No cenário atual, a disparidade nas emissões de carbono entre os 1% mais ricos e o restante da população é alarmante. Em 2019, o 1% mais rico emitiu uma quantidade de CO₂ equivalente à produzida por 5 bilhões de pessoas. Essa desigualdade não apenas contribui para as mudanças climáticas, mas também impacta de maneira desproporcional comunidades vulneráveis.

Esses dados foram revelados no relatório Igualdade Climática: Um Planeta para os 99%, lançado nesta segunda-feira (20) pela Oxfam às vésperas da Cúpula Climática na ONU (COP 28) em Dubai, entre os dias 30 de novembro e 12 de dezembro deste ano. Um dos temas centrais da COP 28 é a necessidade de manter a meta de 1,5°C no aumento da temperatura global para evitar um colapso climático.

Desdobramento das emissões do 1% mais rico

Em 2019, as emissões de CO2 do 1% mais rico representaram 16% das emissões globais, superando as emissões de todo o setor de automóveis e transporte rodoviário. Desde a década de 1990, esse grupo utilizou o dobro do orçamento de carbono disponível para a metade mais pobre da população mundial. Isso não apenas acelera o ritmo do aquecimento global, mas também estabelece um caminho preocupante para o esgotamento total do orçamento de carbono global até 2028.

“É inaceitável que o 1% mais rico continue liderando o mundo ladeira abaixo para um colapso planetário. E quem vem sofrendo o impacto dos danos dessa viagem é a maioria da população. São as bilhões de pessoas impactadas por enchentes, secas, perdas de território, aquecimento e baixa de temperatura desproporcional, problemas de saúde e pobreza”, afirma Katia Maia, diretora executiva da Oxfam Brasil.

“Durante anos a sociedade e a academia lutam para acabar com a era dos combustíveis fósseis para salvar milhões de vidas e nosso planeta. Está mais nítido do que nunca que isso será impossível enquanto houver riqueza extrema no mundo e enquanto os governos não cumprirem seus compromissos com uma sociedade sustentável”, complementa Maia.

Foto: Markus Spiske

Acúmulo de riqueza em dados:

  • O 1% mais rico foi responsável por 16% das emissões globais de consumo em 2019 – mais do que todas as emissões de automóveis e transportes rodoviários. Já os 10% mais ricos responderam por metade das emissões.
  • Levaria cerca de 1.500 anos para uma pessoa que está entre os 99% da população no mundo produzir tanto CO2 quanto os bilionários mais ricos produzem em um ano.
  • Todos os anos, as emissões do 1% mais rico anulam a economia de carbono proveniente de quase um milhão de turbinas eólicas.
  • Um imposto de 2% sobre a riqueza dos milionários, de 3% sobre aqueles com riqueza superior a 50 milhões de dólares e de 5% sobre os bilionários do mundo geraria 1,726 trilhão de dólares.

Impactos na saúde e nas desigualdades

As emissões do 1% mais rico em 2019 têm o potencial de causar 1,3 milhão de mortes por calor entre 2020 e 2100. Além disso, países com altos níveis de desigualdade enfrentam sete vezes mais mortes por inundações do que aqueles com índices mais equitativos. Essa correlação direta entre ações individuais e impactos coletivos destaca a necessidade de uma abordagem mais equitativa na mitigação dos efeitos das mudanças climáticas.

Desafios e soluções:

A Oxfam propõe uma série de recomendações para promover a igualdade, combater as mudanças climáticas e reformar o sistema econômico. Em primeiro lugar, destaca a necessidade de os governos implementarem políticas comprovadas para reduzir drasticamente a desigualdade, argumentando que sociedades economicamente mais igualitárias são essenciais para enfrentar desafios como desigualdades de gênero, raça e religião, além de lidar de maneira mais eficaz com condições meteorológicas extremas.

O consumo excessivo do 1% mais rico estende-se ao ponto em que, se apenas eles existissem no planeta, o orçamento de carbono global duraria até 2070. Para conter as mudanças climáticas e as desigualdades, a taxação justa dos super-ricos emerge como uma solução viável. A implementação de impostos progressivos, como 2% sobre a riqueza dos milionários e 5% sobre os bilionários, poderia gerar 1,726 trilhão de dólares. Esses recursos poderiam ser direcionados para enfrentar as crises climáticas e promover a transição para uma sociedade mais sustentável.

Além disso, a Oxfam propõe um novo propósito para a economia, destacando a insustentabilidade do atual sistema orientado para o crescimento econômico ilimitado. Sugere a necessidade de redesenhar e reimaginar as economias para garantir a sustentabilidade e a responsabilidade social.

Essas recomendações visam colocar os 99% no controle das economias, promovendo a justiça social, a sustentabilidade ambiental e uma abordagem mais equitativa para o futuro econômico global, apontou a organização.