Foto: Reprodução / FIFA Word Cup

Por Patrick Simões / Além da Arena

O Grupo B da Copa do Mundo carrega consigo conflitos históricos muito além do futebol. A 3ª e decisiva rodada terá os jogos entre: Irã e Estados Unidos, e Inglaterra e País de Gales.

Decidindo a vaga nas oitavas de final, Irã e EUA têm um conflito geopolítico de décadas. A partir dos anos 50, os países tinham uma boa relação diplomática, com os ocidentais apoiando o monarca xá Mohamed Reza Pahlevi.

Até que em 1979 ocorreu a Revolução Islâmica do Irã, motivada pela desigualdade social no país. A monarquia se tornou uma república teocrática. A partir de então, Irã e Estados Unidos entraram em conflito político. No ano seguinte, o Iraque invadiu o Irã, com apoio estadunidense.

Neste período, Irã e Estados Unidos se encontraram em uma Copa do Mundo, em 1998. O jogo ocorreu um ano depois da eleição de Mohammad Khatami, que pautava uma reaproximação com os EUA. A partida foi conhecida teve manifestações de “paz” entre os jogadores, e foi 2 x 1 para o Irã.

Este ano, porém, a partida ocorre em um momento de conflito entre os países. Em 2018, o presidente estadunidense Donald Trump quebrou o “acordo nuclear” de 2013, que retomava as relações econômicas entre Irã e aliados dos EUA, em troca de garantias pelos não ataques nucelares do Irã.

Dentro do futebol a relação ganhou mais um capítulo: a Federação estadunidense não colocou a bandeira do Irã no seu site, ao divulgar o jogo. A FIFA ameaçou sanções à seleção dos EUA, e então colocaram a bandeira iraniana. A justificativa foi o apoio “ao direito das mulheres do Irã.” As manifestações de iranianos pelo direito das mulheres também marcam o Mundial, com apoio de jogadores.

O duelo britânico é marcado por um conflito de séculos. O território galês foi invadido pelos ingleses ainda no século XIII, reivindicando País de Gales como território inglês. Depois, o mesmo ocorreu com Irlanda e Escócia. No século XVI, Gales foi anexado ao Decreto da União, o que aplicava todas as leis da Inglaterra também para Gales.

Posteriormente, a Inglaterra fez o mesmo com Irlanda e Escócia, mas essa relação nunca foi pacífica. País de Gales, Irlanda e Escócia tem um forte discurso nacionalista, buscando se diferenciar da Inglaterra também culturalmente. Em 1919, o exército irlandês lutou pela independência. O país se separou em Irlanda do Norte (pertencente ao Reino Unido) e a Irlanda, independente do Reino Unido.

País de Gales, Escócia e Irlanda do Norte têm fortes conflitos políticos que pautam suas independências do Reino Unido. O caso mais importante no futebol é da torcida escocesa do Celtics, formada por católicos que lutam contra a imagem da monarquia, e que este ano comemoraram a morte da Rainha Elizabeth.

Apesar de serem todos britânicos do Reino Unido, os países possuem Seleções de futebol independentes, com rivalidades históricas. Em 1872, Inglaterra e Escócia disputaram a 1ª partida internacional de futebol. Em 1883, os 4 países criaram um torneio anual entre si, o que fomentou a rivalidade no futebol. O “British Home Championship” durou um século, até 1984.

Sorteados no mesmo grupo desta Copa, o Príncipe William afirmou inicialmente que torceria para a Inglaterra na Copa do Mundo. William possui o título de Príncipe de Gales, e essa manifestação gerou críticas dos galeses. Depois, William disse que torceria pelos dois países.

Esta será a primeira vez que Inglaterra e País de Gales se enfrentam em uma Copa do Mundo. O jogo ocorre em um momento de retomada dos conflitos por independência. Em 2020, o então 1º ministro do Reino Unido Boris Johnson declarou que quer sair da União Europeia, o que contraria Escócia e Irlanda do Norte, o que intensificou a disputa política entre os membros da Grã-Bretanha.