Por Nathália Shizuka

Na última quinta-feira(04), a Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) celebrou um momento histórico durante sua cerimônia de formatura. Cynthia Luiza Ribeiro do Amaral, que se formou em Serviço Social, tornou-se a primeira graduada da instituição a receber seu diploma usando uma beca branca, honrando sua fé no candomblé.

A Reitoria concedeu permissão para o ato, considerando a importância de garantir direitos. Cynthia abordou a questão com a universidade, que, por meio da Secretaria de Cultura, Arte e Esportes (SeCArtE), responsável pelas formaturas, reconheceu que era um caso inédito. A estudante expressou surpresa ao descobrir que estava fazendo história.

Pela primeira vez na história da UFSC, uma vestimenta com características específicas foi adotada, por deliberação da Reitoria, para permitir que Cynthia pudesse se formar respeitando sua perspectiva de acessibilidade e garantia de direitos. O cumprimento dessa prerrogativa legal é reconhecido como um marco importante não apenas para a comunidade acadêmica, mas também para os praticantes de religiões de matriz africana e todas as religiões, representando um gesto significativo na luta contra o racismo religioso e a intolerância religiosa.

Cynthia, cujo orixá é Oxumarê, associado ao movimento e à transformação, logo percebeu o desafio que enfrentaria quando soube que a formatura coincidiria com seu período de preparação espiritual. Ela começou a considerar como conciliar a celebração tradicional dos formandos com suas práticas religiosas, algo que não apenas era um direito, mas também um desejo compartilhado por ela e sua família. A ideia de se formar usando uma roupa preta e lidar com a cobertura da cabeça representou um dilema para Cynthia.

Houve uma coincidência de datas significativa para Cynthia: em 21 de novembro, ela apresentou seu TCC, marcando também o início de um ritual religioso que exigia o uso exclusivo de roupas brancas e a cobertura da cabeça por um período de um ano.

Durante este período, conhecido como “preceito”, Cynthia iniciou uma fase crucial em seu desenvolvimento espiritual como praticante do candomblé, preparando-se para receber seu orixá. Neste período, os adeptos da religião têm de respeitar uma série de ritos, entre eles o de usar roupas brancas diariamente e cobrir o cabelo durante um ano. Para ela, vestir qualquer outra cor que não fosse branca, como o preto, teria sido problemático, dada a importância deste período em sua jornada espiritual.