A turca “Polis-Özel-Harekat” e a Polícia de Choque Francesa são apenas uma fração das forças repressivas de diversos países que atuam na Copa do Mundo do Catar 2022

Foto: Emrah Yaşar/AA

Por Rachel Motta Cardoso

A Copa do Mundo que acontece no Catar teve início no dia 20 de novembro e terá sua grande final no dia 18 de dezembro, domingo, às 12h. Neste intervalo, temos 40 partidas, sendo a maior parte delas na fase de grupos. Ou seja, são 40 vezes em que tropas especiais são necessárias para o controle de multidões que se deslocam para assistirem aos jogos de suas seleções ou às partidas pra lá de aguardadas com confrontos históricos entre as equipes de todo o planeta.

Além dessas partidas, temos as inúmeras festas realizadas pelos patrocinadores do evento e, mais uma vez, as forças policiais são necessárias. Já imaginou uma única polícia ter que lidar com todos esses torcedores e cada um deles falando seu idioma específico? Além disso, tem também um outro cenário e que nenhum organizador deseja: os violentos hooligans trazendo problemas para o Catar.

Os hooligans

De acordo com o nosso Dicionário Aurélio, o hooligan é o “Desordeiro que se entrega a atos de violência e vandalismo, especialmente quando de competições esportivas; torcedor violento, arruaceiro, vândalo”. Tendo origem na língua inglesa, o uso do termo pela primeira vez teria sido por volta de 1890, quando os jornais de Londres tratavam de gangues que atuavam nas ruas locais e o termo foi utilizado em relatórios de polícia londrinos em 1894. Assim, o mesmo país que criou o futebol, também criou torcedores apaixonados, mas tão apaixonados que acabaram se excedendo.

Na década de 1960, alguns utilizavam a violência como sua linguagem mais comum e relembrando o passado das gangues que “aterrorizavam” as ruas inglesas, o termo hooligan, agora, também se voltava para o futebol. Essa é uma discussão que merece maior aprofundamento, sem dúvida, pois há inúmeras questões sociais, políticas e econômicas em torno do hooliganismo. Porém, não nos cabe fazer isto neste pequeno espaço.

Antes da Copa do Mundo da Rússia, em 2018, hooligans argentinos e russos fizeram uma espécie de pacto, com o objetivo de enfrentar os hooligans ingleses. Houve, inclusive, uma visita dos russos a Buenos Aires para concretizar o pacto com os barras-bravas argentinos. O temor era que cenas de violência como as que foram vistas na Euro de 2016 se repetissem.

No entanto, o forte esquema de segurança montado pelos russos para a Copa do Mundo funcionou, já que não tivemos nenhuma notícia com este teor à época do Mundial. O motivo? Além do monitoramento de famosos hooligans, a presença de um Centro de Cooperação Policial Internacional, o CCPI, como aconteceu no Brasil em 2014 para a Copa do Mundo e em 2016 para as olimpíadas. A FIFA levou o mesmo sistema para o Catar, que convidou o Brasil, a Turquia, a França e diversos outros países para cooperarem com suas polícias.

O Centro de Cooperação Policial Internacional

No Catar, este Centro segue o mesmo padrão adotado em Copas anteriores. O seu objetivo é “garantir a segurança do evento por meio de uma atuação colaborativa e coordenada entre os representantes policiais dos 32 países participantes da Copa do Mundo e de organismos internacionais, como a INTERPOL e a EUROPOL, sob a liderança da Polícia Nacional do Catar”, como consta no site da Polícia Federal brasileira, que disponibilizou uma equipe formada por um Delegado, dois Agentes, uma Escrivã e um Papiloscopista. De acordo com a própria PF, o modelo desenvolvido é o mesmo daquele que se deu na realização da Copa do Mundo do Brasil, em 2014. No caso brasileiro, eram 250 policiais estrangeiros de 31 países que integraram o CCPI em território nacional.

Para esta Copa do Mundo, o Centro de Comando e Controle fica próximo ao Estádio Khalifa, com estrutura semelhante ao que foi adotado pelos russos em 2018, nos arredores de Moscou. Além disso, os responsáveis pela segurança no Catar também utilizam um centro esportivo da região, o Aspire, que abriga a Sala de Controle que monitora todas as áreas aos redores do Estádio onde acontece os eventos. Durante 24 horas por dia, as mais de 15 mil câmeras instaladas – todas elas com tecnologia de reconhecimento facial – fazem o monitoramento dos estádios e arredores.

Mas não é só com aparatos tecnológicos que se faz uma Copa! É aí que entra um personagem importante: Helmut Spahn, o responsável pela segurança na FIFA e que “sugeriu” ao Catar utilizar o mesmo padrão das Copas anteriores. Ou seja, policiais de todo o mundo auxiliando a polícia do Catar.

Foto via Wikimedia Commons

A Polis Özel Harekâft da Turquia e a Police Anti-émeute da França

Policiais do mundo inteiro são utilizados para auxiliar as forças policiais do Catar a lidar com possíveis delitos e problemas causados por torcedores estrangeiros. O caso das polícias especiais da Turquia e da França, é um pouco diferente. Só os turcos enviaram mais de três mil policiais, sendo cem deles da unidade de forças especiais, cinquenta especialistas em bombas, além de 66 cães especializados em farejamento de explosivos.

A Polis Özel Harekâft ou seja, a Polícia de Operações Especiais da Turquia, foi criada em 1982, com o intuito de intervir em assaltos a bancos e ato terroristas, desempenhando funções de inteligência e combate ao terrorismo. É com esse objetivo de que os policiais turcos chegaram ao Catar. Eles são os responsáveis pela segurança em estádios e nos hotéis em que as seleções de todo o mundo estarão hospedadas. Por fim, durante a fase de preparação para a Copa do Mundo, as autoridades dos dois países consideraram aprovar um protocolo entre os países, com o objetivo de compartilhar experiências e conhecimentos que os turcos adquiriram ao garantir a segurança de organizações internacionais hospedadas em eventos na Turquia.

“Coordenação em casa, cooperação no mundo”. Esse é o lema das forças policiais na Turquia.

Mas não é a primeira vez que a Turquia mantém relações na párea de defesa com o Catar. No ano anterior à Copa, o Ministro do Interior Turco, Süleyman Soylu afirmou que as forças policiais turcas treinaram 677 agentes do Catar em mais de 38 áreas. Antes disso, em dezembro de 2019, a Turquia posicionou forças no Catar na base de Khalid bin al-Waid. Além disso, atualmente, os países também possuem um acordo de cooperação na área de saúde militar, assinado em março de 2021, em que o Serviço de Saúde do Exército da Turquia e do Catar firmaram um intercâmbio de pessoal, materiais, equipamentos e, principalmente, conhecimento. No entanto, a data do protocolo de cooperação entre as forças de segurança dos dois países é mais antiga, de 23 de maio de 2007.

Enquanto os turcos chegam com suas forças especiais e acordos de operação, a França envia o seu “Batalhão de Choque”, ou seja, a fração de sua polícia especializada em lidar com multidões. Contudo, essa força policial é conhecida pela sua brutalidade na repressão a grandes multidões. Foi justamente isso que se deu ao lidar com o confronto entre torcedores russos e ingleses na Euro em 2016, em que as tropas de choque francesas utilizaram gás lacrimogênio indiscriminadamente para dispersar a multidão. Em maio deste ano, atuando na partida final da Liga dos Campeões entre Liverpool e Real Madrid, a tropa de choque francesa também estava atuando e esta mesma prática foi utilizada contra a torcida do Liverpool no Stade de France, antes da realização do jogo. Aliás, esta é a prática mais utilizadas por esta tropa no controle de multidões e os exemplos não caberiam nesta matéria.

Texto produzido em cobertura colaborativa da NINJA Esporte Clube