Ferramenta já bloqueou 20 mil mensagens abusivas nas redes sociais, no Mundial do Catar, realizado no fim do ano passado

Foto: Divulgação/Fifa

Por Grace Ketly Barbosa da S. Lima

No mundo capitalista em que se vive, informação é poder e, atualmente, estamos sob um regime no qual o processamento de dados por inteligência artificial produz, também, essa informação. As mídias sociais são uma ferramenta poderosa para as federações, equipes e atletas. Com o advento das redes e a reformulação da mídia tradicional, o engajamento com os torcedores nutre conexões mais diretas. Tais conexões são vistas como uma forma mais autêntica de comunicação e desbloqueiam uma infinidade de possibilidades comerciais, principalmente em tempos de Copa Do Mundo.

No entanto, há um lado sombrio nas redes sociais que não se limita, apenas, ao mundo do esporte. Dentro desse regime infocrático, as pessoas se empenham por maior visibilidade, independentemente de como seja, e, por isso, grandes plataformas podem ser palco de abuso, situação que se agravou com as recentes mudanças no Twitter, o que levou alguns atletas a deixarem o serviço, alegando que sua saúde mental e desempenho estavam sendo afetados. Enxurradas de comentários abusivos e negativos são disparados, constantemente, dentro das redes, devido à liberdade de comunicação ilimitada e à falsa sensação de anonimato.

Muitos órgãos estão tomando medidas para proteger os atletas. No recente torneio de tênis Grand Slam de Roland Garros, os organizadores forneceram acesso gratuito ao software de monitoramento de mídia social Bodyguard AI.

A FIFA foi um desses órgãos que se mostraram preocupados com ofensas realizadas em redes sociais. Em parceria com o o sindicato mundial dos jogadores, criaram, para Copa do Mundo do Catar, uma tecnologia que, também, está sendo utilizada na Copa do Mundo Feminina de 2023: o SMPS (Serviço de Proteção de Mídias Sociais, na sigla em inglês), que busca proteger os atletas de discursos de ódio e discriminação durante o evento.

Foto: Catherine Ivill

Como Funciona o SMPS?

A entidade tomou a decisão de criar a ferramenta após comentários ofensivos  identificados em redes na Euro 2020 e na Copa Africana de Nações 2021. Utilizado, pela primeira vez, na Copa do Mundo do Catar, 300 mil comentários foram bloqueados automaticamente. Na varredura realizada no relatório divulgado no último dia 18 de Junho pela FIFA, mais de 20 milhões de postagens e comentários nas redes sociais: Facebook, Instagram, TikTok, Twitter e YouTube foram analisados.

Segundo o documento, um total de 286.895 comentários foram ocultados do público antes mesmo que o usuário final ou seus seguidores vissem o conteúdo. A FIFA informou que mais de 300 pessoas foram identificadas e que irá compartilhar todas as informações com autoridades para que os responsáveis sejam punidos.

“O futebol tem a responsabilidade de proteger os jogadores e outros grupos afetados em torno de seu espaço de trabalho. Portanto, a FifPro [Federação Internacional de Jogadores de Futebol] e a Fifa continuarão sua colaboração e prestarão o mesmo serviço na Copa do Mundo Feminina da Fifa, na Austrália e na Nova Zelândia. Mas não podemos fazer isso sozinhos, precisamos que todas as partes interessadas façam sua parte, se quisermos criar um ambiente mais seguro e melhor para o futebol”, afirmou o presidente da FifPro, David Aganzo, em coletiva de imprensa para divulgação do relatório.

Foto: Catherine Ivill/Getty Images – O pico de ataques virtuais ocorreu no jogo entre França e Inglaterra, pelas quartas de final do Mundial 2022

 

Mas como a tecnologia funciona? A ferramenta é ofertada pela Fifa, e as equipes que concordaram em implementar o serviço terão uma Inteligência Artificial que atua na moderação de conteúdos ofensivos. Após identificar a violação, as equipes terão uma moderação imediata dos conteúdos ofensivos e comentários abusivos em que a Inteligência identifica o assédio ou violação de políticas da rede. Uma vez identificada a violação, a ferramenta trabalha na ocultação do comentário antes mesmo de os usuários visualizarem.

Os comentários abusivos também têm ocorrido, com intensidade, contra atletas mulheres, fato que chamou atenção durante a Euro Feminina 2022, quando foram registrados 290 ataques, sendo que quase um quinto de todas as postagens  incluíam abuso sexista. Para o Torneio que está acontecendo na Austrália e na Nova Zelandia, a entidade prometeu adaptação do serviço para as atletas.

Com informações de Terra, ESPN, BBC, UOL e Globo.

Texto produzido em cobertura colaborativa da NINJA Esporte Clube