“Somos LGBT’s, mas a gente também luta pela demarcação dos nossos territórios”, afirmou Yakecan Potyguara, liderança indígena

Foto: Yasmin Velloso/Mídia NINJA

Lideranças do movimento indígena e LGBT se encontraram na Plenária Parentes LGBTQIAP+: Decolonizando (r)existências que ocorreu durante o 19° Acampamento Terra Livre (ATL), em Brasília. O evento organizado pela Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (Apib) e outras entidades regionais, reuniu representantes dos povos Tupinaky’îa, Terena, Potyguara e outros.

Durante a plenária, a palavra de ordem que se destacou foi só uma: respeito. “Não há revolução, não há transformação, não há mudança sem a participação e a presença dos povos indígenas e da comunidade LGBTQIA+”, ponderou Erika Hilton, deputada federal do estado de São Paulo pelo PSOL e primeira deputada trans e negra eleita na história do Brasil.

Segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), há cerca de 300 etnias indígenas no Brasil, com aproximadamente 900 mil pessoas. No entanto, a falta de visibilidade e reconhecimento da diversidade de gênero e sexualidade dentro dessas comunidades ainda impõe diversos obstáculos.

“Eu sofro um preconceito duplo por ser mulher indígena e por ser travesti. Porque, antes mesmo da minha cara, da minha sexualidade chegar, o preconceito indígena chega na frente”, contou Samantha Terena, mulher trans, ativista e estudante de serviço social, durante a plenária.

Outra pauta muito lembrada durante o evento foi a invisibilidade que o movimento LGBT tem dentro do movimento indígena. “Eu já ouvi falar que ser LGBT não tem nada a ver com ser indígena”, afirmou Yakecan Potyguara, liderança indígena e fundadora da Caboclas Indígenas LGBTI+.

“Somos LGBT’s, mas a gente também luta pela demarcação dos nossos territórios, saúde, educação e, principalmente, pelas nossas vidas indígenas. Estamos aqui no ATL para mostrar aos nossos parentes que a gente está ocupando esses espaços também”, completou Yakecan.

A falta de representatividade dificulta o entendimento e a orientação dessa população dentro de seus povos, além de incentivar o preconceito diante do não conhecimento da pauta.  Outro problema é a criação e o acesso a políticas públicas voltadas para essa população que, por ser invisibilizada, muitas vezes não está incluída em pesquisas e serviços que poderiam auxiliar em sua inclusão na sociedade.

“O Brasil foi devastado pelo fascismo e pelo ódio, mas a chegada da bancada do cocar ao congresso representa uma mudança, representa uma esperança”, destaca Erika Hilton.