Foto: Lucas Figueiredo / CBF

O governo Jair Bolsonaro (PL) autorizou o repasse de R$ 6,2 milhões a duas ONGs que estavam inativas e foram recém-assumidas pelo ex-jogador Emerson Sheik e por Daniel Alves, lateral-direito da seleção brasileira de futebol. A informação foi publicada nesta terça-feira (5) pela Folha de S. Paulo.

Para driblar exigências legais e conseguirem as assinaturas dos convênios, os atletas recorreram às chamadas “ONGs de prateleira”. A regra de convênio estabelece a necessidade de as entidades da sociedade civil existirem há pelo menos três anos para firmar acordos com o governo federal.

As organizações tiveram projetos aprovados no ano passado para realização de cursos de esportes, mas não têm nenhuma experiência prévia na área. Sheik teria desistido do convênio depois que foi procurado pela Folha, conforme o jornal afirmou a partir de contato com o Ministério da Cidadania. O órgão reforçou que não houve nenhuma ilegalidade no convênio.

“Os dois atletas assumiram os institutos meses antes de apresentarem proposta de convênio ao governo federal. Para comprovar a capacidade técnica necessária para a execução dos projetos, ambos listaram, principalmente, feitos da carreira como jogador e imagens suas durante partidas de futebol”, aponta o jornal.

Foto: Divulgação / Ministério da Cidadania

Sheik é apoiador declarado de Bolsonaro, aparecendo sempre com o filho mais velho, Flávio Bolsonaro (PL-RJ). Ele também apoiou a ex-mulher do presidente, Rogéria Bolsonaro, para vereadora do Rio em 2020. Assumiu no final de 2019 o Instituto Qualivida, que foi fundado há 26 anos mas nunca realizou projetos sociais no setor esportivo, e mudou o nome para Instituto Emerson Sheik. Ele teria articulado convênio a partir de uma emenda parlamentar do deputado Hélio Lopes (PL/RJ), o Hélio Negão, outra figura bolsonarista com quem tem relações.

O projeto instalaria três núcleos esportivos em Mangaratiba (RJ) e Queimados (RJ) por R$ 2,7 milhões.

Na última sexta-feira (1º), após ser abordado pela Folha sobre o convênio, Sheik notificou o governo federal sobre a desistência do convênio. Oficialmente, ele afirmou que a desistência ocorreu por mudanças internas na entidade.

Já Daniel Alves já tinha seu próprio instituto fundado há um ano, em março de 2021. Ele não poderia, portanto, firmar parcerias com o governo federal sem a experiência mínima de 3 anos. Ele assumiu então o instituto de um amigo em comum, que estava inativo havia 5 anos.

A sede do Instituto Daniel Alves foi inaugurada oficialmente em 25 de março em Lauro de Freitas (BA). O diretor técnico da ONG, Rodrigo Valentim, disse que a organização começou a oferecer cursos esportivos um mês antes com cerca de R$ 2 milhões disponibilizados pelo próprio jogador, atendendo a 700 crianças.

O contrato de R$ 3,5 milhões foi firmado em dezembro com o governo federal para instalar três núcleos de basquete 3×3 na Bahia, Pernambuco e Distrito Federal. A verba federal foi obtida por meio de emenda do relator do Orçamento, a pedido da deputada Celina Leão (PP-DF). A deputada emprega em seu gabinete Ana Cristina Valle, ex-mulher de Bolsonaro.