Por Larissa Breder, Luana Nunes e Mariana Walsh

A pressão psicológica com a qual um atleta profissional precisa lidar pode ser desafiadora por diversos motivos. O alto rendimento com direito a resultados grandiosos muitas vezes é acompanhado de cobranças duras e contínuas que podem gerar grandes impactos na vida de qualquer pessoa. Nos últimos anos, muitos atletas, principalmente mulheres, têm falado abertamente sobre as batalhas que enfrentam quando o assunto é saúde mental, abrindo espaço para a discussão do tema no meio esportivo.

Nessa Copa do Mundo Feminina, a seleção norte-americana chamou atenção ao lançar uma iniciativa que visa “desestigmatizar a conversa em torno da saúde mental”. Em um projeto junto com a Common Goal, além de buscar uma maior conscientização sobre o tema, o intuito é arrecadar fundos para que profissionais da área sejam enviados para organizações esportivas espalhadas pelos EUA para que, assim, todos tenham como obter a ajuda necessária caso estejam enfrentando problemas de saúde mental.

Em um vídeo emocionante, a campanha foi lançada como uma homenagem à história da jovem goleira do time da Universidade de Stanford, Katie Meyer, que faleceu no ano passado.

Naomi Girma, zagueira da equipe americana e uma das idealizadoras do projeto, falou para o site da Common Goal sobre a importância de utilizar a visibilidade que os atletas possuem para ajudar na quebra de estigmas.

“Em ano de Copa do Mundo, temos a oportunidade única de deixar um impacto duradouro dentro e fora de campo. É importante para mim amplificar essa causa no maior palco do mundo e agir junto com outras jogadoras para criar mudanças significativas”.

Keira Walsh, meio campista da seleção da Inglaterra, foi outra atleta que abordou o tema recentemente. Ela revelou ao Daily Mail que a pressão e as críticas sofridas durante a Copa do Mundo de 2019 quase a fizeram largar o futebol. Foi apenas através da ajuda de psicólogos que ela conseguiu se reerguer e recuperar a confiança necessária para voltar a jogar, vindo a se tornar uma das jogadoras mais caras da atualidade.

Já Vivianne Miedema, atacante da seleção holandesa, que está fora do mundial por lesão, afirmou, em entrevista ao canal JOE UK, que essa pressão pode ser muito cruel com os atletas. Por isso, é importante “criar espaços seguros para que as pessoas possam dizer: ‘Eu não estou bem!’ ou ‘Eu preciso de ajuda!’”.

No Brasil

Para a Copa do Mundo de 2023, a seleção brasileira contou com um investimento inédito e embarcou para a Austrália com uma delegação recorde. Peça importante no trabalho da técnica Pia Sundhage, a psicóloga Marina Gusson acompanha o time desde um amistoso contra o México, em 2019. Em entrevista ao site da CBF, em 2020, ela explicou que seu trabalho consiste em um “gerenciamento tanto das emoções quanto dos pensamentos para se ter a melhor performance em campo”.

Psicóloga Marina Gusson acompanha o time feminino desde o amistoso em 2019. Foto: Lucas Figueiredo/CBF

Na contramão da técnica sueca, Tite, ex-comandante da seleção brasileira masculina, dispensou a presença de um psicólogo na comissão técnica nas últimas duas Copas. Tal atitude faz crer que, entre os homens, ainda existe uma resistência maior diante do assunto, muito pelo machismo e a falsa noção de que os homens não podem ser frágeis perante a sociedade, o que pode acabar fazendo com que os mesmos desenvolvam problemas psicológicos devido à cobrança para não demonstrarem suas fraquezas.

O debate pelo mundo

Segundo pesquisa feita pela Organização Mundial da Saúde (OMS), entre os jogadores de futebol ativos, 23% relatam distúrbios do sono, enquanto 9% relatam depressão e outros 7% ansiedade. Entre os jogadores aposentados, esses números aumentam, com 28% deles lutando para dormir; a depressão e a ansiedade afetam 13% e 11% desses esportistas, respectivamente segundo a FIFPRO. Tais números ajudam a humanizar os atletas, e a fomentar as discussões, que se mostram muito necessárias sobre o tema.

Assim, a abordagem sobre saúde mental no esporte tem ganhado cada vez mais destaque nos últimos anos. Os casos e as iniciativas mencionados acima ajudam na quebra de estigmas e revelam a importância de reconhecer o papel da psicologia esportiva. Dessa forma, é possível garantir um ambiente mais saudável e equilibrado para o desenvolvimento esportivo no mais alto nível, com jogadoras e jogadores felizes dentro e fora dos campos.

Texto produzido em cobertura colaborativa da NINJA Esporte Clube