Foto: Petr David Josek/AP

Por Rodrígo Olivêira

A tão sonhada sexta estrela (ainda) não veio para o escudo da seleção brasileira, mas um ponto importante não pode ser deixado de lado nessa derrocada brasileira nas quartas de final, tanto de 2018 como em 2022: a insistência de Tite em exercer a profissão de psicólogo, sem ter gabarito para tal.

A profissão de psicóloga(o) foi regulamentada pela Lei 4.119 de 1962, tendo como missão, de acordo com o site do CRP-03:

“Fortalecer o papel político, ético e social da Psicologia como ciência e profissão, comprometendo-a com os direitos humanos, a construção de políticas públicas e o controle social, orientando, fiscalizando, disciplinando e referenciando o exercício profissional, na perspectiva de uma sociedade equânime, plural e democrática”.

No entanto, apesar de não achar o currículo lattes do agora ex-técnico do Brasil, para consultar essa segunda profissão, em breve pesquisa no CONFEF (Conselho Federal de Educação Física), o senhor Adenor Leonardo Bachi, o Tite, consta seu registro como profissional de Educação Física.

Foto: Print site CFP

Foto: Print Site CONFEF

Talvez, por conta desse pensamento arcaico de Tite em relação ao acompanhamento psicológico dos atletas, esse comportamento tenha os afetado na hora da cobrança dos pênaltis.

Muitas perguntas pairavam na mente da torcida, como: por que Rodrygo, de apenas 21 anos, teve a responsabilidade de cobrar o primeiro pênalti? Por que não Neymar?

Por que não levar uma psicóloga(o) pro Mundial?

No mundo competitivo, capitalista e imediatista em que vivemos hoje, a saúde mental tem sido subestimada tanto pelo cidadão comum como no que tange ao desempenho dos atletas.

O “pofexô” Tite não precisaria ir tão longe para conseguir auxílio psicológico para o seu plantel. A seleção brasileira sub-20 feminina tinha uma psicóloga integrada na comissão técnica para o Sul-Americano em abril deste ano em Viña del Mar, Chile.

A profissional gabaritada para o acompanhamento foi a Psicóloga do Esporte Luciana Ângelo, que ajudou as jovens atletas a se tornarem campeãs invictas e sem tomar nenhum gol.

Segundo o site ABRAPESP (Associação Brasileira de Psicologia do Esporte) que cita uma entrevista com a meia Laura Valverde para a CBF: “A psicologia auxilia muito na nossa performance, ainda mais numa competição como o Campeonato Sul-Americano. É preciso gerenciar nossos pensamentos, nossas emoções. Isso faz total diferença, porque há momentos em que precisamos relaxar e outros em que precisamos estar extremamente ligados, então é necessário estar bem equilibrada para isso”.

Ainda de acordo com a publicação da Associação, Luciana Ângelo que tem 30 anos de experiência na área esportiva e participou de 11 convocações do Sub-20 feminino, explica como é feito o seu trabalho: “A partir do conhecimento das emoções, gerenciá-las se torna muito mais fácil, tanto para o relaxamento, para lidar com a pressão, tanto para uma estimulação, para estarem mais atentas, ativas, alertas e vigorosas para aquilo que elas precisam executar no campo durante o jogo”.

Para a estudante e futura psicóloga em janeiro próximo, Nathália Blohem, baiana de 22 anos, cujo TCC foi na área da psicologia do esporte (Psicologia do Esporte: uma análise sobre o emergente desenvolvimento da área na região Nordeste), ela entende que a área é pouco valorizada na região nordeste, mas que em comparação com a região sul e sudeste é “gritante”.

Quando questionada sobre a atitude de Tite, ela desabafa: “A psicologia vem crescendo muito, mas não é sinônimo completo de valorização. Muita gente tem preconceito ou acha que não precisa nunca! Então eu acho que um ponto positivo, o único, na verdade, é que fatos como esse, expostos, demonstram e ajudam a dar um pontapé nesse reconhecimento e entender que a psicologia é fundamental para todos nós. As coisas precisam acontecer, para não ser um tabu falar sobre saúde mental, mas é preciso que venha alguma mudança a partir daí.”

Ela ainda completa: “A psicologia do esporte no futebol realiza o treino mental de um atleta e é tão importante quanto o treino físico que ele faz, isso se não for mais importante ainda. Ela cuida das dores emocionais daquele envolvido, prepara para acontecimentos esperados e inesperados, previne comportamentos disfuncionais, trabalha no relacionamento de toda a equipe.”

Sobre Tite se considerar “psicólogo” dos atletas, ela foi incisiva: “Isso não existe! Psicólogo é um só. É aquele que fez uma graduação de cinco anos e tirou seu registro no Conselho Regional de Psicologia.”

No esporte

Foto: Acervo Pessoal/ @isaramona

Para a atleta olímpica de basquete da seleção brasileira, Isabela Ramona, que atualmente joga no Samara da Rússia, ela relata que está em acompanhamento psicológico individual há três anos, que segundo ela é “um pouco tarde”, levando-se em consideração que ela joga profissionalmente desde os 17 anos.

Concatenado com a fala da futura psicóloga Nathália Blohem, Ramona diz que: “Acho um absurdo uma seleção de futebol com a estrutura que tem ainda não entender que cuidar do psicológico é tão importante quanto cuidar do físico. Principalmente numa competição desse tamanho, onde muitos fatores extra campo interferem, onde há muita pressão. Todos os jogadores ali precisavam desse acompanhamento. (…) mas numa cobrança de pênalti com certeza o fato psicológico interfere.”

A ausência de acompanhamento psicológico pode ser vista quando o jogador Richarlyson vai até a grade do hotel agradecer o apoio da torcida brasileira. O camisa 9 aparece desnorteado e emocionado com a eliminação da equipe.

Já Rodrygo, fez um fio no twitter dizendo que foi “do céu ao inferno” em poucos minutos.

Texto produzido em cobertura colaborativa da NINJA Esporte Clube