Foto: arquivo pessoal

A família da brasileira Eduarda Santos de Almeida, de 27 anos, que foi encontrada morta na Argentina na última quarta-feira (16) em um caso de feminicídio, está em campanha para conseguir resgatar o corpo da vítima e dos filhos que ficaram no país. Eduarda foi encontrada sem vida e com marcas de 9 tiros em uma trilha na região turística de Circuito Chico, em Bariloche, na Argentina. Fernando Alves Ferreira, o autor do crime, também brasileiro, confessou o assassinato e está preso.

Fernando mantinha uma amizade com a vítima no país argentino, com quem ele articulou para fazer uma “barriga solidária” e gerar os filhos de um casamento homoafetivo. Segundo conta o irmão de Eduarda, Wallace Oliveira, ela topou a “barriga solidária”, prática legal na Argentina, e gerou crianças gêmeas que foram registradas em nome de Fernando e seu parceiro, que hoje está falecido. Em novembro do ano passado, Eduarda estava no Brasil e voltou à Argentina a pedido de Fernando para resolver trâmites burocráticos em relação ao registro das crianças. À época, ela estava grávida e o bebê tem hoje dois meses de idade.

“Tem três crianças que ficaram na Argentina e que estão em situação de acolhimento”, disse Wallace, referindo-se ao bebê e aos gêmeos de 2 anos de idade. “Existe um um órgão, que seria nosso conselho tutelar, mas eu não consigo articular com eles. Eles não dão informação nem para o consulado. Tem três crianças a Deus dará”. Ainda segundo o irmão de Eduarda, o bebê de dois meses havia sido registrado com o nome de Fernando porque o pai biológico não quis assumir.

Uma vaquinha foi aberta para que a família pudesse custear todos os procedimentos para trazer o corpo de Eduarda e as crianças ao Brasil. “A gente vai ter que nomear um advogado lá pra abrir um processo pela guarda e pela questão do corpo, que depende de um juiz autorizar”, disse Wallace.

Em depoimento dado durante audiência com Fernando, o autor do crime afirmou que matou Eduarda para se proteger. A partir das declarações, os promotores do caso chegaram a levantar a suspeita de que Fernando exercia violência de gênero pois ele abusava psicologicamente e “financeiramente” de Eduarda durante anos, “aprofundando assim a situação de vulnerabilidade em que se encontrava a vítima”. Fernando argumentou que a vítima estava sem trabalho, desamparada e sem parentes. O argumento é contestado pela família de Eduarda e visto como estratégia de defesa do assassino pela guarda das crianças.

“A defesa quer associar a minha irmã a tráfico de drogas, mercado de prostituição, dizer que não tem família. Como a gente sabe, é uma estratégia muito usada nos crimes de feminicídio”, disse Wallace, reforçando que os periódicos argentinos têm colaborado na construção deste perfil da vítima, que não é verdadeira e poderia influenciar a interpretação jurídica do caso. “Eduarda tinha dupla cidadania, tinha vínculo empregatício em Bariloche (Argentina) e era marinheira com carteira de habilitação no Brasil”. Inclusive o termo “barriga de aluguel” também é contestado pela família de Eduarda, porque daria a entender que havia uma negociação financeira na relação.

Preso após confessar o assassinato, Fernando foi acusado por crime de “homicídio agravado por feminicídio com uso de armas” durante a audiência de acusação realizada na manhã desta sexta-feira (18).

Feminicídio | Brasileira é assassinada em trilha na Argentina