Suspensas por Dilma Rousseff, comemorações do golpe voltaram a acontecer nos quartéis após decisão de Bolsonaro

Foto: Arquivo Nacional / Correio da Manhã

Por Cley Medeiros

Após a eleição de Lula, o Brasil vira mais uma página do desastre da gestão Bolsonaro. A partir deste ano, o golpe militar de 1964 não será mais comemorado nos quartéis das Forças Armadas, decidiu o Ministério da Defesa, com forte apoio do novo comandante do Exército nomeado pelo atual governo, general Tomás Miguel Ribeiro Paiva.

A data, 31 de março, inaugurou a fase mais dura dos movimentos golpistas que tiraram o governo progressista de João Goulart, sob alegação de que o presidente estaria fora do país, sem ter pedido autorização do Congresso, o que é uma mentira. Goulart estava no Rio Grande do Sul.

A comemoração do golpe militar foi retomada pelo governo de extrema direita de Jair Bolsonaro (PL) ainda em 2019, e contou com apoio amplo de setores militares saudosistas da ditadura, entre eles o ex-chefe do Gabinete de Segurança Institucional, o general bolsonarista Augusto Heleno. A data era comemorada pelo Exército como a data da “revolução” e não do início da ditadura militar no Brasil.

As comemorações foram vetadas pela então presidenta Dilma Rousseff (PT) ao assumir o comando do país em 2010. Dilma e milhares de pessoas foram torturada pelos militares durante os anos de chumbo.

O dia que durou 21 anos

A Ditadura militar no Brasil foi instaurada em 1 de abril de 1964 e durou até 15 de março de 1985, sob comando de sucessivos governos militares.

De caráter autoritário e nacionalista, teve início com o golpe militar que derrubou o governo de João Goulart, o então presidente democraticamente eleito. O regime acabou quando José Sarney assumiu a presidência, o que deu início ao período conhecido como Nova República.

Foto: Arquivo Nacional

Durante o regime militar de 1964, os torturadores brasileiros eram, em sua grande maioria, militares das forças armadas, em especial do exército. Os principais centros de tortura no Brasil, nesta época, eram os Destacamentos de Operações de Informação – Centros de Operações de Defesa Interna (DOI/CODI), órgãos militares de defesa interna. No ano de 2006, Carlos Alberto Brilhante Ustra, coronel do Exército Brasileiro e ex-chefe do DOI/CODI de São Paulo, respondeu e foi condenado por crime de tortura e sequestro em um tribunal militar.

Mas havia também torturadores civis, que atuavam sob ordens dos militares. Um dos torturadores mais famosos e cruéis foi Sérgio Paranhos Fleury, delegado do Departamento de Ordem Política e Social (DOPS) de São Paulo, que se utilizava de métodos brutais – e, por vezes, letais – para conseguir as confissões de seus suspeitos, à revelia de seus chefes. Segundo o relatório “Brasil: Nunca Mais”, pelo menos 1.918 prisioneiros políticos atestaram ter sido torturados entre 1964 e 1979 (15 de março de 1979 era a data-limite do período a ser investigado). O documento descreve 283 diferentes formas de tortura utilizadas na época pelos órgãos de segurança.

*Com informações do Observatório do Terceiro Setor