Mesmo sem ser investigado em nenhuma apuração policial, Thiago Torres teve sua foto incluída em álbum em inquérito que investiga um caso de sequestro

Foto de Thiago Torres foi incluída em álbum por ser ‘semelhante’ a suspeito. Foto: Divulgação/Instagram

O influenciador e palestrante de política Thiago Torres, estudante de Ciências Sociais na Universidade de São Paulo (USP), teve sua foto incluída em uma lista de reconhecimento de suspeitos, sem ao menos ser investigado.

A foto faz parte de um inquérito da Polícia Civil que investiga um caso de sequestro na cidade de São Paulo e a foto consta no inquérito ao menos desde outubro deste ano.

 

Conhecido como “Chavoso da USP”, Thiago só ficou sabendo do caso porque o advogado criminalista Bruno Santana, amigo da vítima, reconheceu sua foto enquanto analisava o processo. Ao receber a informação, cedeu uma entrevista ao veículo g1, onde alegou estar surpreso com o ocorrido.

“É mais uma face desse racismo institucionalizado, desse racismo estrutural, do preconceito com moradores de periferia e de favela de um modo geral, com o preconceito com a nossa forma de se vestir e com os estereótipos que a gente carrega para esse sistema construído pela mídia”, relatou o estudante ao g1.

A polícia diz que está amparada pelo artigo 226, inciso II, do Código de Processo Penal, e pode usar as fotos de “pessoas parecidas”. Para o advogado Bruno Santana eles não são parecidos. “Não tem nada que se assemelha ao Thiago, a não ser a condição de ser uma pessoa periférica”.

O advogado ressalta como o sistema de reconhecimento é falho e estigmatiza pessoas da periferia. O resultado é a estigmatização dessa população, vista como suspeita em potencial.

“Você coloca uma pessoa como um chavoso, cheio de corrente, com a camisa do Flamengo, de boné, um padrão que qualquer acusado de um crime pode ter. E se a vítima fala que foi ele?”, questionou Santana.

Segundo o Instituto de Defesa do Direito de Defesa (IDDD), “o álbum de suspeitos costuma ser apresentado para vítimas/testemunhas de delitos para que eventualmente reconheçam o autor do crime. O procedimento não está previsto no Código de Processo Penal e os critérios para a inclusão da imagem de alguém não são conhecidos”.

O advogado Bruno diz que vão registrar boletim de ocorrência por abuso de autoridade para evitar que uma vítima venha a reconhecer Torres por um crime e ele vá preso.

A Secretaria da Segurança Pública (SSP) foi questionada sobre o caso, mas não se manifestou até o momento.

Com informações do g1