Foto: Leia Já

Na quinta-feira (dia 31/1/19), na zona rural do município de Formosa do Rio Preto – Bahia, pistoleiros invadiram a área coletiva da comunidade geraizeira do Alto Rio Preto. Por ordem dos proprietários da Fazenda Estrondo, pegaram o gado dos geraizeiros e o levaram para os estábulos da Fazenda.

A apreensão dos animais foi identificada no meio da manhã quando os geraizeiros foram buscar a manada que é criada solta na área coletiva da comunidade.

Jossinei Lopes Leite e seus familiares ao perceberem a situação foram à Fazenda Estrondo exigir a devolução dos animais. Ao chegarem foram recebidos com tiros disparados por dois pistoleiros. Atingido na perna, Jossinei se afastou do local e conseguiu retornar a cavalo para a Comunidade de Cachoeira. Lá foi socorrido por familiares e levado ao hospital do município. O atentado foi registrado em vídeo no celular de uma das vítimas.

Geraizeiros

Geraizeiros são povos tradicionais que habitam as regiões denominadas de gerais.

Compartilham um espaço comum onde é possível a colheita de frutos nativos como: pequi, buriti, coco babaçu, catolé, piaçava e outros. Praticam agricultura de subsistência, e criam animais como gado.

A Fazenda Estrondo

A Fazenda Estrondo é resultado de apropriação ilegal de 444 mil hectares de terra nas proximidades da nascente do Rio Preto, importante afluente da Bacia do Rio São Francisco. As terras griladas eram de uso tradicional das comunidades geraizeiras do Alto Rio Preto – Cachoeira, Marinheiro, Cacimbinha, Gatos e Aldeia. A área está localizada no coração da região conhecida por MATOPIBA, fronteira agrícola onde se acumulam denúncias de grilagem e violência contra comunidades e posseiros.

Após se apropriar e desmatar o chapadão onde as comunidades criavam gado e realizavam extrativismo, agora as empresas avançam sobre a região do Vale do Rio Preto, onde estão localizados os povoados. Nesta área do vale, as comunidades ainda exercem a sua posse tradicional, na qual extensas áreas são de uso comunitário.

As empresas construíram guaritas com “agentes de segurança” privados entre as comunidades, de onde controlam o trânsito nas estradas e exercem forte vigilância sobre as famílias.

Foram registradas junto às autoridades policiais e Ministério Público Estadual e Federal dezenas de ameaças, agressões e até sequestro relâmpago de trabalhadores que ocupam a direção das associações comunitárias. No entanto, nada foi apurado e, até o momento, nenhum responsável foi punido.

A fazenda foi autuada em diversas oportunidades pelo Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama), em razão de desmatamento ilegal. Também há registros de autuação por trabalho análogo à escravidão.

O protagonista da grilagem é o empresário Ronald Guimarães Levinsohn. Ele controla, atualmente por intermédio das duas filhas, as três empresas que reivindicam a propriedade das terras: Delfim Crédito Imobiliário S/A, Colina Paulista S/A e Companhia de Melhoramentos do Oeste da Bahia (CMOB). Envolvido em inúmeras
fraudes e negócios suspeitos, ganhou notoriedade por sua proximidade com próceres da Ditadura Civil-Militar (1964-1985).

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