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Por Luciana Paschoal

A cantora e compositora Mariene de Castro chamou a atenção nas redes sociais, nesta terça (14), ao questionar sua ausência no Carnaval de Salvador. Não foi um soluçar de dor, mas uma mensagem de revolta lançada na rede. Junto com uma imagem onde exibe um largo sorriso, a artista soteropolitana diz não se lembrar da última vez que foi convidada para cantar no Carnaval de sua cidade. “Curioso isso. São 25 anos de carreira e eu nunca fui convidada para cantar no carnaval de Salvador”, desabafa a cantora.

Apenas durante os sete anos que integrou o bloco Cortejo Afro, Mariene foi presença garantida na maior festa do planeta. “Mas sempre sem a estrutura adequada, sem investimento, sem patrocínio, com um trio imprensando na frente e outro atrás, num horário ingrato. A prefeitura fazia a grade e o Cortejo passava às 4h da manhã, sem público, sem TV. É como se colocassem a gente no lugar onde colocam os negros no Brasil: na invisibilidade”.

Nascida e criada em Salvador, Mariene de Castro tem sua trajetória marcada pelo envolvimento com o samba e usou sua voz para questionar a falta de representatividade e valorização dos sambistas na festa mais popular do país: “por mais que o samba tenha nascido na Bahia, a Bahia não trata o samba como deveria. Por aqui, os sambistas só servem para receber homenagem póstuma”, setencia a cantora.

Mariene reforçou a importância do samba no Carnaval para a cultura e identidade da Bahia, e evidenciou a necessidade de uma mudança de paradigma na forma como se concebe e se promove essa grande festa. Entretanto, ela demonstra um certo pessimismo com o cenário atual: “não vejo nenhuma mobilização por parte dos organizadores, que têm dinheiro para trazer artistas de fora ou pagar altos cachês para cantores de axé e pagode, mas não dão o mesmo tratamento para o samba.”

A dor de ser excluída da festa ecoou. Outras artistas saíram em defesa da cantora. A sambista carioca Teresa Cristina escreveu: “sou sempre convidada e desconvidada, fico sem saber o que pensar. Li agora seu depoimento e fiquei foi com vergonha. Vergonha de duvidar do meu talento, porque o seu eu conheço muito bem. Sigamos em frente!”. Já a cantora Luciana Mello disse: “é exatamente isso minha amiga! Me sinto super junto contigo agora! O samba é brasileiro, o carnaval é brasileiro… Algo não está fazendo sentido nesse cálculo”.

Mariene de Castro insiste em manter a chama do samba acesa. Foi através do seu “trabalho de formiguinha”, como ela mesma diz, que se tornou uma cantora popular. A sua luta faz jus aos caboclos de julho. E, se já chegou a vez de ouvir as Marias, Mahins, Marielles, malês, é hora de ouvir Mariene também. Mas, com cada vez menos espaço no Carnaval de Salvador, haverá um sambista mais novo para não deixar o samba acabar?