Superior Eleitoral (TSE) possui um sistema onde o cidadão pode informar à Justiça Eleitoral e o Ministério Público denúncias de infrações eleitorais e irregularidades verificadas nas campanhas eleitorais, fortalecendo os princípios da participação popular, transparência e lisura do pleito. O sistema Pardal pode ser acessado por https://pardal.tse.jus.br/pardal-web.

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